Opinión

Meu afilhado Eduardo Blanco Amor

Inverno do ano 1968. Nascera facia poucos meses a Agrupacion Cultural Auriense; eu era o Presidente, mas todos os integrantes colabouravamos arreo para manter uma frenética actividade cultural que propiciou a celebração de eventos semanais consistentes em conferências, exposições. faladoiros, saidas a lugares relacionados com a nossa culura e historia, obradoiros, teatro, actuações musicais, cinema... 

Inverno do ano 1968. Nascera facia poucos meses a Agrupacion Cultural Auriense; eu era o Presidente, mas todos os integrantes colabouravamos arreo para manter uma frenética actividade cultural que propiciou a celebração de eventos semanais consistentes em conferências, exposições. faladoiros, saidas a lugares relacionados com a nossa culura e historia, obradoiros, teatro, actuações musicais, cinema... Numa destas sessões de cine, no Principal, uma manha de domigo do mes de fevereiro, ao remate da projecção, aberto o debate que seguia a todas as actividades, ergueuse um home, elegantemente fardado que num precioso galego e sotaque portenho foi encadeando opiniões e reflexões encol da película, surprendentes polo seu analise novedoso, inteligente, cumprensivel  e ameno que nos deixou maravilhados. Aquel home, para todos nos, era um desconhezido, só Ferro Couselo polo baixo dixo-me "é Blanco Amor"; rematado o acto acerqueime a ele para saudalo, felicitalo e mostrar nosso interese para que de algum jeito participa-se no sucessivo na nosa andaina cultural.

"Aquel home, para todos nos, era um desconhezido, só Ferro Couselo polo baixo dixo-me "é Blanco Amor"; rematado o acto acerqueime a ele para saudalo, felicitalo e mostrar nosso interese para que de algum jeito participa-se no sucessivo na nosa andaina cultural"

Fiquei impresionado polo seu humor, conhezimentos e fina ironia. A partir de ese dia nasceu uma profunda amizade e uma continuada relação pessoal. Pronto soubemos todos quem era Eduardo Blanco Amor, sentimos uma grande admiração por ele e nos actos da Auriense a pergunta de todos os socios era de se acudiria Eduardo.

Blanco Amor, que se prodigava em diferentes cenáculos, como a tertulia do Café Minho, a dos "artistinhas" e outras e gostava rodearse de gente nova, em realidade sentia grande solidão; tinha o apoio familiar de uma sobrinha e seu home, com os que convivia e tratavam com carinho, mas carecia de um lugar cómodo onde escrever, de seguridade económica, de hourizonte de futuro... regresava á cidade da sua infancia na que tinha que fazer novos amigos e darse a conhezer porque era um desconhezido e ainda sendo uma pessoa  muito sociavel e faladoira todos seua amigos, sua vida, ficaram na Arxentina e aquí ia fazendo "conhezidos".

Tal vez por isso atopou acougo na minha casa na tertulia de café que diariamente  tinha apos o almoço com habituais como Paco Rodríguez ou Lois Diéguez  e outros transeuntes como Manuel Maria, Novoneyra, Carlos Velo ou Carlos Casares. Daquelas era eu Conselheiro de uma Cia. de Seguros, actualmente desaparecida, e asumia a supervissão dos problemas que puderam sudir nas sucursais na Galiza, o que me levava a deslocarme puntualmente ás sete cidades galegas, deslocamentos nos que, se estava em Ourense, me acompanhava Eduardo e com posterioridade mais asiduamente a Vigo, ao abrir eu escritorio nesta cidade; tambem eu era seu companheiro para visitas a Augusto Asia, meu parente, na casa Grande de Xanceda ou a Isaac Diaz Pardo em Sargadelos, amigos em Vigo ou incluso a alguma reunião de Galaxia.

"O mais frequente era seu recelo a que não teria um lugar nem na literatura galega nem na espanhola por essa duplicidade de ter escrito nos dous idiomas e que reciprocamente o excluiriam".

Foi nesta relação como Eduardo me foi debulhando suas teimas e temores. O mais frequente era seu recelo a que não teria um lugar nem na literatura galega nem na espanhola por essa duplicidade de ter escrito nos dous idiomas e que reciprocamente o excluiriam. Certamemte resulta insólito que com obras como "La Catedral y el Niño". "Los miedos", "Chile a la vista" ou "Las Buenas Maneras" e poemarios como "En soledad amena" e "Horizonte evadido", alem das propias traducções, que som um reescrever a obra,  como a de "Las Musarañas" ou "Aquella gente",  não apareza em destaque na literatura espanhola. Eduardo Blanco Amor é um excepcional escritor que domina a linguagem e na sua escrita em galego realiza ademais um verdadeiro "ejerciço de linguagem" (como ele mesmo expresa no prólogo a "Las Musarañas"), porque Eduardo é creador de linguagem, vai mais alá de utilizalo como ferramenta para seu trabalho; sua linguagem é compreensivel, clara, amena e, sobre todo, rica. trabalhada e com vontade de estilo.

