Opinión

O reincidente retrouso da dor

A nossa face é a de todas elas. Acovilhamos na retina todas as discriminações, as fendas abertas que nos ancoram aos precipícios não superados. Intactas magoaduras, projetam-se nas imagens veladas que ainda nos representam. Impressas num lenço rilhado, descritivo, com um arrecendo acedo de bonecas e pinta lábios. O sorriso perfeito  enquadra-se no cliché dum pretendido preceito de diferenças.

A nossa face é a de todas elas. Acovilhamos na retina todas as discriminações, as fendas abertas que nos ancoram aos precipícios não superados. Intactas magoaduras, projetam-se nas imagens veladas que ainda nos representam. Impressas num lenço rilhado, descritivo, com um arrecendo acedo de bonecas e pinta lábios. O sorriso perfeito  enquadra-se no cliché dum pretendido preceito de diferenças.

"Vivemos uma similar situação, quando batem numa, batem-nos a todas. Não podemos obviar as maçaduras que nos restam vida, a dura realidade é um inferno, cepo sobre uma cama, uma ara de sacrifício". 

Vivemos uma similar situação, quando batem numa, batem-nos a todas. Não podemos obviar as maçaduras que nos restam vida, a dura realidade é um inferno, cepo sobre uma cama, uma ara de sacrifício. As feridas marcam-se-nos na pele com a dor insuportável da chaga que deixa o ferro que queima a carne da égua, marca de possessão. Machismo, violência inaceitável, acochado baixo a falsa aparência do amor. Sentimento que te coarta, subjuga e te converte numa mera propriedade e subsistes apegada à porção duma laranja agre. Mulher encadeada, incapaz de romper o duro jugo que a aniquila.

Amar, algo que semelha tão singelo, pode trocar-se numa pena de morte. Nunca ames até o ponto de perder a vida. A vida é o mais importante que possuis. Porque o dito “Quem te quer bem, te fará sofrer” é simplesmente uma apologia do maltrato. A extinção neste caso, é desejável, mais não conseguimos ver a luz ao final do pedrulhento caminho. O nosso, sempre foi um coletivo oprimido, contra o que se cometeram e se seguem a cometer injustiças, vulnerando-nos a cotio os direitos mais básicos.

"O dito “Quem te quer bem, te fará sofrer” é simplesmente uma apologia do maltrato".

Percorremos as ruas com a dificuldade de transportar pejos arredor dos nossos fracos  nocelhos; pero a força da rábia imprime dignidade nos nossos braços, nos nossos pés, para continuar com a luta e rematar com esta peçonha maldita. Tão instaurada está na memória coletiva que, às vezes, semelha uma tarefa impossível a de reeducar uma sociedade desigual e injusta para connosco. Há vestígios do passado que se resistem a desaparecer.

Intencionalmente fazem-nos vítimas: as leis, a igreja, o chauvinismo masculino… 

É incompreensível, mais nesta altura, as estatísticas dizem que o maltrato contra as mulheres estão a crescer entre os mais novos, isto não é nada alentador. Esta certeza, apresa ainda mais, uma alerta de emergência em cima do nosso sexo... 


Artigo publicado na revista «Lúa Nova»  nº 54 ( A.C.G. Rosalía de Castro, cornellà (Barcelona) 

Blog: http://noollardunbufoverde.blogspot.com.es/

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