Opinión

Demografia e neoliberalismo

A Galiza caracterizou-se por uma emigração incessante duma camada de população em idade de trabalhar e procriar por não encontrar trabalho na nossa terra.

A Xunta de Galicia aprovou uma lei de impulso demográfico que pretende conter a hemorragia da perda de população constante na nossa comunidade. Em dezembro de 1981 alcançou-se um pico de 2.813.893 habitantes, e a partir de ai iniciou-se uma caída da população que baixa a 2.699.499 em dezembro de 2019, ou seja de 114.394 pessoas, que representam um 4,07 por cento durante esse período, que de persistir esta tendência à baixa minguará a população galega em 2033 até o nível de 1941, com uma perda de 138.799, com uma percentagem de caída de 4,93. Esta perda de habitantes foi persistente durante o governo de Fernández Albor, recuperou-se um pouco nos primeiros anos de Fraga, chegando a 2.825.020 em 1994, para volver à tendência à baixa terminando 2005 com 2.762.198. Recuperou-se significativamente com o bipartito PSOE-BNG, chegando a alcançar os 2.796.089 no 2009, e volveu à tendência à baixa com os governos de Feijó, que, com as suas políticas de austericídio lhe fizeram perder à Galiza 68.025 habitantes, sem que se olhe nenhuma esperança de melhora em caso de continuar com as atuais políticas. Na Espanha de Rajoy, a população decresceu no período 2012-2017, e começa a recuperar-se um pouco em 2018. Isto significa que as políticas de austeridade não foram exitosas e produziram uma emigração de trabalhadores, muito significativa no caso da Galiza.

A perda populacional, afetou tanto a Galiza como a Castela Leão, Astúrias, Estremadura, que contrasta com o incremento demográfico das demais CCAA e de Espanha no seu conjunto. A depressão populacional não se dá entre o Norte e o Sul, senão entre o Centro-Leste por uma parte e o Oeste pola outra. As CCAA deprimidas estiveram governadas tanto polo PP (Galiza e Castela Leão) como polo PSOE (Estremadura e Astúrias), durante longos períodos de tempo, mas isto de por si tampouco teria que ser a causa, pois também aconteceu no Pais Basco, Navarra, Catalunha, Andaluzia etc. A Galiza caracterizou-se por uma emigração incessante duma camada de população em idade de trabalhar e procriar por não encontrar trabalho na nossa terra, mas isto não é a causa, senão um sintoma de causas mais profundas, fundamentalmente econômicas: falta de tecido empresarial suficiente; deslocação de empresas; invasão de multinacionais que afogaram o dinâmico pequeno comércio de cidades e vilas e a depressão de autônomos como é o caso do sector do taxi, sob o falso pretexto de que criam postos de trabalho; afundimento do sistema financeiro galego; fracasso no desembarco de empresas forâneas como Pemex; uma política de preços do leite ruinosa para o nosso campo, obrigado a competir em desigualdade de condições; uma política empresarial que buscou competir a base de rebaixar os salários e precarizar o emprego; a eliminação dos direitos laborais dos trabalhadores etc., causas às que não se soube dar resposta nem desde o âmbito privado nem desde o âmbito público. Eis as causas do esvaziamento do campo e uma emigração forçada às cidades e ao estrangeiro de pessoas que podiam manter uma pirâmide populacional mais equilibrada. 

As medidas que anuncia a Xunta de Galicia de dar uma quantidade de mil e pico e euros, que ademais vai acompanhada duma retirada de serviços públicos do meio rural, como é o caso do paridoiro de Verim em aras de recortar gastos, a eliminação das oficinas de expedição de bilhetes no meio rural etc., não soluciona o problemas. Se se continua com as mesmas políticas neoliberais de austericídio e de drenagem de recursos das classes médias cara às grandes empresas, a Galiza seguirá pola pendente da sua própria depressão econômica e da consequente aniquilação como povo. Cumpre evitar a globalização selvagem do capital que unicamente busca amontoar mais capital e protegê-lo em paraísos fiscais; possibilitar que as empresas compitam em igualdade de condições, evitando que contendam com países com umas condições de vida e trabalho muito desiguais; terminar duma vez com os paraísos fiscais; que cada um pague em proporção aos seus ingressos; pôr em valor o sector agrícola e ganadeiro, que inverta o esvaziamento do nosso campo e dotar-nos dum sector energético respeitoso com o meio ambiente.

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