Abandona Eduardo sua escrita em espanhol e asume, ja na altura dos seus sesenta anos, o galego como elemento implícito de uma cultura connatural ao seu povo e nos entrega, em galego, a delicia de "A Esmorga", dinámico romance que lêmos de seguido, prendidos na sua trama cinematográfica e do absurdo humano. Eduardo é consciente nesa altura de que sai de uma cultura importante, na que tem presente e futuro, para integrarse na sua propria, na do seu povo, com um porvir literario muito mais incerto e problemático; ele nos sesenta do pasado século é um vulto da literatura espanhola, notorio especialmente na América latina e renuncia a afirmarse nesse idioma para inserirse solidariamente no idioma popular na sua tribo e deixarnos um monumento literario integrado, entre outros, por "A Esmorga", "Xente ao Longe", "Os biosbardos" e as extraordinarias e divertidas obras de teatro popular "Teatro pra a xente" e as "Farsas para títeres". As motivações de traspor seu idioma literario espanhol ao galego expresa-o ele no limiar ou "xustificacion", como o chama, ao "Cancioneiro"  (Bos Aires, 1.956) ao manifestar que "este rexo traballo de transposicion, a un mesmo tempo ceibe e violento, eu non atopo a que apoñerllo como non sexa a esta segreda forza de fidelidade co noso sentimento nativo, modelado po-la terra que vai connosco, no encol e no interno das nosas vidas, por sobro do tempo, do espazo e do "dintorno"". Recomendo vivamente a lectura de este limiar. E ainda acrescenta no limiar-"justificación" de "Las Musarañas" que "tal preocupación de llegar a la gente, á xente, en su sentido mas comunal resultó ser el factor obsesionante que me llevó al uso literario de mi lengua natural..."

"Devo-lhe muito a Eduardo a pesar de que foi ele o que pujo em vivo e preto sobre branco seu agradecemento para comigo, convertindo-me no seu "padrinho", como sempre me chamava e como persoalizava as cartas que me enviava ou as adicatorios nos livros, muitos deles edição do autor, que tenhem andel de destaque na minha biblioteca"

Eduardo tambem, e com éxito, tocou a lírica. Na poesia comenzou ja com a lingua galega num livro intitulado "Romances Galegos", Bos Aires, 1928 e seguir com o "Poema en catro tempos" e alguns versos soltos ( lembrava como tinha deitado um poema no curuto  dum monte próximo a Quintela.); curiosamente o "Poema en catro tempos", que data de 1.930, editado em Bos Aires, edição fora de comercio, tem por grande protagonista o mar e os marinheiros, sendo Eduardo de terra adentro; recomendo sua lectura como a de toda a obra de Eduardo. Depois, só nos anos 1.936 e 1.942, editados igualmente em Arxentina, da ao prelo os poemarios "Horizontre Evadido" e "En soledad amena", ambos em espanhol que, daquela, parecia ser definitvamente seu idioma lírico; mas a chegada ao hourizonte lírico galego de uma grea de poetas novos fijo-o meditar na fidelidade á terra e em que a nosa poesia é lírica do sentimento; assim que em 1.956 oferecenos o "Cancioneiro", editado igualmente em Arxentina e onde volca toda sua saudade, lembranzas e sentimentos, desde a adoescencia até a baladas dos árvores, num galego muito mais feito, mais actual e mais elaborado.

Volvendo á minha relação pessoal não podo esquecer que andando o tempo apareceu tambem por aquí Luis Soto e ja eram dous meus companheiros de viagens nos dias que ia a Vigo; e aquelas conversas entre eles dous, lembrando dados e circunstancias vividas em Arxentina ou em Cuba, em Mexico ou em USA, varias ocasiões com Castelao, toda a historia da nossa emigração e exilio... A verdade é que eu devo-lhe muito a Eduardo a pesar de que foi ele o que pujo em vivo e preto sobre branco seu agradecemento para comigo, convertindo-me no seu "padrinho", como sempre me chamava e como persoalizava as cartas que me enviava ou as adicatorios nos livros, muitos deles edição do autor, que tenhem andel de destaque na minha biblioteca. Tambem esto dava lugar a confussões por parte dos que nos escoitavam, rectificandonos por considerar que havia erro e que eu seria o afilhado, dada a difrenza de idade.

Há trinta e cinco anos, um dia 1 de dezembro deixounos para sempre um home bom, grande na literatura, entregado totalmente á sua patria que era e segue a ser Galiza. O PEN Clube de Galiza e a Deputazom de Ourense sempre homenagearom o cabo de ano da sua morte e do mesmo jeito o faremos no cimiterio de San Francisco, de Ourense, o vindeiro 1 de dezembro para continuar durante tres dias numas jornadas nas que afondaremos na vida e obra do meu "afilhado".

E se tenho vagar ainda um dia ei falar de "A Esmorga".

    Quinta do limoeiro,  25.11.14

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