Opinión

Uma vez tive um pesadelo...

Aquela noite dormi fatal!.  Uma velha casa de pedra aparecia, semelhava gigante, com inumeráveis escaleiras que se perdem entre umas nuvens grises de incerteza. A través da janela,  na branca parede, como saído dum filme de medo, vejo pendurado duma cruz um homem ensanguentado, com a olhada estrábica.

Aquela noite dormi fatal!.  Uma velha casa de pedra aparecia, semelhava gigante, com inumeráveis escaleiras que se perdem entre umas nuvens grises de incerteza. A través da janela,  na branca parede, como saído dum filme de medo, vejo pendurado duma cruz um homem ensanguentado, com a olhada estrábica. Esta visão traspassa-me o corpo como um lôstrego. Ao seu carão, um tipo pequeno e calvo. Na cabeça dele nem sequer as lêndeas se querem albergar. Leva uniforme. Esse tipinho interna-se nos miolos  maleáveis dos nenos e converte-se no homem do saco. 

Numa cena paralela, aparece um clone desse hominho que berra ameaçador “Wertgonha escreve-se com Ñ”. 

"Numa cena paralela, aparece um clone desse hominho que berra ameaçador “Wertgonha escreve-se com Ñ”." 

Vejo-me cuns doze anos caminhando cara a velha escola, não tinha  ganhas de ir. Quando chego, a mestra: uma mofletuda mulher, repintada. Não encontra a chave da porta e inicia uns ritos estranhos para atopa-la. Eu mentalmente desejava que não a encontra-se. Ignorava o motivo, mas não tinha ganhas de entrar naquela casa. Dava-me pavor!. Mas os astros confluíram-se no auxilio duma rapaza e aquela manhã os sortilégios fizeram possível um desejo.

Os anos passam e as situações que crias superadas, volvem coma um terrível presagio. Acoplam-se todos os manifestos na tua fronte e vais cara adiante insubmissa, inserida nos passos árduos dum via crucis de género.

Realmente, ainda hoje existe uma sensação de que para conseguir algo, seja preciso coabitar, copular cuma mente insigne, privilegiada de género “macho” que che inculque a traves dum polvo explícito a intelectualidade exata na tua mente de “fêmea limitada”.  Porque ademais, para mais Inri,  é mais doado legalizar uma arma em galego na Garda Civil, que solicitar um nif para uma associação em Fazenda. E ter um excelente nível de galego é um handicap no teu curriculum vitae. Coido que, seguimos caminhando cara atrás, como dizem que andam os caranguejos, pero a diferença e que nós o fazemos para introduzir-nos no involuto paquete dos sáurios. 

"Seguimos a viver no interior de borbulhas, criadas expressamente para enganar-nos e distrair-nos com    futebol, telenovelas, beatificações e rosários".

Um dia destes  alguém me contava, que o político tinha que achegar-se ao povo; pero de verdade, não de palavra, que mentres não sucedesse isso, as cousas seguiriam mau. O povo sempre está na boca deles para conseguir votos, pero aparte disso não tem um significado real. Importa-lhes um caralho. E mentres me comentava isto, eu pensava, na minha mente fazia-se mais plasmável a realidade de que seriam necessárias moitas pessoas com esse mesmo pensamento, para mudar o mundo em algo habitável, desejável. Quiçá, se os estados fossem, por unha vez conscientes das necessidades mais apremiantes a erradicar. Implantariam uma renda básica universal, e então estaríamos falando dum bom começo para que houvesse realmente uma vida digna para todos. Mas não é essa a realidade, não. Certamente não lhes interessa. 

Seguimos a viver no interior de borbulhas, criadas expressamente para enganar-nos e distrair-nos com    futebol, telenovelas, beatificações e rosários. Tenham-nos contentes, absortos, baixo uma hipnótica pantalha para incautos. Onde não é percetível o ocaso, a morte dos cidadãs que já não lhes queda NADA. 

"Parece que é impossível escapar do malefício, pois, uma vez mais a educação toma um giro imprevisível e reconfiguram-se no encerado as bases do classismo mais atroz".

Parece que é impossível escapar do malefício, pois, uma vez mais a educação toma um giro imprevisível e reconfiguram-se no encerado as bases do classismo mais atroz. E vemo-nos percorrendo o mesmo caminho que os nossos pais. vivemos nas nossas carnes as mesmas diferenças que eles sentiram. Atravessamos idênticas alambradas e fugimos, perseguidos pelos mesmos abutres que nos jantam.

O valedor do povo, a justiça... possuem stands no interior das igrejas, enriba dos altares. Desfilam baixo palio nos dias de festa. É pois, sumamente difícil acadar a equidade nestas questões. E eu, tenho uma ladainha envolveita, esquecida no pano de limpar a suor sacra de todos os santos, e estranhamente, em ocasiões, reflexiono na possibilidade de aceder aos privilégios dos milagres.  

Uma vez tive um pesadelo, mas isso não é o pior. O pior e que permanece, continua, ainda que tenha acordado há muito tempo.

Cruz Martínez

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