Opinión

Igrejas e guerra em Ucrânia (I)

A guerra em Ucrânia segue a golpear cada dia as nossas consciências. Além da utilização que USA e os países europeus façam dela, a realidade das casas destruídas, dos milhares de homens, mulheres e nenos mortos ou feridos e os milhões de refugiados que fogem, é o que mais me preocupa. Fossem as causas que fossem, isto é uma invasão, como a que fez há anos USA em Irake; se daquela o responsável máximo foi Bush, nesta foi Putin. Para os que queremos ser gente de paz e pensamos que o rejeitamento da guerra tem que ser sempre rotundo, não pode haver mais que um não a esta guerra e à escalada bélica com o envio de armas.

Resulta-me ainda mais grave que em nome do cristianismo volte a haver posturas que justifiquem a guerra, como aconteceu aquí num passado vergonhento. Agora é a Igreja Ortodoxa russa, com o patriarca Kiril de Moscovo à frente, a que apoia à invasão de Putin a Ucrânia.

Putin dissera que o seu objetivo era “proteger a gente da região de Donbás, vítima dum genocídio”, e “defender os fiéis e clérigos ortodoxos ucranianos que pertencem ao Patriarcado de Moscovo”. O 49 % da população ucraniana declara-se cristã-ortodoxa; mas estão em três igrejas: o Patriarcado de Kiev, o de Moscovo e a chamada igreja “autocéfala” nacional de Ucrânia. O presidente russo chegou a dizer que as autoridades ucranianas “converteram a divisão da Igreja num instrumento da politica do Estado”. Pelo que a sua “guerra de libertação” tem mesmo razões religiosas (!); isto fez que fora bem acolhida por grande parte dos cristãos ortodoxos russos do Patriarcado de Moscovo.

Porém, não foi assim por parte de todas as igrejas ucranianas, que condenaram a invasão russa –mesmo a subordinada a Moscovo–, e por parte dos outros patriarcados ortodoxos, das igrejas protestantes e da Igreja Católica Romana. Todas pediram ao patriarca Kiril que reconsiderasse a sua postura, pois era injustificável. Contudo, muitos católicos estamos a pedir ao papa Francisco uma condena mais rotunda, ainda que isto lhe suponha problemas com o Patriarcado de Moscovo.

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