Ao Nascer mulher semelha que vês com o distintivo da submissão implícito no teu corpo, com umas funções características do teu género e tudo o que se afaste do protótipo criado com a única intenção de marginar-te, de fazer de ti a concubina, a escrava perfeita para o “macho”, aquele que só escuta a sua própria voz, o prepotente, o cabrão que unicamente adquire força com o maltrato e a humilhação. Ele considera ter a potestade de decidir o futuro doutras pessoas, às que não lhes permite pensar e expressar-se.
Em vista disso, das sequências ininterruptas da violência, acolhe-te uma comoção aflitiva do espírito e parece que não existe antidínico adequado para a sua curabilidade.
Portanto, o pensamento de que as coisas mudam com o tempo é uma utopia. Realmente, o tempo não é a solução. A misoginia e os micro machismos empenham-se continuamente em agrilhoar-nos.
O pensamento de que as coisas mudam com o tempo é uma utopia. Realmente, o tempo não é a solução
A liberdade quiçá é esse paraíso afastado, invisível, perdido...
Cada dia vivemos com a sensação de habitar num mundo ao revés. Ao invés do raciocínio.
A mente faz uma viagem ao passado e esculca os momentos, as situações de ontem e percebe que os fotogramas se repetem de contínuo, até converter-se num nojo. Inevitavelmente são as mesmas vítimas e os mesmos verdugos.
Sempre que um novo amanhecer nos esperta com a fatal notícia da morte duma congénere, erguemos a mirada, com a impotência estrangulando-nos a gorja e damos justo de focinhos na metáfora oxidada do ventríloquo, aquele verme que soba os nossos pés, nos acurrala e tufa-nos no núbio da desigualdade.
E assim, os factos converte-nos em velainhas assustadas da escuridade, que temem o acosso do alacram.
Escrito feito para o 25 de novembro, 2016
“Dia Internacional contra a violencia machista”
convidada pela Marcha Mundial Das Mulleres Galiza