Opinión

Desilusão com Francisco

Começa a estender-se o desânimo nos teólogos que se dizem progressistas sobre as reformas que esperam que o papa Francisco imprima na igreja, o qual é um indicativo claro de que puseram muitas mais esperanças nele que as que vem realizadas. Creio que lhe deram demasiada importância ao talante e certas declarações equívocas de cara à galeria do novo pontífice. Pola minha parte, sempre lhe manifestei a quem quis ouvir-me que não esperava quase nada dele, porque, ainda que quisesse fazer algo não lhe deixariam. Portanto, tenho que dizer que sim está cumprindo com as minhas expectativas porque sempre disse que com talante não se reforma uma instituição, ainda que sim pode criar um clima propício para afrontá-la. Para reformar uma instituição é preciso mudar a suas leis, para que mude a sua estrutura, e isso nada de nada até o momento.

A razão pola que tinha e tenho nulas esperanças em que o papa fizesse algo é porque para reformar a igreja necessita-se um ser super-humano, quiçá um ser divino, e estes ultimamente estão tão ocupados noutras cousas que nem sequer se dignaram comparecer para botar-nos uma mão sobre o coronavirus. Mas, tampouco estou decepcionado porque não o esperava. A razão pola que os clérigos –porque a igreja na realidade são os clérigos– não podem reformar a igreja é porque a igreja é irreformável. Neste sentido, passa-lhe, e ainda em maior grau, como à Constituição Espanhola, que também é irreformável e só um estalido social pode propiciar uma reforma, salvo os câmbios que se fazem para que os de sempre continuem a história de Espanha, em palavras de Lerroux. A Constituição da igreja está constituída polas escrituras, que elevou à categoria de inspiradas por Deus, e, consequentemente, perenes e imutáveis, e as definições dogmáticas dos concílios, também inspiradas polo Espírito Santo, todas feitas nem sequer polos clérigos em geral, senão pola sua elite dirigente que são os o papas e os bispos, que decidem ao seu bel prazer sem intervenção nenhuma por parte dos presbíteros nem dos diáconos, e não digamos já do povo em geral. Portanto, a igreja, na realidade são o papa e os bispos e os clérigos subordinados não pintam nada, por mais que o meu amigo Victorino pense que ele também fala em nome da igreja.

As grandes reformas imediatas que necessita a igreja nestes momentos são o reconhecimento igualdade da mulher, a opcionalidade do celibato clerical e da virgindade, a supressão da confissão privada com um sacerdote ou bispo e a aceitação dos valores da comunidade em que se insere. Ou seja, que se necessita que a igreja assuma duma vez os direitos humanos, tanto individuais como coletivos. Isto não se soluciona com declarações ocas e sem sentido como as feitas ultimamente por dignitários eclesiais de que a igreja se fez mulher, senão tomando as medidas legislativas precisas para propiciar o câmbio e desandar a via da imposição repressiva e obsessiva do celibato clerical, em que Espanha teve a triste sorte de ser a iniciadora decidida no concílio de Elvira de 306; a derrogação das disposições sobre o desapoderamento progressivo, tanto econômico como diretivo, da mulher e a sua subordinação ao homem tanto polas escrituras como polos concílios, e a administração ordinária da igreja, e a sua redução a ser servidora ou escrava do sistema em funções não retribuídas; a supressão da confissão privada ao confessor, que a igreja véu utilizando por vezes como instrumento de controlo da cidadania. Creio que se deveria pedir perdão por algumas medidas tomadas contra clérigos que conviviam pacificamente com as suas mulheres, das que foram separados violentamente pola igreja. 12O cânon 5 do oitavo concílio de Toledo, considerando que chegou aos ouvidos de todo o concílio que alguns sacerdotes e ministros se contaminaram quer com as suas mulheres próprias, quer com a imunda e execrável sociedade de outras, decretou que “as mulheres, sejam livres ou escravas, associadas a eles nesta torpeza, sejam totalmente separadas ou vendidas, de modo que jamais possam volver com os seus companheiros de delito; e se estes não quiseram emendar-se, sejam recluídos num mosteiro até o fim da sua vida, sujeitos inteiramente à disciplina da penitência”.

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