Opinión

Todo es ETA?

O espanholismo de Madrid desenvolve uma estratégia de isolar a esquerda abertzal ao afirmar que "tudo é ETA". Nesta ficção...


O espanholismo de Madrid desenvolve uma estratégia de isolar a esquerda abertzal --esquerda nacionalista-- ao afirmar que "tudo é ETA". Nesta ficção, as 'tabernas do povo' Herriko Taberna financiam a ETA. O movimento pelos direitos dos prisioneiros políticos bascos Herrira é dirigido pela ETA. Os jornais Egin, Egunkaria, Apurtu e Ateak Ireki, são órgãos de propaganda da ETA. A organização juvenil Segi é a ETA dos pequenos. Os movimentos como o Herrira e o Tantaz Tanta é a célula radical encarcerada da ETA. Madrid só têm medo de uma coisa: da paz.

"Nesta ficção, as 'tabernas do povo' Herriko Taberna financiam a ETA. O movimento pelos direitos dos prisioneiros políticos bascos Herrira é dirigido pela ETA. Os jornais Egin, Egunkaria, Apurtu e Ateak Ireki, são órgãos de propaganda da ETA. A organização juvenil Segi é a ETA dos pequenos. Os movimentos como o Herrira e o Tantaz Tanta é a célula radical encarcerada da ETA"

Operación Jaque (1)

Esta quarta-feira a Guardia Civil prendeu 8 dos interlocutores do EPPK (sigla do Coletivo de Presas e Presos Bascos em Euskera) em Bilbau, Navarra e Guipúscoa, ordem emitida pelo Juiz Eloy Velasco da 6º Central de Instrução da Audiência Nacional. Na nota exposta pelo Ministro do Interior, Jorge Fernández Díaz, a razão para a detenção dos 8 membros do EPPK era que estes estavam a congeminar uma "reunião orgânica no interior das sedes dos advogados que são defensores da ETA" e que seria a única maneira de deter o único braço operativo da ETA".

No dia seguinte a Guardia Civil organizou uma rusga ao gabinete do senador do EH Bildu, Iñaki Goioaga, tal como ao de todos os advogados que trabalhavam com o EPPK. Mais uma vez o Ministro do Interior, Jorge Fernández Díaz, afirmava que todos os envolvidos na operação faziam parte de "um tentáculo da ETA que permitia controlar os presos e submetê-los à tirania" e que a decapitação desta direção seria uma das únicas formas plausíveis para neutralizar "uma das peças mais inflexíveis e radicais da estrutura orgânica da ETA". Para Madrid, tudo é ETA. O porta-voz do PP no Parlamento de Gasteiz (nome Basco da cidade de Vitória), Borja Sémper, afirmou que a operação de detenção de 8 ativistas políticos é a "consequência lógica da persistência" da ETA "em não dissolver-se" e se "não se dissolve, o Estado de Direito, como é lógico, tem que dissolver esta organização terrorista".

A Operación Jaque surge tres dias após 74 presos políticos bascos assinarem a Declaração de Durangoem que rejeitam a violência e se submetem ao novo cenário de paz no País Basco, ressalvando a não violação dos direitos dos presos, o fim imediato da Doutrina Parotcomo declarado pelo Tribunal Europeu de Direitos Humanos e o final da política de dispersão das presas e presos Bascos, repatriando-os para o País Basco. Quanto mais razoáveis são as propostas, mais os perseguem.

"A Operación Jaque surge tres dias após 74 presos políticos bascos assinarem a Declaração de Durangoem que rejeitam a violência. Quanto mais razoáveis são as propostas, mais os perseguem"

Contaminação: EPPK é a ETA?

Não, são coisas totalmente diferentes. No fogo cruzado da rotulação feita por Madrid que tudo é ETA, afinal de contas o que é o EPPK? O EPPK é um coletivo que serve de interlocutor das presas e dos presos bascos com a sociedade civil, de forma a promover um diálogo. Acusação? Serem porta-vozes do Coletivo de Presas e Presos Bascos, por terem assinado o acordo de Guernica (2) e defenderem essa ideia radical insensata de pedir a participação do Estado Francês e do Estado Espanhol no processo de paz.

