Opinión

Lembranza de Ricardo Carvalho Calero

111 anos (30 de Outubro) son os que nos separan da data de nacemento de Ricardo Carvalho Calero (Ferrol, 1910-Santiago de Compostela, 1990). Un capicúa. Probabelmente, nunha das súas aulas el explicaríanos que a palabra é catalá (cabeza e cola), como, se cadra, ironizaría co facto de o galego “oficial” usar do sufixo –ería (no canto do xenuíno galego –aría) en nomenclaturas como “Consellería”: miren por onde a Xunta escolle a solución do catalán, de que, por aplicado mandato colonizado, cómpre distanciarse. Mais nesta recordación carvalhiana queremos simplesmente oferecer a quen ler tres amostras do seu persistente e intenso labor poético. Pertencen aos dous volumes finais da súa vida: Cantigas de amigo e outros poemas (1986) e o xa póstumo Reticências... (1990). Eilas:

Criámo-nos juntos, e parecia que éramos
paxarinhos da mesma posta.

Mais chegou um tempo em que nos xebrámos:
eu, a umha banda; todos os mais, a outra.

Como eu me resistia feramente às vossas picoadas,
deixastes-me no ninho só. Em bandada,
abandonastes o quentor materno,
já polinhos andados, e fundastes 
umha colónia co antigo nome.

Eu fiquei sobre as palhas primitivas. O frio 
traspassava-me as penas, mas enduroume o coiro.

Vejo-vos bater asas perto de min e alheios.
Ninguém diria que medrámos juntos.
Seredes de verdade os meus irmáns?
Seica eu devim de ser ovo de cuco,
intruso no prolífico lar de outra honrada espécie. 
___

Era a felicidade,
mas tu nom o sabias.
A sua humilde aparência, sem ajóujeres,
sem arminhos, sem música,
nom permitia que te decatasses.

E sem embargo, ela
é sempre assi. Os ajóujeres,
os arminhos, as músicas
nom som mais que disfarces
que se mercam, se alugam.
Pois como os hai de Rei e de Rainha,
de Pierrot, de Arlequim,
de Colombina, hai-nos
de Amor, de Fada, de Felicidade.
Muitos ricos os tenhem.

Mas a felicidade verdadeira
tem um aspecto humilde,
tem um jeito modesto, porque é humana;
E, se se enfeita, é
nom com arminhos, música e ajóujeres:
com um sorriso, um suspiro, umha lágrima.
Pois a felicidade
é humana e imperfeita.
Mas é felicidade: nom hai outra
para ti, que imperfeito e home és.

Alguns a tenhem e nom o percebem,
como nom se percebe o coraçom
enquanto nom lateja mais da conta,
patologicamente.
Tu a tiveste tamém. Nom o sabias.
Só cando te deixou a conheceste.

O relógio no pulso vale pouco.
Só cando nom sabemos qué hora é,
apreçamos a perda
dessa pequena máquina.
Com a felicidade ocorre o mesmo.

Entom dizemos: eu tinha un relógio.
Ou bem: eu fum feliz, agora sei-no.

___

Verdadeiro poeta foi. Nom escreveu
para os poetas. Cantou 
para os homes. Aqueles,
monstruosamente desumanos,
nom o admitirom nos seus coros,
porque desentoava
a sua clara voz
da balbúrdia a maotenta
que eles obscuramente articulavam.
A poesia é demasiado séria
para que se administre 
tecnocraticamente.
Mais eles nom pensavam assi. Criam 
num coroporativismo autoritário.
Quanto aos homes, nom lêem
as revistas, os livros de poesia.
Mais ouvirom alguns 
aquela voz, e crerom
que era a sua própria:
assi que lhe prestarom atençom,
porque nada interessa tanto a um
como um mesmo. E ficarom admirados
do bem que se exprimiam.

Este foi o destino do poeta
verdadeiro. Os seus colegas
o seu nome apagarom 
no escalafom que editam
profissionalmente. El nom estava sindicado.
Os homes que o escuitarom
e crerom escuitarse,
tamém nom conhecerom o seu nome,
naturalmente, o nome del.
Excomungado, anónimo,
viveu, morreu. Já somente eu o lembro.
Poeta verdadeiro.

Comentarios