Opinión

Grande oportunidade

Em 2014, Valentim Fagim e José R. Pichel publicaram na editora Através o livro bilíngue O galego é uma oportunidade / El gallego es una oportunidad, onde se expunham sem complexos os benefícios de dominar duas línguas extensas.

Já comentamos neste mesmo meio as vantagens dum bilinguismo real, e acho que estamos perante uma grande oportunidade de aproveitar isto em favor da nossa língua.

Território privilegiado

A Galiza é linguisticamente um território privilegiado, pois nele falam-se as duas línguas romances mais extensas: o galego-português e o castelhano-espanhol. Ainda que a assimetria legal implique uma notável dificuldade para o pleno desenvolvimento da primeira e cumpra continuar a reivindicar a plena igualdade real de direitos, é inegável a vantagem que significa uma plena competência em ambas as línguas.

Porém, aqui aparece outra curiosidade, que as pessoas e entidades que reivindicam o valor do bilinguismo costumam só ser capazes de se comunicarem numa delas, enquanto as que se situam no terreno do galeguismo parece que procuram fugir deste conceito apesar de serem as verdadeiramente bilíngues.

O ensino

Quando se analisa a incidência do ensino como elemento fomentador do castelhano, frequentemente faz-se fundamentalmente à língua da sala de aulas em vez da língua do pátio, isto é, as receitas que se emitem situam-se só no debate sobre a percentagem de horas de matérias em galego que se deveriam incluir no currículo. Do meu ponto de vista, este é um fator de menos incidência do que parece, pois alunas e alunos de áreas castelhano-falantes continuariam a sê-lo mesmo num sistema de um ensino 100% em galego e estudantes de zonas galego-falantes mantêm a sua língua habitual ainda que o professorado se expresse noutra.

A família

Dificilmente se pode negar que este foi e é um elemento decisivo à hora de desnivelar linguisticamente a balança na história recente. Referimo-nos menos a famílias individuais do que à atitude predominante duma área. Se a língua mais transmitida numa zona é o castelhano -que é a mais privilegiada legalmente e a mais prestigiada do ponto de vista social- um sistema de imersão linguística dificilmente poderia evitar que as crianças educadas em galego na casa abandonem a sua língua.

Que podemos fazer? Entendo que qualquer alternativa deve passar forçosamente por reivindicarmos a utilidade real do galego a fim de que ganhe um prestígio que seja capaz de vencer a inércia das últimas décadas.

A oportunidade

Estamos num processo transitório para ser implementada uma nova lei no ensino, a LOMLOE, também conhecida como Lei Celáa. Isto significa, entre outras cousas, que estão a ser modificados os currículos das diversas matérias. Como se pode tornar isto numa oportunidade?

A introdução do galego no ensino conseguiu melhorar a competência nesta língua de alunado que não a adquiria no fogar, mas fracassou na extensão do seu uso social. Porque? Por falta de prestígio e de sensação de utilidade.

Também em 2014 foi aprovada por unanimidade no Parlamento galego a Lei para o aproveitamento da língua portuguesa e vínculos com a lusofonia, mais conhecida como Lei Paz Andrade. Nestes anos tendeu-se a considerar que o seu segundo artigo nos conduzia em exclusiva a introduzir o português como outra língua estrangeira, em concorrência fundamentalmente com o francês, o qual impediu que pudesse chegar a um número significativo de centros de ensino. A isto acresce que a lei de estabilidade impede contratar massivamente professorado duma nova especialidade.

Mas há outra leitura possível, de maneira que a conjunção das leis Celáa e Paz Andrade pode ser aproveitado para uma nova proposta: a introdução do português no currículo do galego. Com isto resolviam-se as duas grandes dificuldades: poder chegar ao conjunto das alunas e alunos e não precisar de uma contratação extraordinária de professorado impossibilitada polo quadro legal. E ajudaria a visualizar esses "vínculos com a lusofonia" dotando não só a matéria da língua galega, mas a língua em si mesma, dum prestígio e duma sensação de utilidade que rompa com esta tendência de anos de derrotismo.

 

Comentarios