Opinión

Prudência

Recentemente o jornal de mais tiragem na Galiza, na sua secção de Saúde, intitulava da seguinte maneira uma notícia “Tomar leite mais de três vezes ao dia pode provocar morte precoce”.

Recentemente o jornal de mais tiragem na Galiza, na sua secção de Saúde, intitulava da seguinte maneira uma notícia “Tomar leite mais de três vezes ao dia pode provocar morte precoce”.

Este jornal fazia-se eco de um estudo da Universidade sueca de Uppsala no que encontra uma provável relação entre a ingesta de leite e um maior risco de a mortandade acrescentar, assim como também vem a questionar a crença que relaciona o consumo de leite com a prevenção de fraturas ósseas.

<"Titulares sensacionalistas, deste teor, somente podem provocar temor na sociedade ao tempo que se contribui a pôr em causa e a desprestigiar uma atividade fulcral do setor agrário galego, a produção de leite"

Mas no desenvolvimento da mesma se recolhe que a própria equipa que fez esta investigação alerta sobre a necessidade de interpretar os resultados com cautela, e que o estudo não demonstra uma relação de causa e efeito. Outras opiniões de expert@s nutricionistas qualificavam o estudo de “sesgado” e de “falto de rigor” ao incluir pessoas de avançada idade com dietas desequilibradas.

Neste sentido, acho conveniente ser muito prudentes à hora de dar a conhecer estes resultados. Mesmo este estudo se poderia ter comparado com outros que falam das bondades do leite, mas, neste caso, optou-se por lhe dar um enfoque alarmista e prejudicial para o setor leiteiro galego. 

Titulares sensacionalistas, deste teor, arremessados sem nenhum tipo de matiz e por parte do jornal de mais ampla difusão do País, somente podem provocar temor na sociedade ao tempo que se contribui a pôr em causa e a desprestigiar uma atividade fulcral do setor agrário galego, a produção de leite, na que somos a primeira potência produtora do Estado espanhol.

O último inquérito relativo à estrutura produtiva das explorações leiteiras galegas, realizado pelo Centro de Investigações Agrárias de Mabegondo correspondente ao ano 2013, exposto nas Jornadas de Gadaria Ecológica da USC celebradas em Lugo o passado 18 de outubro, revela-nos que na Galiza trabalham diretamente nas nossas granjas umas 26 mil pessoas, chegando a abranger umas 45 mil, como parte da unidade familiar. A estas haveria que lhe acrescentar os empregos induzidos na indústria, transporte, subministros, veterinári@s ou oficinas de reparação de maquinaria agrícola, etc., o que nos daria, quando menos, outros 10 mil postos de trabalho mais.

"Os mass média editados na Galiza não se deveriam prestar para fazer campanhas que fomentem o ódio aos nossos setores produtivos, contribuindo, como é neste caso, a apresentar às e aos produtores galegos como fabricantes de um veneno chamado leite".

Mas não somente é de destacar este aspeto da produção leiteira, também são salientáveis outros como o de contribuir a estruturar o território, proteger a paisagem ou lutar contra os incêndios florestais, entre outros. É de sublinhar, neste sentido, o que acontece em amplas zonas do nosso território nos que desapareceu a atividade agropecuária e que hoje são um verdadeiro deserto humano, pasto dos incêndios e da fauna selvagem, com uma povoação muito envelhecida e com escassos serviços públicos.

Ao dia de hoje o setor leiteiro galego tem de defrontar-se com grandes dificuldades, que se vêm arrastando desde há muito tempo. Sobressaem os baixos preços que se estão a pagar pelo nosso leite, dos mais baixos de todo o Estado espanhol, sendo já estes dos mais baixos de toda a EU; ou falta de recursos forrageiros como consequência da anti-politica da Junta da Galiza de mobilidade da terra agrária, quando os preços dos alimentos comprados fora da exploração estão a aumentar. Mas as dificuldades não ficam por aqui, agora resulta que, precisamente, na última campanha de aplicação do sistema de quotas, o setor vê-se submetido a uma grande pressão pela ameaça de ter de defrontar o pagamento da super-taxa, ou multa por superar a quota; sistema que vai desaparecer o vindouro 31 de março, ascendendo a sanção a 27 cêntimos de euro por cada litro que se tenha superado a quota fixada.

Por tudo isto, notícias como à que faço referência não ajudam nada à estabilidade de um setor transcendental para a precária economia do nosso País, mas bem tudo o contrário, quando o que se necessita é consolidar emprego e não cooperar na sua destruição. Acho, por outra parte, que os mass média editados na Galiza não se deveriam prestar para fazer campanhas que fomentem o ódio aos nossos setores produtivos, contribuindo, como é neste caso, a apresentar às e aos produtores galegos como fabricantes de um veneno chamado leite.

Já quase não temos setor naval, as pescas estão em progressiva diminuição, e no caso de desaparecer o setor leiteiro; a que nos imos dedicar? Que vai passar com as nossas terras? De que imos viver? Que leite imos consumir?, de consumir algum.

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