Opinión

Meu amigo Miguel

Lembrando a canção de Roberto Carlos (que interpretaria muito bem teu pai cantor) e lembrando aquele neno que apenas se tinha de pé e que já desde o inicio nos fixo sentir a todos como algo protetores; aquele neno que já desde os primeiros balbucios confirmavas a continuidade natural da língua galega como língua inicial dos sentimentos com que aprender a nomear o teu mundo; aquele neno polo que Maribel e mais eu deveciamos; aquele neno que cresceu, que foi um muito bom estudante, que assentou suas convicções e que não defraudou nossos sentimentos nacionalistas e entregou-se com paixão na defesa da dignidade da Galiza e na luta por colaborar para melhorar a vida do povo galego. Que mais podíamos esperar, tanto sua familia natural (á qual eu não sou alheio, ainda que só seja como tio putativo) como á ideológica ou politica?

Meu amigo, como podes tu ser terrorista? Quem te conheça como eu saberá que eres incapaz de fazer dano, que eres solidário, responsável e colaborador, disposto sempre a ajudar

O problema foi Miguel que de tanto deseixar ajudar aos demais esqueceste de ti; desprezaste os bens terreais que excederam do necessário para viver, consideraste a vida como antítese de mercadoria, não detestavas, simplesmente não compreendias o consumismo; renunciaste a fazer oposições (que levarias de rua e sem esforço) porque tu só entendias tua vida fazendo apostolado; despreciavas a propriedade que excedia ao que te podia ser necessário: foste feliz com tua bicicleta para acercar-te ao lugar de trabalho; sempre solidário, sempre entregado; realmente tu amavas, amas, a teus vizinhos como a ti mesmo ou provavelmente ainda mais. Para mim eras rediviva a parábola do bom samaritano que mostrava como o mérito da gente há de julgar-se polo seu comportamento real e não pola sua filiação religiosa, política ou opiniões filosofas que esquecem com frequência em épocas de crise, no melhor dos casos, ou na sua continua avaricia.

Eras incapaz de consentir integrar-te no “doce encanto da burguesia” no que, ainda com nossos ribetes revolucionários, ficávamos imersos teu pai e mais eu e no seno da que tu havias nascido. Renuncias-te a todo a cambio da tua liberdade, da igualdade e de fugir no papanatismo de acumular bens, riquezas inúteis e todo em excesso sobre o sofrimento e a pobreza de outros. Eu, que te quero muito, sentia inveja quando falava contigo, ainda que tiveras que suportar meu sesudos razoamentos sobre a necessidade de sair da dinâmica de solidariedade e apoio ao próximo para centrar-te algo mais nas próprias necessidades.

A legislação em matéria de terrorismo neste pais bate bastante com os direitos humanos e incluso constitucionais e sua aplicação ainda  é de mais duvidosa legalidade

Como era natural te convertes-te em um bom pai e agora que o futuro de teu filho te levou a pensar algo mais em ti me contam que te detiveram acusado de terrorismo, que levaram computadores nos que armazenavas todos os estudos e trabalhos realizados para o desenvolvimento de tua atividade professional . Meu amigo, como podes tu ser terrorista? Quem te conheça como eu saberá que eres incapaz de fazer dano, que eres solidário, responsável e colaborador, disposto sempre a ajudar. A legislação em matéria de terrorismo neste pais bate bastante com os direitos humanos e incluso constitucionais e sua aplicação ainda  é de mais duvidosa legalidade.

Intuo que não tes nada que ocultar. Sei que foste o único que se prestou a declarar, contestando uma única pergunta do fiscal. Estou certo de que sairás adiante sem cargos; e já veremos como somos capazes de recuperar teus trabalhos e estudos.

Meu amigo Miguel, não deixas de darmos preocupações a teu pai e a mim, e tudo por não deixar-te seduzir por este doce encanto da burguesia. Sei que não me defraudarás porque estou certo que não te deixarás seduzir nunca. E vou seguir tendo invexa de ti.  Estamos-te agardando.

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