Opinión

Belén Esteban, presidenta!

Nos últimos dias estamos a assistir a um fenómeno bem eloqüente nas redes sociais. A emergência da candidatura madrilenha PODEMOS, liderada polo professor e tertuliano Pablo Iglesias Turrión, está a ser inversamente proporcional ao debilitamento e à progressiva invisibilidade dos movimentos populares nas redes sociais. 

Nos últimos dias estamos a assistir a um fenómeno bem eloqüente nas redes sociais. A emergência da candidatura madrilenha PODEMOS, liderada polo professor e tertuliano Pablo Iglesias Turrión, está a ser inversamente proporcional ao debilitamento e à progressiva invisibilidade dos movimentos populares nas redes sociais. Estou a ver com mágoa como algumhas pessoas que para mim eram referência política do movimento -e referência afectiva-, repentinamente, estám a deixar de aportar o caleidoscópio de recursos, ideias, ferramentas e estímulos que os caracterizavam, em aras dumha dinámica hegemonizada pola sacralizaçom da maldita -ou bendita- candidatura eleitoral. E digo eu, para que tanta sacralizaçom, tanta justificaçom, tanta propaganda, tanta retórica machacona? Entristece-me ver a potencialidade genial destes companheiros reduzida a um labor propagandístico que a lógica militar da política representativa demanda. Nem umha análise interna, nem umha veleidade autocrítica: todas as críticas som para as demais: para as que trollean, para quem nom concordam, para quem, como as CUP, duvidam no destino que já lhes foi marcado. Como a estas alturas podemos seguir a jogar a ser deuses? Estamos ante umha aposta obscena, profundamente eleitoralista, de conseqüências nefastas para a democracia radical, para a participaçom política, para o bem comum e para os valores que encarnam os movimentos sociais. 

"A emergência da candidatura madrilenha PODEMOS, liderada polo professor e tertuliano Pablo Iglesias Turrión, está a ser inversamente proporcional ao debilitamento e à progressiva invisibilidade dos movimentos populares nas redes sociais".

Esta lógica, de continuar, fará que a presença directa nas redes (e na esfera pública) dumha multitude de iniciativas sociais de base seja, pouco a pouco, engulida, digerida e neutralizada polo aparato de propaganda da nova e messiánica candidatura às europeias. A actividade de Afectad@s pola Hipoteca, dos colectivos de base ou as distintas iniciativas feministas, por exemplo, irám perdendo referencialidade ante a lógica militar que impóm a política representativa. Mais umha vez, as missérias da política representativa. Para que escuitar às vizinhas do Gamonal? Nom, Pablo Iglesias falará por elas, falará em nome delas. E as afectadas polos planos de mega-minaria? Essas, directamente, nom existem. Se alguem nom o crê que vaia dar umha volta polos despachos dos politólogos de Somosaguas e que pergunte por Corcoesto. Nem o sabem nem lhes importa. Um conto repetido. A própria origem e gestaçom da candidatura, por mui aberta e indefinida que se pretenda, tém as cartas marcadas. Nom é fruto dum processo participativo, desde abaixo, que reflicta um empoderamento do comum. Segundo parece (e digo segundo parece porque à maioria das que nom estamos na "alta política" nom podemos ter certeças sobre o processo) os promotores da iniciativa tocarom previamente a Ada Colau para que liderara o processo. Mas Ada Colau, que deve ser umha mulher inteligente e revolucionária, decidiu dizer que nom, decidiu nom atraiçoar à sua gente e nom abandonar o processo de contrapoder e empoderamento que encarna a PAH. Os focos e as câmaras nom lhe fisserom perder a cabeça. Nem o coraçom.

O de Pablo Iglesias é outro cantar. Procede da política clássica e isso nota-se. Nota-se nas maneiras caudilhistas de levar o programa televissivo madrilenho La Tuerka e outros projectos audiovisuais. Nota-se na conceiçom que tém do Poder. Atendamos às suas palavras: "Es duro de tragar, pero ningún proyecto político puede construirse y perdurar sin el respaldo de dispositivos capaces de asegurar el uso de la fuerza cuando sea necesario (...) Los que aspiramos a una sociedad más justa necesitamos tener a nuestro lado a hombres, y también a mujeres, armados, preparados y disciplinados” (!) Que queredes que vos diga, para mim essas nom som palavras dum companheiro, dalguém que te olha e se reconhece em ti como um igual. Som palavras próprias de quem se auto-outorga umha posiçom transcendente para a que os demais nom fomos destinados. Terá sangue azul? 

