Opinión

Decálogo do caudilho democrático

1. Utilizar a palabra democracia em toda a ocasiom, sempre que possível, teimosamente, sem importar as medidas que adopte.

1. Utilizar a palabra democracia em toda a ocasiom, sempre que possível, teimosamente, sem importar as medidas que adopte.

2. Utilizar a palavra cambio* em toda a ocasiom, sempre que possível, teimosamente, sem importar as medidas que adopte.

"Utilizar a palavra cambio* em toda a ocasiom, sempre que possível, teimosamente, sem importar as medidas que adopte".

3. Acusar todos os adversários de “antidemocráticos”.

4. Apresentar-se como umha persoa normal, capaz de entender os problemas da gente, nunca como um político profisssional (por mais que tivesse passado os últimos vinte anos na política) e empregar sempre umha linguagem coloquial (de preferência trufada com palavras altissonantes, frases populares e duplos sentidos).

5. Vituperar umha e outra vez a política e os políticos e denunciar com violência as práticas corruptas do antigo regime (ainda que se tivesse formado parte dele).

6. Falar despectivamente do que “se decide” em México, ou em Lima, ou em La Paz, ou em Buenos Aires, ou em Bogotá, ou em Washington, ou em qualquer outra capital.

"Vituperar umha e outra vez a política e os políticos e denunciar com violência as práticas corruptas do antigo regime"

7. Arremeter contra os privilégios dos ricos (mesmo que em segredo se pactue com eles), defender a soberania em contra dos espúrios interesses estrangeiros (enquanto se fai negócios com toda classe de empresas transnacionais); e assinalar, de tanto em tanto, algumha tentativa golpista desenhada para deter o cambio*.

8. Apresentar-se como a única persoa no universo capaz de combater o crime e dar cabo da impunidade (apesar de pactuar em segredo com diferentes grupos criminosos ou proteger os seus subordinados ainda que conheça os seus actos delituosos).

9. Mandar para o diabo as instituiçons e assinalar a sua cumplicidade com os inimigos da democracia.

10. Prometer umha nova ordem legal que por fim recolherá a vontade democrática da naçom (ainda que em realidade procure apenas acrescentar o próprio poder) e de preferência exigir a aprovaçom dum novo texto constitucional.

Jorge Volpi, El insommnio de Bolívar, Debate, Barcelona, 2009, pp. 117-118 (traduçom minha).

*galego “mudança” (n. do t.).
            

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