Opinión

Morin e a complexidade

O 8 de julho chega ao seu centenário Edgard Morin, um dos maiores e mais originais pensadores atuais; um “pensador planetário”, como o qualificou Alain Touraine. Numa entrevista recente, comentava que cada aniversário é como um morrer ao passado e renascer a algo novo, ainda com os cem anos. Há muito que tenho fascinação pelo pensamento, o compromisso e a coerência de Morin. Tive ocasião de ter uma rica relação epistolar com ele há uns anos; a correspondência rematou um dia com uma singela despedida, após dizer “je suis très fatigué”; eu compreendi e desculpei ao nonagenário. Uniu-nos também o reconhecimento de outro dos maiores pensadores do século XX, Raimon Panikkar, com quem mantive uma grande amizade até a sua morte. Morin –sociólogo, científico, pensador e home mediático– é o pai do pensamento complexo, relacional, total, que quer “conectar as verdades dispersas e as verdades antagónicas” –com as suas mesmas palavras–, uma “dialógica cognoscitiva entre o certo e o incerto, o lógico e o meta-lógico”.

O pensar dialógico é um pensar em constante caminho (dia-logos) entre o simples e o complexo, para topar a relação total que há na realidade desde as origens: o tecido (complexus) único e inseparável dessa realidade. “Tudo está integrado, assumido, transfigurado... Pensar todos os fragmentos do nosso mundo actual para reuni-los num conjunto harmónico”, dizia Panikkar. Uma das mais conhecidas frases de Morin é que na vida temos que “aprender a navegar num oceano de incertezas a través de arquipélagos de certeza”, pois o universo não é um simples cosmos determinista, mas um caocosmos. Isto faz que o pensamento complexo seja transdisciplinar; quer conectar as diversas disciplinas do conhecimento na procura da realidade como um tudo interrelacionado; precisa dum conhecimento material e espiritual.

Cumpre reunir elementos das ciências empíricas, a filosofia, a religião, os mitos e os símbolos religiosos. Morin tenta construír un método que esteja à altura do desafío da complexidade, para superar o que chama “as cegueiras do conhecimento”.

Comentarios