Opinión

2018, Ano Marx (I) / Nom é a pobreza, nem a redistribuiçom… é a exploraçom!

Dá comezo con este artigo unha serie de 12 entregas (unha por cada mes do ano) coa que o noso colaborador Mauricio Castro analisa o legado de Karl Marx (1818-1883) no ano do bicentenario do seu nacimento.

Completam-se, neste ano, douscentos desde o nascimento de umha figura incontornável na história social do último século e meio. Seja qual for a avaliaçom que cada qual figer, é inegável a importáncia da teorizaçom realizada ao longo de toda a vida adulta por Karl Marx. Nom é exagero afirmar que nom dá para compreender realmente nengumha das chamadas ciências sociais sem estudar os seus contributos nessa ampla área de estudo científico.

 

Dito o anterior, nom há acaso na desconsideraçom generalizada com que o mundo académico trata as teses do fundador do socialismo científico. Poucas faculdades de Economia, Filosofia, Direito, Sociologia, Antropologia, História... resultantes do esquartejamento das ciências sociais, reconhecem a vigência teórica do marxismo, servindo esse desprezo explícito como confirmaçom da sua potencial ameaça até hoje. De facto, som critérios ideológicos e de classe os que marcam a orientaçom académica conservadora dos estudos superiores sobre a sociedade em todo o mundo.

 

A Galiza nom é umha exceçom e este ano, que poderia servir para corrigir essa grave carência com motivo da efeméride, só virá confirmar o desinteresse da academia burguesa em se rever através do seu mais sólido e contundente crítico.

 

Assi sendo, e com umha Academia esterilizada para tam necessário labor, deverám ser os sectores interessados os que o assumamos, como eu tentarei fazer com umha série de breves artigos que hoje começo.

 

Ainda assumindo as próprias limitaçons, e declarando o modesto objetivo de incitar ao seu mais aprofundado estudo, aproveito o ensejo para reivindicar o património que a obra de Karl Marx representa para a humanidade que luita pola sua emancipaçom. Em tempos de decadência pós-moderna, ele representa a modernidade que foi mais longe do que a burguesia revolucionária e iluminista pudo chegar, umha vez constituída como classe dominante. Tam longe, que com a hegemonia burguesa ainda em processo de construçom, Marx estudou a sua natureza e avançou as condiçons da sua derrota por parte da nova classe em ascenso: o proletariado.

 

Em tempos de decadência pós-moderna, ele representa a modernidade que foi mais longe do que a burguesia revolucionária e iluminista pudo chegar

 

Ao longo desta série de textos, tentarei compartilhar com quem me lê pequenas pílulas sobre o significado das principais categorias críticas desenvolvidas polo autor do Capital e sobre a sua validade atual. Serám só simples evidências para qualquer pessoa interessada na matéria, mas que talvez consigam interessar outras pessoas leigas no assunto.

 

Karl Marx, estudante de Direito e Filosofia, partiu de posiçons democráticas radicais na sua mocidade, como jornalista, a inícios da década de 40, na sua terra natal da Renánia (tinha nascido em 1818 em Tréveris, a mesma cidade onde fora executado, no século IV d.n.e. Prisciliano, o grande herege galaico).

 

O estudo do processo histórico que levou à despossessom do campesinato renano em favor dos donos das florestas (o famoso episódio do roubo da lenha no vale prusiano do Reno), conduziu o jovem Marx ao estudo, inicialmente ocasional e, finalmente, profundo, crítico e permanente, da Economia Política burguesa, verdadeiro arcabouço autojustificativo da ainda ascendente hegemonia capitalista.

 

Marx analisou a fundo e com pretensom de totalidade o modo capitalista de produçom, indo mais longe do que os clássicos burgueses anteriormente tinham ido

 

Marx nom realizou muitas descobertas particulares na sua crítica da Económica Política. Mais do que isso, analisou a fundo e com pretensom de totalidade o modo capitalista de produçom, indo mais longe do que os clássicos burgueses anteriormente tinham ido. Dentre os contributos da sua análise, salienta a centralidade da categoria “exploraçom” como ámago da contradiçom social que funda o capitalismo.