"Pouco importava construir umha mentira -a suposta Syriza galega- os meios justificam o fim. E o fim, claro está, era duplo: abrir um espaço de poder institucional na Galiza para a esquerda espanhola e, simultaneamente, tratar de afundir a auto-organizaçom"

A Pablo Iglesias via-se-lhe vir. Nom é casual o seu salto, hai alguns messes, às televissons generalistas (Intereconomía incluía). Era umha etapa calculada na carreira política a realizar. E sinto-o se alguém lhe parece umha falta de respeito. Os seus amigos nom gostarám do que estou a dizer, mas é o que penso honestamente. Pablo Iglesias é um político convencional, puro e duro. Nom digo que nom seja honesto ou que esteja a mentir, seguramente fará as cousas como melhor crê, e poderemos gostar do que diz, poderemos identificar-nos, mas olho, partilha a mesma conceiçom do Poder que está presente nas dinámicas da velha política. Demonstrou-no, sem nengum rubor, como asessor de IU nas passadas eleiçons galegas: pouco importava construir umha mentira -a suposta Syriza galega- os meios justificam o fim. E o fim, claro está, era duplo: abrir um espaço de poder institucional na Galiza para a esquerda espanhola e, simultaneamente, tratar de afundir a auto-organizaçom que a sociedade galega, como qualquer colectivo sujeito de direitos, precissa para poder existir. Operaçom que já fora pensada e posta em marcha messes atrás, de forma vergonhenta, pola Voz de Galicia. Pablo Iglesias jogou esse papel. Um papel que nom se atreveria a jogar em Euskal Herria, mas na Galiza sim era factível. O Poder sempre se ceba com os déveis. 

PODEMOS é umha candidatura profundamente sesgada no convencional. absolutamente conservadora na sua ontologia. Umha expressom mais do velho esquema trotsquista "as condiçons objectivas para a tomada do Poder estám dadas, o problema é a crise de direcçom revolucionária". Mas para isso está o Comitê Central. O Comitê Central de Machos Alfa da Ciência Política da Complutense, encarregados de cozinhar umha candidatura ao mais puro estilo ianqui, a centros de quilómetros da nossa realidade, cozinhada por umha camarilha de amiguetes, nucleada entorno dum liderazgo -nom legítimo como o que poderia encarnar Ada Colau-, mas no liderazgo dumha suposta estrela mediática: Pablo Iglesias, pura sociedade do espectáculo! 

"Voltam, mais umha vez, as maneiras cortesás, os ademáns centralistas, a reacçom jacobina na que Madrid erige-se como cabeça política, dirigente e pensante das periférias, exterior constitutivo do único marco de referência político possível"

Voltam, mais umha vez, as maneiras cortesás, os ademáns centralistas, a reacçom jacobina na que Madrid erige-se como cabeça política, dirigente e pensante das periférias, exterior constitutivo do único marco de referência político possível, o que já está instituido Por la Gracia de Dios. E expressado, por se ficava algumha dúvida, ao estilo lingüístico de UPyD, onde a língua comum fai inútil as outras, as aldeanas, as que nom existem: toda a sua produçom e suportes digitais estám integramente redactados em castelhano. E só e castelhano. Toda umha declaraçom de intençons. 

Enfim, veremos que percorrido tém esta iniciativa, mais é possível que seja um êxito eleitoral. De todas maneiras hai já demasiadas cousas que deixam entrever o seu carácter perversso: o  lançamento mediático nas plataformas do PSOE (Cuatro), a sua posta em cena, tam centralista, tam patriarcal, tam castelhana, tam populista -no liderazgo-, fam pensar que vai ser mais do mesmo. Ou pior. A fim de contas, alguém realmente pensa que vai mudar a correlaçom de forças sociais por lograr alguns escanos europeus cumha operaçom eleitoral baseada no lançamento dum lider mediático? Existe algum processo social real detrás? Só produzirá parálise e frustraçom. E menos poder e ferramentas para a gente. Terrível.

Na Galiza já temos a experiência da AGE. As mudanças sociais só som possíveis do micro ao macro, de abaixo a acima. Só assim -e nom antes- é possível um feedback. Que movam ficha os que queiram. Mas podem ir contando os estrategas da "Operación Coleta" coa dessafecçom dumha parte substancial de peons e peonas que já nom acreditamos numhas regras do jogo -mais velhas que matusalem- que alguns patriarcas insistem em reproduzir: nom estamos dispostas a que as nossas subjectividades e os nossos sonhos sejam sacrificados em aras dum xeque mate cuja lógica representativa volve deixar-nos fóra, no papel de espectadoras. Na rua hai sonhos em marcha que nom cabem nas suas urnas, hai sonhos tezidos de forma tam rebelde que será impossível converti-los em peineta e mantilha espanhola a luzir nos platós de televissom por, por...como se chamava? Belén Esteban?

Apaga a téle. Acende a tua mente.

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