Opinión

Aleivosía

Há poucos dias, escutando num programa de TV áudios das conversas de Corina (a companheira do emérito durante anos) com o polícia Villarejo, dizia aquela que Juan Carlos era de um homem de total deslealdade. O qualificativo trouxe á minha memória o comportamento do chefe do Estado espanhol no ano 1975 com o povo saharaui, comportamento traizoeiro, aleivoso e desleal.

O Sahara ocidental, conformado por vários territórios, foi colônia espanhola até o ano 1958, em que passa a serem a 51 província espanhola e nacionais espanhóis todos os habitantes ali nativos, que recebiam um DNI como o normal no resto do Estado (posteriormente variou a color), passaporte, livro de família e demais documentos próprios de um espanhol; os veículos tinham como matrícula SH e o número correspondente. A organização administrativa era semelhante a outra província espanhola. Foi uma população bastante leal ainda que existisse um movimento pola independência. Marrocos e Mauritânia mostravam apetência por esse território e na geopolítica e economia mundial existiam interesses nos seus importantíssimos depósitos de fosfatos, ferro, petróleo, gás e na pesca, especialmente dos USA que lideraram um projeto, financiado pola Arábia Saudí, para arrebatar o território ao regime de Franco.

O 21.10.75 consegue o príncipe Juan Carlos seu nomeamento como Chefe do Estado (herdeiro de Franco moribundo) com poder total para atuar no Sahara, que aproveita para, com intervenção de Henry Kissinguer, combinar com o seu “primo” Hasán II de Marrocos um pacto segredo para entregar o Sahara a Marrocos a cambio de que os USA deram apoio político ao seu governo como rei de Espanha. Aqui se inicia a venda por parte de Espanha dos saharauis, espanhóis habitantes de uma província espanhola e historicamente povo autónomo, a outro país que passa a ser ocupante e colonizador, sem sequer escutar o afetado.

O resto da historia foi a organização por Hasan da chamada “marcha Verde”, integrada por uns 300.000 marroquinos que aguardam em Tarfaya a internar-se no Sahara; paralelamente Espanha organiza a “Operacion Golondrina” para evacuar os espanhóis originários (não os saharauis também legalmente espanhóis) do território. Ainda com total cinismo o Príncipe Juan Carlos (como dissemos Chefe do Estado em funções e ator de todos os convénios de ceder o Sahara a Marrocos) o dia 02.11.75 visita as tropas espanholas despregadas no Sahara segurando-lhes todo o apoio do governo na defensa do território e do povo saharaui, e sabendo dias antes, o 31.10.75, tropas marroquinas cruzaram a fronteira, com a única resistência da Fronte Polisario. E poucos dias mais tarde, o 14.11.75, Juan Carlos Borbón, representando a Espanha na sua qualidade de chefe de Estado em funções, assina com Marrocos e Mauritania, em Madrid, um acordo comprometendo-se a sair definitivamente do Sahara o dia 28.02.76, acordo que nunca foi reconhecido pola ONU. Já imediatamente, 27.11.75, tropas mauritanas e marroquinas começam a ocupar o Sahara, com fugida dos saharauis das cidades para instalar-se no deserto, onde forem bombardeados polo exercito marroquino.

Para mais INRI, quando as tropas do Frente Polisario iam ganhando a guerra contra Marrocos, para expulsão do território, Espanha colaborou com os USA, França e Arábia Saudí, já nomeado rei Juan Carlos Borbon, para ajudar o seu “primo” Hasan II a ocupar o território saharaui. A outra parte do pacto, o apoio político á monarquia continuadora do franquismo, já se cumprira por parte dos países árabes (exceto Argelia), os USA, França, etc.

Outro capítulo nojento na historia do emérito, também pouco divulgado, ocultado á opinião pública, traindo o povo saharaui para segurar ser rei. Algum dia saberemos os entrechos do 23-F, no que foram muitos os interessados em calar. Hoje imos sabendo também do seu total desapreço polos problemas de seus súbditos, calados como ratas enquanto ele cobrava comissões, tinha dinheiro em paraísos fiscais e derrochava em amantes.

A afrenta ao tema do Sahara perpetua-se no TS que recentemente sentenciou que nascer no Sahara Occidental antes do 1975 –data na que Espanha abandonou cobarde e perfidamente o território– não dá lugar á nacionalidade espanhola, quando se lhe tinha reconhecida, incluso com DNI. Não só é pérfida a Albión.

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