Opinión

Assim as cousas

Com este título a minha intenção é a mesma que a da Susana Méndez, companheira de ativismo linguístico que recentemente publicou um artigo neste meio e que, intitulado com um berrante “o sinto”, tencionava provocar um calafrio no leitor. Eu, de certeza, não vou conseguir mas deixaremos sementes. 

Com este título a minha intenção é a mesma que a da Susana Méndez, companheira de ativismo linguístico que recentemente publicou um artigo neste meio e que, intitulado com um berrante “o sinto”, tencionava provocar um calafrio no leitor. Eu, de certeza, não vou conseguir mas deixaremos sementes. 

"Algumas pessoas, enquadradas na estratégia reintegracionista para a língua, tentamos mostrar que o castelhanismo não se reduz a “Castillo” e “Lexos”".

O tema é a correção. Se damos uma vista de olhos na história da língua aos chamados pola correção depararemos com diferentes focos. Saco e Arce, já em 1876, alertava de castelhanismos (hoje mais evidentes do que ontem) como castillo, cadenas, cielo ou conexo. 

Em 1890 o escritor Martelo Paumán dirigia a mira telescópica contra os vulgarismos: probe, eiquí, treidor, corenta, siñor...

Nos anos 1970, o ILG (responsável do modelo institucional da nossa língua) publicava o manual Gallego 3 onde nos acautelava de lusismos como: achar «atopar» xornal «diario» «periódico», termo «término», diabo «diablo», xanela «ventano», isolado «aislado», só «soio», garavata «corbata», liberdade «libertade», ate «hastra», paixón «pasión», comezar «comenzar», estrada «carretera», coñecer «conocer», cidade «ciudad». 

Já nos anos 80, com o uso da língua nas instituições (administração pública, escola, mass media, partidos políticos...) tem-se multiplicado como nunca um tipo de falante episódico que tem como língua central o castelhano e periférica o galego. De aí surgem “o sinto”, “estos dias”, “por elo”, “convinte” e outras criações de natureza similar.

E o século XXI? 

Algumas pessoas, enquadradas na estratégia reintegracionista para a língua, tentamos mostrar que o castelhanismo não se reduz a “Castillo” e “Lexos”. É importante não esquecer que o castelhano e a nossa língua são muito próximas, e muito mais a variedade galega. Está parecença provoca que o castelhanismo não se revele a olho nu na imensa maioria das ocasiões. 

"Por enquanto, o rei (o castelhanismo) ainda não está despido, Será o contacto crescente com as outras variedades da nossa língua e as pessoas que as usam as que nos tirem a venda dos olhos".

Sirva como exemplo um dos exercícios que fago com os meus alunos de português na EOI. Coloco uma série de palavras e frases e pergunto quais delas, apenas duas, não têm interferência de castelhano. 

Folga sindical, Pagar o pato, Morteiro (arma), Ao melhor chove, Rueiro (mapa de ruas), Canastra (Basquetebol), Dia livre, Assim as cousas. 

Podes ver a solução nesta nota a rodapé1. Como foi? A verdade é que é raro  alguém acertar, o que não admira: o instinto não dá assim para tanto. Será a comunicação e a interação a que nos ajude a resolver estas desafios e isto vai suceder no século XXI, de facto, já está a ocorrer agora a pequena escala. Por enquanto, o rei (o castelhanismo) ainda não está despido, Será o contacto crescente com as outras variedades da nossa língua e as pessoas que as usam as que nos tirem a venda dos olhos.

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1.-Pagar o pato. Morteiro (arma).

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