Os detidos (3) que Madrid diz que fazem parte de uma célula radical da ETA fazem parte do grupo que foi formado em julho de 2012, cuja proposta visava facilitar a interlocução entre a Organização de Presas e Presos Políticos Bascos (EPPK) e a sociedade Basca. Têm como objetivo servirem como "embaixadores" daqueles que se encontraram, ou ainda se encontram, nas prisões do Estado Espanhol ou do Estado Francês. Querem ser as janelas das prisões para criarem pontes ao dar o apoio, seja ele legal, político ou psicológico aos presos e às suas famílias. São da esquerda aberzale? São. Mas a esquerda abertzale não é da ETA? Não. Mas afinal porque é que a questão dos presos políticos é tão importante?

"Acusação ao EPPK? Serem porta-vozes do Coletivo de Presas e Presos Bascos, por terem assinado o acordo de Guernica e defenderem essa ideia radical insensata de pedir a participação do Estado Francês e do Estado Espanhol no processo de paz"

A dispersão é deportação

A dispersão das presas e dos presos Bascos é uma antiga ferida aberta no País Basco. A estratégia da dispersão foi inaugurada há 25 anos pelo Estado Francês e pelo Estado Espanhol. No total são 521 presos que estão em 71 estabelecimentos prisionais no Estado Francês, Estado Espanhol, em Portugal, Inglaterra, Irlanda e no País Basco. Em médiaas famílias dos presos têm que percorrer por semana 1.223km, por mês 5.300km e por ano 63.599km para estarem 40 minutos na visita sem contacto físico, onde não é permitido um beijo ou um abraço sequer. Apesar de 75% da sociedade basca concordar com a expatriação dos presos, é a punição coletiva imposta pelo espanholismo.

A dispersão é como a deportação um instrumento de tortura coletiva imposta pelo Estado Espanhol. O EPPK é uma ameaça para o Estado Espanhol simplesmente porque são sensatos. No novo cenário político para a resolução do conflito Basco (em que a ETA renunciou à luta armada de forma unilateral) o EPPK pede a revisão da política penitenciária, do reconhecimento dos direitos humanos dos prisioneiros, e a possibilidade destes serem repatriados para o País Basco. Essa é a condição base para avançarem com o processo de paz. São propostas sensatas que são recebidas com o delírio da repressão indiscriminada.

"Em médiaas famílias dos presos têm que percorrer por semana 1.223km, por mês 5.300km e por ano 63.599km para estarem 40 minutos na visita sem contacto físico, onde não é permitido um beijo ou um abraço sequer"

Gota a Gota, somos mar

Este fim-de-semana, no dia 11 de janeiro foi convocada aquilo que pretende ser a maior mobilização da história do País Basco em nome da repatriação dos presos. O PP sugeriu ilegalizar a manifestação sobre o pretexto que é a ETA a organizar. O Juiz da Audiência Nacional, Pablo Ruz concedeu.

A Audiência Nacional solicitou a proibição da manifestação pelo direito dos prisioneiros bascos que foi convocada para hoje. No despacho emitido por Pablo Ruz, a forma que a manifestação convocada pela organização Tantaz Tanta (Gota a Gota em Euskera) é problemática "não pela sua finalidade" mas sim porque "é parte da estratégia de uma organização cujas atividades estão suspensas por serem de uma organização terrorista". Para Madrid, o Herrira, o EPPK e a ETA são tudo a mesma coisa. Estas pessoas não estão sob um comando da ETA nem são um tentáculo da organização armada. Trabalham para um cenário de paz que passa, evidentemente, pela repatriação das presas e dos presos bascos.

"Como durante décadas, o conflito no País Basco serve de cortina de fumo para os casos de corrupção entre o PP, governo e a família real. Num cenário de violência (mesmo inventada) a crise económica passa para segundo plano"

Madrid diz querer paz, mas quer mesmo? Tudo o que cheira a Basco, parece Basco, soa a Basco ou é Basco tem que ser da ETA. Como durante décadas, o conflito no País Basco serve de cortina de fumo para os casos de corrupção entre o PP, governo e a família real. Num cenário de violência (mesmo inventada) a crise económica passa para segundo plano. A deposição das armas pela ETA e um processo político de paz no País Basco não dá jeito nenhum à direita espanhola.

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(1) O nome da operação é a mesma daquela levada a cabo pelo Exercito Colombiano em 2011 da que resultou no resgate mediático de 15 reféns, incluisivé a Íngrid Betancourt, que estavam nas mãos da FARC. Coincidência?

(2) Apelo ao fim da luta armada por parte da ETA.

(3) Arantza Zulueta, Jon Enparantza, Aitziber Sagarminaga, José Campo, Egoitz López de Lacalle, Aintzane Orkolaga, Mikel Almandoz e Asier Aranguren.

((Artigo tirado de Esquerda.net))

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