Opinión

Do nacional-catolicismo à nacional magistratura (I)

A história do Estado espanhol pode e deve entender-se e descrever-se como o fruto duma colaboração estreita entre o poder econômico-político e o poder religioso e nunca como um poder político-econômico com um sector marginal que seria o religioso. O poder político e o religioso foram sempre como as duas caras duma moeda, que, por uma cara aparece como poder político e pola outra como poder ideológico-mítico-religioso. O poder político necessita sempre ser assumido pola cidadania, e uma das maneiras mais eficazes para lográ-lo é obter a benção divina da sua gestão dos assuntos públicos que os vice gerentes de Deus na terra se encarregam de fornecer. O poder religioso necessita as receitas necessárias para manter a ponto a sua imensa maquinaria ideológica, pois de responsos não se vive, que lhe procura o poder político. É totalmente falsa a imagem que alguns propalam duma divisão de competências entre dous poderes distintos: o religioso e o político. O poder político participou na definição dos principais dogmas do cristianismo, e na imposição da moral cristã, entre eles, por exemplo, o da divindade consubstancial de Jesus, carpinteiro e filho de carpinteiros, com o Deus pai, por parte do imperador Constantino, e o celibato sacerdotal com a decisiva intervenção de Justiniano no mundo antigo e de Felipe II na Idade Moderna; e o poder religioso susteve todos as políticas repressivas dos governos que contribuíssem generosamente a encher os seus cepilhos, por muito que tivessem conculcado os direitos humanos, como foi o genocídio de América e a ditadura de Franco, Pinochet,... Salvo na etapa do reino suevo sempre o poder religioso e o poder político marcharam ao uníssono.

A contribuição da igreja católica com o levantamento militar de 1936, declarando a sublevação contra a ordem estabelecida como uma cruzada, implicou para a igreja um ingente financiamento econômico e privilégios a eito em todas as ordens, ao que correspondeu a igreja levando ao ditador baixo pálio durante toda duração do seu dilatado régime e apoiando-o incondicionalmente, salvo nos seus derradeiros anos.  Entre os privilégios figuram as facilidades dadas polo régime de Franco para inscrever bens a seu nome, atuando os próprios bispos como notários, e as enormes isenções fiscais incluídas na concordata de 1953, sacralizada pola transição política de 1978, dum modo fraudulento e de costas à cidadania, e sem que os governos do período, fossem da UCD, do PSOE ou do PP, fizessem nada para corrigir esta anomalia democrática. Em 1998, o governo de Aznar concedeu-lhe à igreja a faculdade de inscrever a seu nome templos que foram incorporados ao patrimônio nacional em 1931, e como gesto de gratidão, a igreja, perante a insatisfação dos nacionalistas periféricos pola deficiente reestruturação do Estado espanhol, a desnaturalização dos estatutos de autonomia, já de por si cativos,  a centralização de competências e a carência de instrumentos para realizar as políticas que demandam os seus cidadãos, sai à palestra em 2006 para defender a unidade de Espanha como bem moral, e contra da autodeterminação dos povos, convertendo assim a sua defesa em suspeitosa de imoralidade.

Perante a falta de atualização da mensagem cristã fundamentada em textos arcaicos de faz quatro mil anos, com um deus cristão belicoso, zeloso, arbitrário, despótico e misógino, e uma vez que as ameaças do inferno, que dizem que é de enxofre fervendo, deixaram de surtir efeito e que já não pode recorrer ao terrorismo inquisitorial como fez a eito até 1834, a igreja está numa crise enorme e perdendo fiéis a mãos cheias, o qual implica que já não impera ideologicamente sobre a sociedade. Aliás, o incremento e disparidades das ideias que se transmitem a nível mundial e estatal faz que surjam novos campos em que cumpre atuar para procurar legitimar as próprias políticas. Surgem assim os enormes instrumentos de propaganda da própria realidade; para propalar as políticas a nível mundial, surge a Marca Espanha, mutada em 2018 em Espanha Global. Ambas entidades desapareceram com muita mais pena que glória. A nível estatal, incrementa-se a propaganda na mídia espanholista e bota-se mão da reserva dos seus corifeus, porta-vozes  doutrinários e tertulianos com a finalidade de afogar a dissidência.

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