Opinión

Küng

O passado dia 9 morria Hans Küng, um dos teólogos católicos mais relevantes do século XX; muito conhecido mesmo fora do âmbito da teologia como intelectual crítico na Igreja, teve uma grande projeção social pelo seu esforço de fazer uma teologia cristã aberta às demais religiões e ao mundo moderno secular. De cada um dos seus muitos livros venderam-se milheiros de cópias em mais de 25 línguas pela sua originalidade, clara e inteligente, de abordar os temas religiosos, éticos e sociais, convertendo-o num profeta do nosso tempo; foram lidos não só por teólogos e padres, mas também por muitos laicos. Vão desde o primeiro, com o tema religioso-ecuménico da justificação ou salvação pela fé, La justificación. Doctrina de Karl Barth y una interpretación católica (1960), até o último, de tema ético-social, Una economía decente en la era de la globalización (2019). Passando por best-sellers como Ser cristiano, ¿Existe Dios?, ¿Vida eterna? ou Proyecto de una Ética Mundial. Sem esquecer o polémico Infalible? Una pregunta (1971), que o levou a um processo de Roma que rematou com a suspensão da sua habilitação como professor de teologia católica em 1979.

Nas suas Memorias, publicadas em três grossos volumes que tive ocasião de ler nestes dias, fala da sua vida intensa, movendo-se constantemente por todo o mundo fora da sua Suíça natal e a Alemanha onde exerceu o labor docente, as suas apostas, a acolhida da gente e os conflitos com as hierarquias eclesiásticas.

Nas primeiras páginas do I volume (Libertad conquistada) diz: “O meu esforço constante foi duma liberdade conquistada na luta”. Nos seus anos de estudante, lendo a Sartre compreende que: “A liberdade constitui a essência ou a existência do homem”. Logo, no II volume (Verdad controvertida), diz: “O meu desejo é elaborar uma teologia cristã e, à vez, ecuménica, no mais amplo sentido da palavra”. E também: “Desde há tempo vejo o cristianismo desde a ótica dum duplo debate: com os humanismos seculares e com as grandes religiões mundiais”. E diz também com razão: “O meu sonho é sonhado por muitos, a visão dum cristianismo reconciliado, a paz entre as religiões, uma autêntica comunidade de nações”. Obrigado, amigo Hans.

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