Opinión

Facemos algo com o passado quando volve?

 

Na edição do domingo 14 de Outubro de Faro de Vigo, pensava disfrutar lendo as Memorias de minha lutadora amiga Ana Miguez, redigidas polo magnifico jornalista que é Fernando Franco, quando, aberta a pagina e destacado a segundo nível, Ana manifestava, referindo-se ao peche da Associação Alecrim e ao fim de toda sua atividade, “tuvimos que cerrar cuando el BNG nos negó su apoyo”.

Para os que podam desconhece-lo, ALECRIN foi uma Associação feminista nascida para enfrontar as necessidades de defensa e liberação da mulher numa sociedade que ainda mantinha todos os tics herdados do nacional-catolicismo franquista e que tivo como promotoras, além de outras mulheres viguesas, a duas pessoalidades do feminismo militante como Ana Míguez Vigo e Lola Galovart, de longa trajectória na luta associativa para dignificação social, política e laboral da mulher, antigas fundadoras do movimento feminista AGM. Corria o ano 1984 e surdiu Alecrin que constituiu senão um faro polo menos um salva-vidas ao que agarrar-se as mulheres de clases mais desfavorecidas com problemas na sua vida familiar, de relação ou laboral, abrindo na Galiza os primeiros centros de informação de direitos da mulher, em Vigo e Compostela, a primeira Casa de Acolhida de Mulheres Maltratadas para o que obtiverom a colaboração dos Concelhos de Vigo e Compostela e cuja gestão assumirom, o primeiro Centro Jovem de Saúde Sexual e Anticoncepção, Centro de Dia e fogar de acolhida para mulheres prostituídas, denuncias e pessoamento em juiço contra proxenetas e clubes de alterne, campanhas nas praias para divulgar o uso do preservativo, etc. Com seus prêmios Alecrim e Alacram, para pessoas que se houveram distinguido positiva ou negativamente na defesa da mulher, tiverom grande difusão mediática e social.

Depois de 25 anos de vida ALECRIN fecha; fecha totalmente, constituindo um golpe importante para as mulheres mais desprotegidas; fecha a Casa de Acollida, o Centro de Saúde Sexual, o Centro de Dia e a totalidade de sua atividade, ante a sorpresa de todo o tecido associativo vizinhal e em geral da sociedade viguesa, ainda que existia consciência de que a situação de Alecrim não passava por bons momentos. Naqueles dias eu escoitei a Ana e seu home, Xan Traba (magnifica pessoa e leal nacionalista) lamentar a falta de implicação dos poderes públicos num projecto que estava lutando contra a marginação da mulher e no caminho de recuperar sua dignidade. As mulheres que integravam a Diretiva da Associação esforçarom-se na difícil supervivência da Associação, mas a sua desaparição chegou como irremediável.

Corria o ano 1984 e surdiu Alecrin que constituiu senão um faro polo menos um salva-vidas ao que agarrar-se as mulheres de clases mais desfavorecidas

 

Nas declarações a imprensa naqueles dias, Ana Míguez laiava-se da indiferência e falta de colaboração por parte das Administrações, designadamente o Concelho de Vigo, pola inexistência de Convenios nos últimos anos para atividades desenroladas em relação com a mulher do que responsabilizavam concretamente o PSOE e o BNG. O certo é que no ano do feche de Alecrim (2009) no Concelho de Vigo já governava o PSOE com Abel Caballero (desde o 2007 em aliança com o BNG), sendo a concelheira de Politica Social Isaura Abelairas (PSOE). Nos anos anteriores, de 2005 a 2007, alcaldesa fora Corina Porro (PP). Ana Míguez argumenta a culpabilidade ou responsabilidade do BNG no interesse que mostravam os partidos políticos em controlar Alecrim, fronte á independência a ultranza que mantinha a Associação, centrada no tema do feminismo e de ajuda a mulheres, e que o BNG as sacou das Casas de Acollida de Vigo e de Compostela porque pretendia privatizalas, por isso tiverom que fechar todos os serviços: Casas de Acollida, Centro Xove, Centro de Dia, estudos, incluso a Biblioteca, a mais grande no seu género de Galiza e despedir a perto de 40 empregadas.

Eu confio na veracidade de Ana Miguez no seu relato. Sem outros dados desconfio de que desculpe nessa batalha contra Alecrin ao PP. O problema não nasce e enterra a Alecrin no ano 2009, senão que se vem arrastando de anos anteriores, nos que na governança municipal também estivo o PP. Mas resulta indiferente a postura dos outros partidos políticos que conformavam a Administração municipal ou autonómica; o realmente importante para mim é a intervenção na morte de Alecrin que pudo ter o BNG. O BNG pesava pouco na Corporação municipal viguesa de 2007 a 2.011, ainda que no tema da mulher parece que em aquele período no Concelho de Vigo existia uma chamada Área da Mulher da responsabilidade do BNG (não me responsabilizo de esta manifestação pois careço de dados) e que sería a que se mostrou mais remissa a colaborar com Alecrin. A somera analise de aquela época, relativa ao BNG, nos leva a comprovar que o Bloque coloca-se eleitorialmente em queda livre a partir do 2007 em que já somos pouco relevantes no Concelho de Vigo, que continua em 2009 em que perdemos a governança autonómica, no 2011 chega a debacle com 3 concelheiros em Vigo e já no 2.015 ficamos fora da Corporação municipal. Parece que o inicio de falta de credibilidade na sociedade, especialmente viguesa, coincide de alguma maneira com a época na que também se evidenciam os problemas de Alecrin, por falta de ajuda ou incluso em dificultar a sua pervivência.

Eu confio na veracidade de Ana Miguez no seu relato. Sem outros dados desconfio de que desculpe nessa batalha contra Alecrin ao PP

 

A coincidência no tempo mostra-nos que não soubemos ilusionar, concretamente aos cidadãos vigueses e que as pessoas que podiam representar o Bloque forom incapazes de conectar com a sociedade perdendo a confiança que anos antes lhes outorgou uma cidadania que os levou a assumir a governança municipal, mas que pouco a pouco foi-nos reduzindo a ser coaligados e mais tarde ser irrelevantes; indudividavelmente começamos no 2005 a faze-lo mal e seguimos a faze-lo pior. Eu não digo que a denunciada inquina com Alecrin fosse causa do fundimento do Bloque em Vigo; o que sim digo é que nos mais de treze anos transcorridos nem se fizerom as cousas bem nem se tomarom medidas para rectificar e que possivelmente um dos exemplos poda ser o de Alecrin.

Aparecendo estes comentários na imprensa diária, coido que poderia ser importante reflexionar ao respecto. Estou certo que se repensarà sobre o desastre ocorrido, mas tampouco sería indiferente volver sobre o tema Alecrin por as consequências que pudo trazer. E polo que significa para uma organização como a nossa —muito sensível com a defesa dos direitos das mulheres já desde tempos pretéritos sendo Segredaria da UPG a razoável feminista Elvira Souto, que continua na luta, saber quem somos e quem fomos e dar explicações se é preciso.

Quinta do Limoeiro, outubro do 2.018

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