Opinión

Lino e Prisciliano

A semana passada celebramos o XXIV Memorial Ibán Toxeiro, no qual este ano fez ACAB uma merecida homenagem in memoriam a Lino Braxe (1962-2020). O cheio manifestava o carinho pela figura e a obra deste bom amigo. Conhecido sobre tudo como dramaturgo, Lino sentia-se ante tudo poeta. Mas, ademais de escrever uma importante obra dramática e poética, como quedou claro no Memorial do Rosalia, Lino era um reconhecido actor e director de teatro, locutor de rádio, artista plástico... e incansável dinamizador da vida cultural galega.

Porém, o que não apareceu ali, nem em artigos como “As mil caras de Lino Braxe” (Nós, 9/11/21) e outros, nem sequer na sua entrada na Wikipedia, foi uma obra sua que infelizmente semelha que poucos conhecem; um romance sobre Prisciliano: Muerte a Sofía. Escreveu-a com Emilio Rey, e publicarem-a com o pseudónimo Rex Linum no ano 2017, como livro electrónico-Kindle em Amazon. Dixe-lhe no seu momento quando ma enviou, que essa forma de publicação não me parecia a melhor para dar a conhecer a obra; de feito, passou desapercebida, salvo algumas entrevistas em jornais,  mesmo para os seguidores de Lino. Eu mesmo, possivelmente, soube dela pela amizade com Lino e pela relação com ambos os autores no interesse por Prisciliano, e porque sabia que andavam de há tempo com um possível guião cinematográfico sobre a figura do grande personagem.

Prisciliano é a figura central do romance. Um “canto à desaparição da cultura clássica greco-latina –diz Lino numa entrevista em La Región, 13/07/2017–  a mãos dum fanatismo não ilustrado e um canto a um Deus severo e vingativo... A Igreja, ao igual que fizera Roma com a cultura grega, vai-o reconverter para si”. O contexto da obra é a convicção de que Roma não será o mesmo após o concílio de Niceia (325), no qual a Igreja porá os piares da instituição religiosa que se manteve até hoje, com a unificação do poder político e religioso com Constantino e o seu filho Teodósio. Da mão de Higínio de Córdoba, Juliano o Apóstata e, sobretudo, de Prisciliano, quer dar-se a conhecer esse século que, segundo os autores, cambiou o mundo. Um bom romance que cumpre conhecer e seria bom que visse a luz em papel.

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