Opinión

Carvalho e Otero no seu Epistolário

A passada semana celebrávamos o aniversário do passamento de Ricardo Carvalho Calero, que seguimos a ter mui vivo ainda que a Academia decidisse não dedicar-lhe também este ano das Letras. Nesta ocasião, Pilar Garcia Negro lembrava-o em A Corunha coas palavras de Blanco Amor: “Não deixemos morrer aos nossos mortos”.

Hoje quero faze-lo eu com umas linhas verbo dum aspecto pouco conhecido da sua relação com Ramón Otero Pedrayo: o seu riquíssimo epistolário. Já aludi a ele noutra ocasião nesta coluna: “Carvalho e Otero” (3/6/2020), dizendo que os dois grandes personagens tiveram uma grande amizade, manifesta na sua intensa relação epistolar ao longo de mais de quarenta anos, até pouco antes do passamento de Otero (1976). Vendo o epistolário, entendemos como Carvalho chama ao senhor de Trasalva “um grande e fertilíssimo epistógrafo”.

Como se lembra na “Historia dunha amizade”, que introduz a edição das cartas feita pela Academia, Carvalho conheceu a Otero o 24 de abril de 1927, na III Assembleia do Seminário de Estudos Galegos, em Compostela. O mocinho que ainda non cumprira os 17 anos quedou maravilhado pela oratória de Don Ramón: “Coidei que estava recitando um texto aprendido de memoria -afirmaria anos depois-...  A extraordinária riqueza de imaxes faziam verosímil tal impressão. Mais era falsa. Otero é um portentoso improvisador”. Em 1950 escreve-lhe Carvalho a Otero: “Teña por afervoadamente renovada a expresión do meu cariño e admiración de sempre”. Outro tanto reconhece Otero a respeito de Carvalho em numerosas ocasiões, como na dedicatória do seu livro sobre Marcelo Macias em 1949: “Pra Ricardo Carballo Calero, c’unha longa aperta de antiga e sempre renovada amizade”.

Deste epistolário dispomos de 165 cartas entre 1949-1974. Ainda que maiormente falem da sua vida, trabalhos e publicações, com frequência o tom é íntimo e familiar, mas sempre manifestam um apoio e uma cumplicidade mútua. Otero e Carvalho compartem o feito de serem “dois sobreviventes do galeguismo”, que se volvem a topar depois da guerra, como reconhece nas conversas com Pillado e Fernán Vello (1986).

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