Opinión

Assalto ao Bosque de Sherwood

"Eu estou contra todo violência, venha de onde vinher”, ouvimos afirmarem algumhas, talvez demasiadas, vezes confrades de tertúlias radiofónicas ou televisivas. Nom para condenarem, por exemplo, à violência dos militares de Mianmar, que disparam fogo real contra manifestantes inermes nem à dos polícias do Rio de Janeiro, a quem o Supremo Tribunal Federal tivo de proibir entrarem nas favelas e a sua ausência deu como resultado que os homicídios caíssem num 47,7%.

Também nom para se referirem à violência dos sionistas na Palestina ou à violência xenófoba do Modi na Índia, ou à do governo chileno contra a comunidade mapuche, ou do colombiano contra líderes sociais... Nom. Ainda que a lista é longa e a procedência plural, nom som estas as violências que condenan os confrades.Nem sequer umha violência mais próxima a nós como a desencadeada por esses agentes da polícia espanhola que hai un par de semanas agredirom brutalmente no Cantom Grande da Corunha, e despois perseguirom polas ruas do centro, manifestantes que nada faziam de ilegal ou perigoso.

Nom, em modo algum. Esse “venha de onde vinher”, em realidade sinala umha única e especial violência: a daquelas persoas que, segundo a mítica metáfora de David Piquei, ex-chefe dos Mossos d’Esquadra e autor de um trabalho de fim de máster que circula profusamente nos média alternativos, padecem a síndrome de Sherwood. Isto é, os que crem ser Robin Hood e interpretam o papel de flagelo dos poderosos e abrigo dos humildes queimando caixotes de lixo nas ruas.

Certamente os informados colegas das tertúlias ignoram, ou querem que ignoremos nós, que essa violência foi antes minuciosamente preparada nos gabinetes policiais com um objectivo bem preciso: provocar que o que é -e poderia seguir sendo- resistência pacífica se transforme en resposta irada. A origem certa do estouro violento.

Mas felizmente está aí o David Piquei para nos explicar sem entraves como funcionam as cousas na realidade policial e que benefícios decorrem de aplicar o modelo Miyamoto Mushasi no combate contra estes modernos Robin Hood. Eis umha pequena amostra:

“... Mesmo se a concentraçom ou manifestaçom, que é do que estamos a falar, nom se prevé que seja bastante violenta, pode chegar-se a provocar um pouco, com detençons pouco justificadas e nada pacíficas uns dias antes para aquecer o ambiente  […] A ‘batida’ será especialmente mal feita e com trato humilhante para aquecer os ânimos […] começa a aquecer o ambiente e todos os manifestantes som mantidos juntos para facilitar o posterior ataque […] logo que algum grupo descontrolado dá início a acçons violentas, as unidades de polícia nom se movem e quando a violência começa a ser generalizada, a actuaçom policial demora deliberadamene até os danos produzidos serem socialmente inaceitáveis [...]”.

Nom é necessário um grande esforço de imaginaçom nem de memória para identificar estas tácticas policiais na nossa casa. Chega com lembrar o que aconteceu despois do despejo do centro social Escárnio e Maldizer em Compostela, nas recentes manifestaçons anti-fascistas, na emboscada à marcha da Rondalha do 24 de julho de 2019 e na última concentraçom no Cantom Grande da Corunha.

Nem é preciso ser viciado em teorias conspiratórias para suspeitar que as polícias espanhola e catalá estudarom com diligência e aplicam com esmero o protocolo concebido por Miyamoto Mushasi, umha ferramenta eficaz contra o bom nome e a integridade de Sherwood e Robin Hood.

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