Opinión

Egéria e Prisciliano

Viu a luz há uns meses um novo livro sobre Egéria (Eu son Exeria, Marisa Vidal) a primeira escritora galega, autora da Peregrinatio ad loca sancta, que Castelao põe ao começo da Santa Companha dos Imortais Galegos com Prisciliano. O que mais me surpreendeu do livro foi não ter em conta o peso da sua relação com Prisciliano, quando a estas alturas da investigação histórica semelha quase impossível compreender Egéria e a sua peregrinação sem o movimento priscilianista.

Assim o manifestei há anos no meu Prisciliano na cultura galega (2010, 2012 e 2019), na ponência 'Arredor de Prisciliano e Exeria. A xénese do pensar galego' ('O pensamento galego no ensino', 2011) ou no artigo 'As mulleres no priscilianismo e no monaquismo altomedieval' (Grial 196). Já falaram disto galegos como E. López Pereira e o bispo U. Romero Pose, mas eu sou mais rotundo nas conclusões. E fazem-no claramente Margarida Barahona e Victoria Armesto, que qualifica Egéria como "o único rosto priscilianista que conhecemos", (Galicia Feudal).

As datas da viagem de Egéria –as mais prováveis são entre 380-385, nos últimos anos de Prisciliano– e o seu lugar de origem (Gallaecia) justificariam a relação entre ambos; e esta viagem seria muito difícil sem pertencer aos círculos priscilianistas, possivelmente motivada pelo mesmo Prisciliano. Mas há outros dados que Egéria reflete no seu escrito que falam da mais que provável relação com as comunidades priscilianistas, dos quais tenho falado e recolhe o livro recente de A. Olivares, Las priscilianistas (2021).

Sintetizando: a) Egéria escreve às irmãs (sorores) duma comunidade religiosa do tipo das que promoveu Prisciliano. b) Põe particular interesse em topar textos apócrifos; particularmente o "Evangelho" e os "Feitos de Tomé", leitura habitual nos círculos priscilianistas pelo apreço que lhes tinha Prisciliano. c) Adverte estranhada que na Palestina não jejuam sábados e domingos, como adotavam fazer os/as priscilianistas na sua terra. d) E manifesta um interesse pelo ascetismo e ascetas promovido por Prisciliano, descobrindo que ali o praticavam homens e mulheres como aqui.

Egéria priscilianista? Semelha muito claro.

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