Opinión

Rutura 2016

Surpreende contemplar nestes dias como distintas organizaçons e polític@s sem curriculum nem vocaçom ruturista passadas se apontárom a um discurso que anuncia que hoje na Galiza poderiamos tocar a rutura democrática com a ponta dos dedos.

Surpreende contemplar nestes dias como distintas organizaçons e polític@s sem curriculum nem vocaçom ruturista passadas se apontárom a um discurso que anuncia que hoje na Galiza poderiamos tocar a rutura democrática com a ponta dos dedos. A ilusom óptica derivaria da crise do atual sistema político e económico e a via eleitoral imediata seria o seu canal de materializaçom por excelência.

"No conto este de que vem a rutura nom acreditam a sério nem os seus mentores e mentoras, que som inteligentes, mas tiram do recurso retórico porque agora aumenta o share eleitoral, que afinal é de que se tratar".

Em base a premissas que parecem tam superficiais, há setores sociais e políticos do país que optam por revisar alianças e princípios, banalizam a reivindicaçom nacional com umha ligeireça que convida a pensar se algum dia seriam realmente independentistas, alimentam umha dialética kitsch entre nova e velha política cujo conteúdo mais elevado reside nas datas de constituiçom dos agentes que a protagonizam, e anunciam, sem fundamento argumental conhecido, que os próximos processos eleitorais serám chaves para “tombar o regime”. Trata-se de votar para que caia. A cousa é singela e parece mentira que nom nos decatássemos antes.

A ilusom, para quem ainda tiver ingenuidade suficiente para acreditar nos simpáticos prestidigitadores da revoluçom, e infelizmente som muitas as pessoas que o fam, está servida. Tam certo é como que esta alegria pastoril leva data fixa de caducidade, de frustraçom e desmobilizaçom para @s mais e de cargos, salários, projeçom e contatos para @s menos.

A rutura democrática na Galiza exige como conditio sine qua non o exercício do direito de autodeterminaçom. Afirmar que este país está às portas dum cenário dessas caraterísticas é um engano absoluto: a correlaçom de forças impede-o e carecemos dos níveis de auto-organizaçom, consciência nacional e empoderamento que permitam alviscar este objetivo. Necessita-se muito mais do que um beneplácito das teles, que por outra parte nunca estará com nós. Realmente, no conto este de que vem a rutura nom acreditam a sério nem os seus mentores e mentoras, que som inteligentes, mas tiram do recurso retórico porque agora aumenta o share eleitoral, que afinal é de que se tratar. O acompanhamento das cadeias televisivas da Banca, dos meios espanholistas autóctones e dalguns despistados, que reconhecem o calote a quilómetros, e o promocionam, fai o resto do trabalho.

"A existência dum vigoroso Primo de Zumosol espanhol que nos resgataria das nossas tarefas fai parte do reino da fantasia d@s colonizad@s".

Esta inviabilidade imediata da rutura na Galiza estende-se a quase todas os territórios do Reino de Espanha onde a direita neofranquista conserva um envejável vigor sociológico, a esquerda nova e velha som maioritariamente sistémicas (PSOE, IU, Podemos, etc.) e os setores ruturistas som mais residuais do que no nosso próprio país, ainda que devido a este crónico complexo colonial de inferioridade que arrastamos o alheio sempre nos pareza mais fascinante e poderoso do que o próprio. A existência dum vigoroso Primo de Zumosol espanhol que nos resgataria das nossas tarefas fai parte do reino da fantasia d@s colonizad@s.

Quem, supostamente, “para tombar o regime”, nos proponhem forjar “alianças amplas” em “grandes espaços” [restringidos ao Reino de Espanha] obviam que a conquista da independência como única estratégia ruturista possível fica fora da agenda dos seus novos e velhos aliados1, mas, aliás, esquecem que a debilidade organizativa destes e a sua dependência mediática os incapacitam para serem incluso esse peixe de maior envergadura ao que adirem as lampreias de maneira oportunista para remontarem os rios caudalosos que excedem a sua capacidade natatória. A ideia de que é necessário subir-nos ao carro espanhol em marcha para ir aonde as nossas próprias forças nom nos permitiriam chegar fai parte da política fiçom e, aliás, de umha ótica nacionalista, é insustentável. Eles vam a outra parte.

Todo apontaria a pensar, com muita prudência, e a expensas do comportamento de muitas variáveis ainda em jogo, que apenas em Catalunya e em Hego Euskal Herria se dariam agora condiçons para abordar umha rutura com o regime, por via independentista, ou que, à margem de como ali se desenvolvam finalmente os acontecimentos, cataláns e bascos goçariam hoje dum abano de horizontes coletivos mais estimulante do que os que nós temos agora diante. 

 "Infelizmente para prestidigitador@s e ilus@s, e para todas nós, a oligarquia leva hoje com segurança as rédeas da situaçom, cria e recria fantoches televisivos úteis aos seus interesse"

Polo demais, infelizmente para prestidigitador@s e ilus@s, e para todas nós, a oligarquia leva hoje com segurança as rédeas da situaçom, cria e recria fantoches televisivos úteis aos seus interesses, que canalizam e neutralizam a indignaçom existente, e dirige com comodidade e absoluto controlo dos tempos o rumo dos acontecimentos face a nova Transición que garanta o que realmente importa aqui: a unidade estatal e a prevalência dos seus privilégios, que depende intimamente da primeira. 

Os mercaderes da revoluçom exprês e os seus fascinados homólogos galaicos vendem um produto fraudulento, som conscientes e, como sempre fijo a socialdemocracia, dificultam que naça e creça o que é imprescindível e nunca assumírom fazer. A sua vontade ruturista é tam consistente como o trage aquel dum rei ridículo que caminhava espido pola passadeira entre os aplausos do respeitável.

1. Vejam-se, se nom, as esclarecedoras posiçons de Podemos em Nafarroa e Catalunya, a sua gestom centralista do processo de investidura na administraçom autonómica andaluza, a linha política de Roberto Uriarte na CAV, ou as propostas espanholas de “unidade de mercado” dentro do Reino tam em sintonia com o que reclama o PP que repite na Galiza Breogán Riobó; a crónica vocaçom anti-independentista de IU, que se aponta a converter o independentismo galego num fenómeno de terrorismo na UE e a posiçom histórica da sua franquia galega, que reproduz os piores tiques do complexo de inferioridade colonial, etc.

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