Opinión

O galego como língua completa

Escrevíamos nestas mesmas páginas, a princípios de ano e nos primeiros números do Nós Diario (sábado, 18 de janeiro de 2020, número 13), sobre o projeto global para a língua que representa a atual proposta da AGAL. Um projeto que promove mantermos o vínculo identitário com o galego mas sem que isto impida transformá-lo numha língua completa. Entendendo como língua completa aquela que tem capacidade para encher todos os âmbitos do nosso dia-a-dia. Ainda que para muitos de nós o galego seja um elemento fundamental da nossa identidade, o certo é que as línguas som, fundamentalmente, ferramentas utilitaristas. As línguas som sons que permitem comunicarmo-nos, inicialmente, dentro do nosso grupo ou comunidade. Esse conjunto de sons, nalgumha altura da História de cada um dos coletivos humanos passa a ser representada graficamente, o qual derivou em que até foneticas, pronuncias ou sons diversos tenham umha mesma representaçom gráfica.

Para a maioria das pessoas que temos um sentimento nacional galego, este argumento identitário é mais que válido e certeiro. Talvez nem necessitássemos mais. Mas isso nom deve fazer-nos obviar ou desprezar o argumento fundamental da utilidade. O argumento mais comum porque é o argumento original. Um argumento tam fundamental que até pode valer para quem já nom se identifica com o galego. Portanto, igual que no início dos tempos da nossa língua, a utilidade pode voltar a reforçar a identidade do galego. Porque se o conjunto da cidadania galega acha que a nossa língua é útil, ainda partindo de diferentes argumentos e motivações, o galego continuará a ser o nosso mais importante elemento de identidade.

Mas, como conseguimos isso? Como podemos conseguir que o galego volte a ser útil para o conjunto da nossa sociedade? Como conseguimos que, mesmo para as pessoas que acreditam no galego como a sua língua nacional, este seja ainda mais útil? Do nosso ponto de vista, para conseguirmos essa utilidade o mais eficaz é construirmos um galego que se olhe no português. Por isso, na AGAL, através da nossa proposta de usos ortográficos, assentamos as bases para reconhecer o português como galego sem deixar atrás a nossa tradiçom histórica reintegracionista. Umha resposta global que olha para o conjunto da nossa sociedade e que procura optimizar a utilidade da nossa língua e torná-la completa. Completa? Porquê? Porque através do português o castelhano deixa de ser incontornável. É evidente que esta língua também é umha riqueza para nós, umha língua também extensa e útil que pode dar resposta a todas as necessidades que tenhamos. Língua de Estado(s), internacional, transcontinental e na moda. Umha língua completa. Quando tentamos igualá-la, porque a isso devemos aspirar, desde o galego ‘oficial’ isto torna-se umha missom impossível.

Se só acreditamos num galego restrito aos limites das nossas fronteiras, o castelhano torna-se incontornável para muitos ámbitos do dia-a-dia. Pensemos nas crianças, como poder visionar os desenhos animados que estejam na moda? Pensemos em que língua lemos as instruções de montagem ou os ingredientes ou indicações dos produtos que compramos. Pensemos em como poder aceder a informaçom internacional na Internet. Pensemos na música dos mais diferentes estilos. Pensemos em ativar as legendas nas plataformas de streaming, ou mesmo em assistir aos seus conteúdos dobrados quem gostar. Pensemos em como consultar documentaçom da ONU ou da UE. Pensemos em todo o que fazemos habitualmente. Todo isto pode-se fazer em casetelhano. E se queremos em galego também. Só temos que construir a nossa língua como completa. Utilizar a via mais eficaz para que seja umha língua útil para todas as pessoas. Mas isso só vamos conseguir se nos reconhecermos no português.

Um reconhecimento que nom tem porque implicar abandonar o construído nestes 40 anos, já que é proposto através de umha proposta inclusiva como a do binormativismo. E a partir daí será a sociedade, com os seus usos, quem decida se quer ou nom quer o galego como umha língua completa sem abandonar a sua identidade de língua própria deste país chamado Galiza.


 

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