 

A exploraçom, a traço grosso, consiste na extraçom privada de mais-valor à classe trabalhadora por parte da classe burguesa dominante. Umha extorsom que permite, mediante a compra-venda “livre” de força de trabalho, um progresso acelerado das forças produtivas, como nunca antes se tinha produzido na história das sociedades humanas desde o surgimento da divisom social do trabalho, da propriedade privada e das classes sociais.

 

Umha característica do capitalismo, tal como antes outros modos de produçom dominantes, é a naturalizaçom das suas formas de relaçom social, ao ponto de serem confundidas com a própria “essência humana”. Só um estudo consciente e crítico com perspetiva de classe permite ir além da aparência e descobrir o mecanismo fundante do que é só um modo de produçom histórico: nem natural, nem eterno.

 

A exploraçom, a traço grosso, consiste na extraçom privada de mais-valor à classe trabalhadora por parte da classe burguesa dominante

 

O estudo do mecanismo da exploraçom, que nom faremos aqui por nom ser esse o objetivo deste texto, é de fundamental importáncia por dous motivos: primeiro, porque só compreendendo-o é que percebemos a lógica lucrativa que inevitavelmente rege a reproduçom social no capitalismo; e segundo, porque sem esse conhecimento, acabaremos, como a nossa esquerda atual já fai, derivando a eventual soluçom dos graves problemas sociais que caracterizam as sociedades capitalistas para questons morais (justiça-injustiça, bondade-maldade...), ou para pseudoalternativas de tipo parcial (progressividade fiscal, políticas redistributivas e por aí fora).

 

As chamadas “reformas”, quer dizer, a defesa de melhorias parciais para a única classe que sustenta a maquinaria de reproduçom social capitalista, a trabalhadora, som necessárias: a defesa das pensons públicas, do aumento salarial, de rendas, subsídios e impostos compensatórios da crescente desigualdade... Porém, atribuir a um processo cumulativo de reformas parciais a virtualidade de conduzir para um novo sistema, mais justo ou humano, é umha pura ilusom que, historicamente, estivo na origem do chamado reformismo. A sua incapacidade está na renúncia a questionar a natureza do capitalismo, deixando intacto o mecanismo de exploraçom a que acima nos referimos.

 

Atribuir a um processo cumulativo de reformas parciais a virtualidade de conduzir para um novo sistema, mais justo ou humano, é umha pura ilusom

 

A partir do mais apurado estudo do sistema capitalista, que foi realizado por Marx, fica claro que só o fim do trabalho assalariado, mediante o qual umha classe se enriquece à custa do trabalho de outra, poderá pôr as bases da apropriaçom social da riqueza. A enorme socializaçom da atividade produtiva e os grandes avanços tecnológicos já há muito situárom a nossa espécie, pola primeira vez na história, em condiçons de abundáncia que permitem umha boa vida, digna de ser vivida por toda a humanidade.

 

No entanto, essa nova vida, que Marx considerava o fim da pré-história e o início da verdadeira história humana, é incompatível com a continuidade do atual modo de produçom. Depende de um processo revolucionário que podamos mandá-lo para o lixo da história e corresponde à classe responsável pola produçom de toda a riqueza social, a classe trabalhadora, a liderança em tam necessária tarefa.

 

Essa nova vida, que Marx considerava o fim da pré-história e o início da verdadeira história humana, é incompatível com a continuidade do atual modo de produçom

 

Talvez o principal mérito do atual sistema, 200 anos depois do nascimento de Karl Marx, seja ter convencido a classe trabalhadora de que a realizaçom dessa tarefa histórica é impossível e de que o capitalismo será eterno. A prova disso é que agora a esquerda fala em gestom do sistema, combate à pobreza, redistribuiçom de renda, proteçom social, democracia radical... mas raramente de luitas de classes, fim da exploraçom ou revoluçom socialista.

 

Enquanto a alienante ideologia burguesa conseguiu naturalizar as relaçons sociais de produçom capitalistas a partir de um suposto impulso humano a-histórico para a troca (Adam Smith), sendo nessa medida conservadora, Karl Marx mostra o seu caráter histórico, estudando as condiçons de possibilidade para a sua superaçom. É a prática revolucionária compassada com o estudo dessas condiçons que poderá permitir-nos retomar o fio vermelho da emancipaçom humana.

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