Opinión

O que pode Cidadãos fazer com o espaço eleitoral do PP galego?

Para além dos aspectos culturais, económicos ou linguísticos, uma das características que melhor define Catalunha e que contribui a definir a sua singularidade dentro do território espanhol é o de contar com um sistema de partidos próprio, muito fragmentado e peculiar. Conta com um subsistema próprio de partidos nacionalistas, com três forças politicas de dificil paralelo entre as do resto do Estado e curiosamente também com um sistema de partidos unionistas ou constitucionalistas também próprio. Aliás, os catalães não nacionalistas preferiram votar para defender os seus interesses a um partido também de origem catalã, nascido e pensado para atender as suas peculiaridades, que também são diferentes as do resto dos espanhóis. O debate que se propõe, toda vez que foram vistos os resultados, é se uma força própria de Catalunha pode ser implantada no território galego e substituir nas suas funções à velha e tradicional direita galega representada polo PP, partido em boa medida de origem galega, e adaptado também às peculiaridades do votante centrista e conservador da nossa terra. Eu acredito que no curto prazo não vai ser, só se se der uma dissolução do PP estatal e que os seus restos na Galiza adoptassem as siglas da força emergente, de um jeito similar ao que tinha acontecido com a desfeita da UCD faz 35 anos. E ainda então teria sido feita de uma forma tal que a nova feitura recolleria a forma de ser do velho PP, e teríamos então uma sorte de Cidadãos da Galiza diferente do partido a nível estatal. Mas não acredito esse cenario possível em curto prazo por várias razões.

O discurso do partido laranja não parece pensado para um lugar como a Galiza

 

A primeira é que o discurso do partido laranja não parece pensado para um lugar como a Galiza. Este partido é um partido urbano, sem discurso político definido e pensado para colectivos novos ou de mediana idade. Não quadra com uma sociedade envelhecida como a nossa e com uma forte ainda presença no rural ou em vilas pequenas e médias. O nosso eleitorado é mais refractário à mudança e relativamente menos influenciável polos meios de comunicação de massas que promovem a Cidadãos e portanto sua capacidade de penetração é menor no curto prazo. Também não o discurso sobre a questão nacional que fornece é ajeitado à nossa realidade. Na Galiza ao não haver um nacionalismo galego forte não há base para um nacionalismo espanhol forte, e este de existir não tem base demográfica sobre a qual assentar-se. Também não há uma percentagem elevada de população emigrante doutras zonas do Estado e a que pudera existir está bem integrada e espalllada polo território. Não se dão grandes concentrações de população de origem não galega em lugares culturalmente homogéneos noutras culturas. O debate nacionalista na Galiza é entre galegos de origem, nacionalistas e não nacionalistas, às vezes entre vizinhos ou entre membros da mesma família, e isto diminui muito as tensões. Também é fácil adoptar ou mudar de postura política ao respeito sem ver-se alienado da própria comunidade, sendo também relativamente frequente a mudança de nacionalista a españolista ou ao contrário, às vezes inclusive várias vezes ao longo da própria vida. Isto é, os galegos não nascemos em comunidades nacionais fechadas, das que seja díficil escapar. Tudo isto leva a que um discurso nacional duro como o de Cidadãos não encontre fácil assento na nossa comunidade, ao estar pensado no mínimo em origem para realidades nacionais como a catalana onde a luta política é entre blocos quase impermeáveis e onde um discurso duro sobre este tópico pode bem ser aceite em determinados sectores sociais. Isto viu-se perfeitamente nas últimas eleições galegas onde o discurso da sua candidata, de neto perfil espanholista, não foi capaz de se adequar às dinâmicas próprias da Galiza, talvez por fazer uma má análise do nosso país, onde o nacionalismo espanhol não se expressa de forma tão contundente. Se Cidadãos quiser suplantar ao PP galego deveria tentar modular o seu discurso à nossa realidade.

Na Galiza ao não haver um nacionalismo galego forte não há base para um nacionalismo espanhol forte

 

Por último a Cidadãos não beneficia nem o sistema eleitoral galego nem o calendário. O primeiro porque sobrerrepresenta as províncias do interior, mais rurais e com menor implantação desta força e aparentemente menor receptivas ao seu discurso de tipo urbano e progressista. Talvez pudera ser que nas urbes onde não governa e menos força tem o PP galego a nova força puder ter os seus melhores resultados. Se puder ganhar o PP nalgum lugar talvez seria nalguma destas. O seu discurso mediático poderia calar bem em sectores urbanos acostumados a seguir os meios espanhóis e portanto mais receptivos a dinâmicas políticas próprias da capital do Estado que noutros segmentos da sociedade galega. Poderíamos dizer que nos lugares onde se seguen os meios galegos o PP galego tem muitas possibilidades de ser predominante e onde primem os meios madrilenos e, pola sua própria idiosincrasia, onde Cidadãos poderia obter melhores resultados. No que diz respeito ao calendário este não favorece na minha opinião à nova força. De não haver surpresas as primeiras eleições seriam as autárquicas acompanhadas das européias. O problema de Cidadãos é conseguir elaborar listas com políticos locais com experiência e capacidade de arraste eleitoral, e muitos destes quadros políticos com experiência ainda militan no PPdeG. É verdade que em algumas comunidades espanholas começa a dar-se certo deslocamento de presidentes da Câmara do PP a Cidadãos mas são comunidades onde não governa o PP. Aqui polo contrário governa o PP e seria suicida para muitos destos quadros mudar-se de partido a metade de legislatura e com um governo que poderia então se converter em menos ajeitado. Intuo portanto que Cidadãos vai ter problemas primeiro para fazer listas em muitos sítios por falta de quadros qualificados e segundo porque teria que recurrir a políticos descartáveis ou zangados com a direcção actual. Isto lhes daria capacidade de manobra mas lhes faria perder o carácter regenerador que pretende vender e provavelmente lhes levaria a expor-se a possíveis escândalos que no seu caso seriam magnificados políticamente.

Nos lugares onde se seguen os meios galegos o PP galego tem muitas possibilidades de ser predominante e onde primem os meios madrilenos e onde Cidadãos poderia obter melhores resultados

 

Em conclusão, se bem prevê-o a dia de hoje certa subida do novo partido que poderia subir sua representação nas urbes e ter representação em todas elas, vejo ainda prematuro que superem ao PP galego no espaço da direita. No entanto é mais provável que a competência eleitoral entre eles tenha o efeito de deslocar à direita ao eleitorado e quem acabe sendo mais perjudicado seja a esquerda galega, em especial a não nacionalista. Mas também não pode ser descartado que este partido cometa erros graves que lhes provoquem danos importantes. Lembremos que o seu antecessor UPyD desapareceu em questão de semanas apesar de ter parlamentares espanhóis e europeus, e dada a sua fraca organização uma ofensiva contra eles bem pensada poderia ter os mesmos efeitos.

         
    

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