Opinión

Espírito de Angrois ou Pacto de Barrantes

Como era previsível o Presidente da Xunta utilizou a tragédia coletiva de Angrois para tirar proveito político. Apresentar ao público a conduta da vizinhança de Angrois no acidente ferroviário como exemplo de unidade política face à dramática situação social e económica do País, resulta de um cinismo à altura dos dirigentes do Partido Popular. 

Como era previsível o Presidente da Xunta utilizou a tragédia coletiva de Angrois para tirar proveito político. Apresentar ao público a conduta da vizinhança de Angrois no acidente ferroviário como exemplo de unidade política face à dramática situação social e económica do País, resulta de um cinismo à altura dos dirigentes do Partido Popular.  De qualquer maneira, numa grande parte da população galega, muito necessitada de ouvir notícias animadoras, a mensagem pode funcionar, aparecendo os partidos da oposição como os inimigos da Galiza, sem vontade de alcançar acordos e de remar todos juntos com o Governo na mesma jangada.  Muitas pessoas fogem da verdade, como canta Ana Moura, thank you for tell me lies, e agradecem as mentiras.

"Em que consiste o espírito de Angrois?  Como resulta evidente, na desaparição dos mecanismos do Estado e na ascensão do Povo organizado". 

Mas em que consiste o espírito de Angrois?  Como resulta evidente, na desaparição dos mecanismos do Estado e na ascensão do Povo organizado.  O segundo elemento acho não conta com detratores.  Define o comportamento exemplar do Povo Galego ante as repetidas tragédias vividas.  Em contrapartida, o vazio de governo é o resultado de uma conceição da política e do funcionamento da economia muito específico.  O laissez faire define esta atuação do Governo da Xunta.  Já seja na caça do veado, esquiando na neve ou navegando pelas Rias Baixas no iate de um narcotraficante, o que é importante é aparecer nos meios de comunicação o mais rapidamente possível, utilizando o cinismo habitual e desviando a responsabilidade para outro lado.

Sob o ponto de vista económico, passamos dos problemas pontuais à desfeita permanente.  O laissez faire é o neoliberalismo radical.

"Muitos naquela altura qualificaram o Pacto de Barrantes de absurdo por não ter em foco a defesa da República Espanhola, ainda por vir, mas remédio dos nossos males". 

Diante desta situação os que propõem soluções concretas aos problemas do País desaparecem da cena. Pesquisando na história, encontramos propostas como as enunciadas na atualidade para resolver os nossos problemas.  Assim, em 25 de setembro de 1930, Castelao, Otero Pedrayo, Basílio Losada, Vilar Ponte e outros assinaram o Pacto de Barrantes.  O documento refere que a causa fundamental dos problemas da Galiza está no centralismo político e a solução passa pela sua plena autonomia política e administrativa.  Nos nossos dias falamos em soberania como solução aos problemas presentes.  A coincidência resulta esmagadora.

Contudo, muitos naquela altura qualificaram o Pacto de Barrantes de absurdo por não ter em foco a defesa da República Espanhola, ainda por vir, mas remédio dos nossos males.  A história repete-se e os erros e as inseguranças trazem consequências negativas para muitos, muitos anos.

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