Opinión

Ufano

Com aborrecimento sego forçadamente nestes dias o jogo medieval das propostas que apresentam ao monarca os representantes das crases populares, os súbditos, para que decida a quem sua soberana vontade concede a mercê de acometer as gestões necessárias para a hipótese de formar um governo. E com repugnância comprovo como pessoas que pelejaram durante semanas para obter uma representação popular adequada a seus propósitos, que deixaram no caminho incluso cadáveres políticos, submissos se oferecem para a escolha perante o rei que descansadamente desfrutava com os chances, dimes, diretes e desvarios dos que pulavam por conseguir votos no campo político, ou tal vez indiferente ao que ocorria entre os que brigavam nos mitenes e o povo, que já não sabia que fazer com seu voto, certo sempre de que já viram a contarem. E vão correndo a contarem, orgulhosos de ser recebidos, rendendo pleitesia e demitindo da sua própria importância que lhe outorgam os votos dos cidadãos e menosprezando aos próprios votantes que foi a eles aos que empoderarom.

Nesse teatro de vaidades que som os prêmios princesa de Asturias ou Princesa de Girona, pagados com os impostos dos habitantes de este Estado, que proceder a seu pago lhe custa a muitos deles suor, sangue, lágrimas e fome, onde, para desfrute da família real, uma nena de treze ou catorze anos, á que não se lhe conhecem especiais virtudes, discursea fronte a um auditório de sesudos intelectuais, políticos e aproveitados. Mas todos se prestam ao circo porque alguma vantagem tiram, ainda que só seja a vaidade de dar-se a ver.

Resulta-me pesado julgar. Existem monárquicos; não o entendo, mas existem. Gentes que ficam felizes de ver-se representados por uma família que vive á costa dos contribuintes sem retorno algum; que governam sem conhecer os sensaborões do dia a dia, da pobreza, da soledade, de como vive o comum da cidadania; que carecem de legitimidade; porque aqui o único “legitimado”, que se legitimou a si mesmo, substituíndo a duvidosa legitimidade das armas por um mais duvidoso “por la gracia de Dios”, foi o desapiedado ditador, depois este nomeou “a título de sucessor” ao agora emérito (miúda joia nos deixou), que já sua “legitimidade”(?) vem do pérfido ditador, pois não temos conhecimento de que este atuara como mamposteiro, mandatário ou representante de esse Deus gracioso que lhe fizo a “gracia”, é dizer, sucessor em próprio nome; não parece muito honesta a herança e menos quando lha disputou ao pai, que podia haver sido “sucessor a título de rey” como o filho; polo que tanto o que se aferra ao trono como os políticos que o sustentem carecem de legitimidade para conservar uma instituição medieval, obsoleta e rejeitada pola maioria da sociedade.

Por isso eu me sito hoje UFANO. Porque sou militante de um partido político nacional galego cujo representante, chamado ao fingimento e convalidação de um modelo de monarquia, negou-se a escenificar uma submissão a uma figura completamente alheia á nossa nação galega, pois os reis galegos ficarem mortos muito atrás, no remate da Idade Media.

Bem polo nosso representante e bem pola direção do BNG que de novo ratificou sua independência e nosso espírito republicano.

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