Opinión

Epístola a Vitor Vaqueiro

Caro Vitor:
Somos uns ingenuos, tu e mais eu e tantos mais, entusiastas e teimudos ingenuos que, conscientes de que as forzas colonizadoras som muito mais fortes que nos, seguimos a manternos na luta, porque abandonala sería desertar do nosso povo e da nossa identidade.

Caro Vitor:

Somos uns ingenuos, tu e mais eu e tantos mais, entusiastas e teimudos ingenuos que, conscientes de que as forzas colonizadoras som muito mais fortes que nos, seguimos a manternos na luta, porque abandonala sería desertar do nosso povo e da nossa identidade.

"O colonizador impoe a sua ortografia e sintaxe á escrita galega (incluso palabras) com o que separa ao galego do seu tronco lingüstico, que é a lusofonia, para integralo no mundo do castelhano"

Sabemos que para o colonizador é importante a cultura do colonizado, não tanto para destruila (objectivo final) como para deturpala e rebaixala a simple motivo de tipismo para turistas; e tambem sabemos como para o colonizador é importante contar com vultos culturais do povo a colonizar que apliquem e defendam seus designios. A metodologia é velha; o Cristianismo aplicouna a eito a onde quera que chegou; não se enfrontou com os costumes, ritos e lugares religiosos dos povos que “cristianizou”, apoderouse deles a acomodounos á sua filosofia religiosa.

Aquí tambem o colonizador impoe a sua ortografia e sintaxe á escrita galega (incluso palabras) com o que separa ao galego do seu tronco lingüstico, que é a lusofonia, para integralo no mundo do castelhano, pasando de este jeito, silandeiramente, a converter a lingua galega num dialecto da lingua castelhana, mais ou menos un bable, por ser o mais próximo.

Por isso, caro Vitor, não interesamos os que defendemos a nossa pertenza ao importantisimo mundo da lusofonia, ao que deu vida o galego-portugués e que hoje é a quinta lingua mais falada no mundo, que nos abre janelas em todos os eidos da relação cultural e económica a milhões de pessoas. Passamos a ser inimigos do povo; uns tolos que preferimos Portugal (esta redução é o que se utiliza, ocultando que o nosso não é Portugal senom a lusofonia) e seu sistema lingüistico, quando o que pretendemos e manternos dentro do tronco comúm ao que pertencemos idiomaticamente, com todos os matizes que poda adoptar nos diversos paises ou lugares onde o galego-portugués se fala.

A ortografia é como um corsé da fala que a fai semelhante para os falantes, especialmente na escrita, e a sintaxe é a estrutura na que a fala se evidencia. Há por tanto que rematar con a ortografia e sintaxe. Tu eres perigoso, Vitor; porque com a tua escrita chegas ao lector medio que pode apreciar como o idioma gana qualidade. Precisamos de escritores para o grande público que utilicem a norma-padrom (como tu e Teresa Moure e algum mais) em romances ou poemarios, pois os livros ou estudos sobre lingüistica só chegam aos iniciados.

Por isso Vitor o poder factico reprime a literatura que adopta a dignidade do idioma; por isso Vitor não publicam teus artigos, nem os meus, nos jornais subsidiados com dinheiro do governo; e por isso o governo subsidia a literatura que segue a normativa oficial; favorece aos literatos menos brilantes que não precisam e se livram de competir com a literatura do resto da lusofonia e empobrece ao lector que não tem acceso no original á literatura lusófona que tem dado importantes vulto e até premios Nobel.

"Precisamos de escritores para o grande público que utilicem a norma-padrom (como tu e Teresa Moure e algum mais) em romances ou poemarios, pois os livros ou estudos sobre lingüistica só chegam aos iniciados".

Somos alvo dos isolacionistas que protestam contra nossos escritos (cada qual no seu ámbito, eu no da Justiça), mentras que nos nem nos preocupamos deles. A nossa escrita é algo mais profundo que o tema ortográfico, mas quando em mais de uma ocasião se rejeitaron escritos forenses meus “por não ficar redigidos em galego normalizado”, que ao cabo, na tona, é pouco mais que escrever com gralhas comparativamente, apresentei esses escritos em castelhano com gralhas, sem que nese caso se me chamase a atencião; Hoje em dia que há certo desprecio pola ortogarfia som varios os escritos que, em castelhano, vam com gralhas.

Solidariedade contigo, Vitor. Eu tambem gostaria que as associações, grupos culturais e simpatizantes reintegracionistas tiveram mais presência na sociedade para deixar em evidencia ao colonizador e mais ao interesada e remuneradamente colonizado. Lembro aquele poema de Miguel Torga, no seu livro “Orfeu Rebelde”, “... de onde te vem a força, a decisão,/ e esse gosto de nunca desertar?/...”.
Abraço e coragem. 

Quinta do limoeiro, outubro de 2.014

Comentarios