Opinión

Castelao e os padres

Nas últimas semanas deste 2020 do centenário da revista Nós e o centenário + dez do nascimento de Carvalho Calero, lembro que a este, a Nós e a algumas das suas personagens dediquei bastantes dos artigos nesta coluna; mas vejo que não dediquei nenhum à sua personagem mais popular: Castelao.

Tenho falado de Castelao em muitas publicações, particularmente duma faceta sobre a que se tem falado menos: a sua dimensão religiosa. Contrariamente ao que alguns têm dito e escrito, Castelao era uma pessoa fundamente religiosa, como tem dito ele mesmo: “Sempre fun fondamente relixioso, porque sempre coidei que a existencia de Deus era necesaria...; mais agora, aquí en París, adequirín a seguridade de que Deus existe” (Diario 1921, p. 56). Pero era fundamente crítico com a atuação pobre, quando não miserável, da Igreja galega. Um aspecto particular disto era a sua relação com os padres, e escreveu palavras muito expressivas a favor e em contra deles.

São conhecidas e certeiras umas palavras de Sempre en Galiza: “A Eirexa hespañola como forza era a menopausia defendida polo histerismo; como ideal era a miopía sen anteollos... Os cregos eran prófugos do sacho... agachaban os Evanxelios, bulrábanse das encíclicas e botaban das eirexas ó pobo traballador” (p. 196). Castelao reconhece o valor positivo dos Evangelhos e de algumas encíclicas papais como Rerum novarum de Leão XIII, defensora dos direitos dos obreiros a organizarem-se.

Mas escreveu também palavras em defesa de alguns padres que atuaram de jeito bem diferente na guerra: “O abade de Sta. Eufemia de Ourense, cando lle mataron os seus catro sobriños dixo: Se esta é a xusticia que se fai en nome da relixión eu racho a sotana. E rachouna” (Cadernos, A 23).

Ademais disto, é conhecida a amizade de Castelao com padres como Basilio Álvarez, abade de Beiro e lider agrarista, com o poeta Rei Soto, e com outros como os do Seminário de Estudos Galegos ou os padres e frades que faziam a revista galeguista e cristã Logos, na qual colaborou (Gumersindo Placer, Paulino Pedret, etc.).

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