Opinión

Resultado das provas ABAU

Este ano trabalhei pela primeira vez como professora no ensino secundário, depois de 16 anos a trabalhar na EOI. O meu destino foi o IES do Barral, em Ponteareas, e a especialidade pela que entrei foi português. No ano 2019 houve, pela primeira vez na história do ensino público da Galiza, concurso-oposição para essa especialidade. Devemos lembrar que foi em 2014 quando se aprovou por unanimidade no Parlamento da Galiza, a Lei Valentín Paz Andrade para o aproveitamento da lusofonia por parte da nossa comunidade. Pois bem, depois dessa oposição onde se convocaram apenas 4 vagas para toda a Galiza, começava a escrever-se uma nova página no nosso sistema educativo, outras comunidades da Espanha, como a Estremadura, já começaram a escrever esta página bastante antes.

Comecei a trabalhar como professora interina neste curso académico que acaba de finalizar e tive um horário completo de língua portuguesa. Lecionei em todos os níveis da ESO e em 2º de bacharelato, pois inspeção educativa não autorizou um grupo de português 1ª língua estrangeira em 1º de Bacharelato por serem só 9 aluna/os inscrita/os. As pessoas que eu encontrei em 2º de bacharelato eram muito heterogéneas, algumas mais das ciências, outras das artes ou viradas para as letras; algumas pessoas estudavam português desde o início do ensino secundário, outras levavam 2 anos e algumas delas escolhiam português 1º língua estrangeira pela primeira vez. Vamos contextualizar: em 2º de bacharelato os rapazes e as raparigas têm muito em jogo, é um ano definitivo que irá marcar as escolhas vitais mais iminentes, as notas médias são vitais para entrarem nalguns cursos com mais demanda, e o ano vê-se muito reduzido no tempo por causa das provas de acesso à universidade. Ainda assim, algumas pessoas chegam ao 2º ano de bacharelato e mudam de 1ª língua estrangeira, deixam de ampliar os estudos do inglês, majoritariamente, para começarem a aprender uma outra 1ª língua estrangeira. Que motivo os levou a fazerem isto?

Podemos pensar que o português é muito mais fácil que o inglês para um rapaz galego ou para uma rapariga galega, é óbvio! Só que estas pessoas estudam inglês desde que têm 6 anos, no mínimo, e agora têm 17. A questão é que estas pessoas alcançam o mesmo nível em duas línguas estrangeiras, investindo 11 anos de estudos numa delas e apenas 1 ano de estudo na outra. Porque sim, o nível de língua, que está marcado a nível europeu no Quadro Comum Europeu de Referência, é o mesmo. Quem obtém um nível B1 ou B2 numa determinada língua deveria ter exatamente o mesmo nível linguístico que outra pessoa que também obtém um B1 ou B2 numa outra língua estrangeira. Com isto pretendo dizer que os conteúdos que se explicam em 2º de Bacharelato em português são equivalentes aos que se ensinam em inglês, com a diferença do tempo que se lhe dedica ao estudo de uma língua e da outra.

Pretende este texto ser uma cruzada contra o ensino do inglês? Nada mais longe! Onde devemos pôr o foco é no aproveitamento que como galegas e galegos podemos fazer da língua portuguesa. Uma vez que temos o ensino do inglês consolidado no nosso sistema educativo, qual é a razão de não abrirmos as portas ao ensino do português? É uma língua válida a nível internacional, por que continuamos a negar a possibilidade às nossas estudantes e aos nossos estudantes de aprenderem mais uma língua que lhes abre as portas a novos mundos, novas culturas, novos conhecimentos e novas economias?

Os resultados falam por si próprios, as notas alcançadas pelas candidatas e pelos candidatos nas provas ABAU na Galiza são excelentes. O exame a que estas pessoas se enfrentaram tem um nível de complexidade linguística igual ou superior à prova de inglês, e estas alunas e estes alunos tiveram muito menos tempo para preparar a tal prova. Elas e eles são o exemplo vivo da oportunidade que podemos dar à nossa juventude.

Parabéns a todas as pessoas que concorreram às provas de seletividade com português como 1ª língua estrangeira não só pelos vossos resultados se não também pela vossa coragem. Mudar o mundo é coisa de valentes e vocês deram um passo muito importante.

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