Opinión

García de Dios

Joaquín García de Dios foi um jesuíta mui aprezado na sua cidade da Corunha, onde tinha muitos amigos, entre os quais me topava. Sobretudo nos últimos quinze anos compartimos muitas gratas conversas e esteve na nossa casa, com Christina e mais eu. Tem apresentado na cidade alguns dos meus livros; um deles no centro Fonseca dos jesuítas, mas o último deveu de ser em Portas Ártabras por não ser grata já a minha presença naquel. Lembro com emoção as suas palavras quando lhe pedi que, apesar disso, participasse na apresentação: "Por ti, o que queiras, como queiras e onde queiras".

A nossa amizade vinha de velho; sobretudo a raiz duma entrevista que lhe fizera no 1990 para Irimia. Daquela faláramos da sua grande obra Padres y maestros; un projecto educativo renovador para os mestres e para os pais e uma revista na qual publicou mais de cem artigos entre 1967 e 2005. E falamos também de música para nenos. Porque Joaquín, ademais de ser un bom mestre, um bom pedagogo e um bom acompanhante, era um bom músico com discos de éxito como 'Pasito a pasito' e esse ano vinha de publicar 'Anainas', também com um grande sucesso; eram os tempos de "Cantareliña", da qual haverá que falar noutra ocasião. 'Anainas' era um disco com doze cantigas de berce; a música e a maior parte das letras eram suas, mas na versão galega de Marica Campo, que lhe fez também alguma original tremendamente actual: 'Cantiga de berce para um neno da guerra'. Joaquín estava muito agradecido à grande poeta, porque "uma cantiga de berce é infinitamente mais cantiga de berce em galego que em castelhano", como me dissera. Ainda que habitualmente publicava em castelhano, esta não era a única publicação em galego, pois tinha vários artigos em Encrucillada.

Porém, no funeral da passada semana na igreja dos jesuítas da Corunha não houve uma palavra em galego, nem sequer se ouviu alguma das suas maravilhosas cantigas de berce, ainda que sim soaram outras em castelhano. A nossa língua esteve totalmente ausente, como é habitual nesta igreja e nas do resto da cidade. Essa é a triste realidade duma Igreja que está em Galiza, mas não é galega. Uma longa luta que semelha estar perdida.

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