Opinión

Mártires salvadorenhos

América Latina é desde há décadas terra de mártires, sobretudo na segunda metade do século XX, ainda que também nas duas décadas que vão deste. A última pessoa assassinada foi uma lideresa campesina colombiana que reclamava as terras para o seu povo: a médica Luz Marina Arteaga. Era o quarto líder sindical assassinado nesse país no que vai de ano, na sistemática aniquilação de líderes desde há anos. O seu corpo sem vida foi topado o passado 17 no rio Meta, no perigoso departamento de Casanare.  Na minha estadia em Colômbia, há anos, tive ali ocasião de acompanhar a uma comunidade indígena e aos campesinos. Os amigos da Corporación Claretiana davam-me a notícia, qualificando-a de "mulher forte, lutadora, solidária e uma luz potente", "mártir do Reino, testemunha evangelizadora, servidora dos pobres".

Ao remate da semana passada foi a beatificação na catedral de San Salvador de quatro mártires. Três deles, salvadorenhos, foram assassinados em 1977; três anos antes de que Mons. Óscar Romero fosse igualmente assassinado a tiros dizendo Missa, como lhe sucedeu ao quarto, um franciscano italiano assentado no Salvador. Os assassinados no 77 e agora beatificados –passo prévio na Igreja para a canonização– foram o jesuíta Rutilio Grande e dois campesinos que o acompanhavam: Manuel Solórzano, um velho de 70 anos, e Nelso Lemus, um moço de 15. O assassinado no 1980 foi o franciscano Cosme Spessotto.

O P. Rutilio e os outros dois leigos foram assassinados quando iam celebrar uma novena com uma comunidade cristã. O seu coche foi metralhado no caminho por um dos esquadrões da morte. Óscar Romero disse de Rutilio Grande no 1º cabodano do seu passamento que era um "irmão dos pobres" que soube encarnar-se com os campesinos, "onde Cristo é carne que sofre". E Mons. Escobar Alas diz numa carta pastoral, 45 anos depois: "Morreram vítimas do pecado de idolatria ao poder e à riqueza dum grupo da elite política e empresarial do país".

Sem dúvida, quatro testemunhas do Cristo libertador no século XX. Como os primeiros mártires cristãos, o seu sangue é semente dum cristianismo vivo nos seus países.

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