Opinión

Em lembrança de Araceli Herrero Figueroa, ( Lili)

Recibo com profundo pesar a má notícia da morte da nossa amiga e companheira Araceli Herrero Figueroa, não por esperada devido a informação privilegiada de um filho no Hula, menos dolorosa. Não pudo ressistir tantos dias na Uci tras o ataque do maldito coronavírus contraído numa cirurgia.

Fazia dez anos que não nos víamos e tudo seguia igual, como se fosse onte.

Os amigos e coetáneos chamábamos Lili a Araceli, como também lho chamava o seu professor D. Ricardo, -este concretamente Lili Ann-, de quem foi discípula, e discípula amada, sem dissimular, perto da que sempre se situava nas fotografias. Araceli escreveu nos últimos tempos, justo antes da doença, dezasseis páginas magníficas sobre Carvalho, para uma publicação da USC, da que fora ilustre catedrática em Lugo, titulada "Anos lugueses e tempos de Fingoi. Ricardo Carvalho Calero, professor, e filólogo, sobre o fondo gris na cidade murada", que ainda não sei se foi publicada, e que seria a sua obra póstuma e última, com tema compartido comigo, dentro de uma série de estudos e publicações sobre o seu mentor e diretor de tese, todas elas muito interessantes, especialmente as referidas ao teatro no Colégio Fingoi, do que fora aluna e participara como atriz e bailarina. Outros trabalhos memoráveis versam sobre Luís Pimentel ou o teatro de Cunqueiro. O último vídeo dela em Fevereiro de 2020 sobre D. Ricardo foi gravado no Parlamento de Galiza, na Biblioteca Carvalho. Que alheios estávamos de que seria o derradeiro! Ultimamente apareceram artigos em Nós Diário a ela dedicados.

Araceli publicou livros e participou em muitos encontros culturais e congressos dos que foi organizadora ou ponente, como o de Cunqueiro em Mondonhedo em 1991, no que tivemos a fortuna de estar ao seu lado. Ou naqueles congressos internacionais da Agal. Sempre simpática e faladora, -com uma peculiar pronúncia das sibilantes surdas-, meticulosa na documentação e culta, muito prudente e comedida em tudo; agora podemos dizer com liberdade funeral que alguns sempre admiramos a sua magnífica beleza feminina, por dentro e por fora, com honestidade amical. Dava sempre gosto vê-la ao lado, sorrinte e ocorrente. Convivemos com ela em Lugo nos anos oitenta momentos agradáveis quando era uma das primeiras professoras em aulas de galego, sempre bem assesorada pelo seu mestre D. Ricardo, muito exigente com ela, e também com os que começávamos a ensinar galego. Sabíamos muito bem qual era a doutrina lingüística a compartir, ainda que Araceli nos últimos tempos tinha algo esquecidas as ideias do seu professor e diretor de tese, talvez por cansaço numa luta inútil ante a burocracia estabelecida nas instituções ou por recomendação familiar de não meter-se em problemas.

A mim particularmente faziam-me muita graça os seus comentários humorísticos e levemente críticos sobre alguns intelectuais e persoeiros, não isentos de retranca azeda. Era boa conhecedora da personalidade de cada quem e muito inteligente leitora, com o qual a sua crítica literária era sempre valiosa e certeira. Distinguia bem a farinha do farelo, como demonstrou, porque não estava lá só por ser discípula de D. Ricardo, senão pela sua competência e valia pessoal, isso sim, bem ensinada pelo mestre. Entre outras virtudes que teve era muito boa amiga dos amigos e muito bem educada.

Que a terra lhe seja leve e a sua obra e memória perdure entre os lucenses.

Foto: Araceli Herrero, José Luís Rodríguez, Ramom Reimunde e Rábade

Araceli Herrero, José Luís Rodríguez, Ramom Reimunde e Rábade.

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