Opinión

Infestação

Estamos no século XXI mas de jeito incompreensível, neste momento estamos a viver o renascer dos piores instintos do mau nomeado “ser humano”. A inoculação do ódio expande-se inexoravelmente por este país, que ainda hoje persiste envolvido numa débil democracia. Construída acima de inumeráveis cadáveres, anónimos, abandonados em covas coletivas. As vítimas espargem-se pelas cunetas dum território aparentemente límpido, mas branqueado exteriormente e que semelha languescer, infesto pelo agente patógeno mais nocivo, o franquismo.

Na minha opinião, os micro-organismos convivem ao nosso carão com total liberdade e aceitação. Inevitavelmente, a escuridão de anteontem surge entre as fendas dos muros do autoritarismo. Sem dúvida, existe um evidente regresso, retrocesso ao abominado tempo da história passada e portanto, sofremos uma situação anómala. Saem-nos monstros às ruas e agridem-nos, com uma impunidade que não se entende.

Esta realidade atual, não dista tanto do fuzilamento do insigne poeta de Fuente Vaqueros Garcia Lorca, que no albor do 19 de agosto de 1936, no início da Guerra Civil foi fuzilado, segundo a informação da época: por socialista, maçom e homossexual. O poeta de fama internacional sucumbiu baixo as armas do opressor. Foi também uma das vítimas da intolerância naquele fatídico dia. O seu corpo inerte ficou soterrado num barranco, situado a uns dois quilómetros de Fuente Grande, um lugar muito difícil de localizar. Perto do 85 aniversário do seu assassinato, ainda não se conseguiu identificar os seus restos. Persiste esquecido junto a outras moitas vítimas, que aguardam uma reparação, que com certeza, chega lenta demais. Assim que, esperamos que a nova lei "memória democrática" consiga resolver esta inexplicável injustiça.

Na madrugada do 2 de julho na Corunha. Samuel um jovem auxiliar de enfermagem de 24 anos, foi assassinado por uma récua de criminais, que decidiram que tinha que morrer pelo feito de ser diferente.

Dez dias depois em Madrid. Isaac um jovem rapper de 18 anos, que tinha síndrome de Asperger. Também perdeu a vida acutilado, vítima dum cruel ataque grupal.

Portanto, a violência segue. Frequentemente, despertamos escutando notícias que nos encolhem o coração. Realmente, este tipo de crimes acontecidos por diversos tipos de discriminação, são tão assíduos, constantes, que não podemos evitar uma sensação de desproteção, tão grande que o medo faz-se cada vez mais palpável e acurrala-nos.

Do meu ponto de vista está hecatombe sucede desde a aterragem de partidos homófobos, xenófobos e misóginos no parlamento e instituições desde país. Acho que esta grave situação tem origem na proliferação alarmante desta identidade fascistoide, que tanto dano está a fazer na nossa sociedade. Por consequência, a atmosfera está a ser contaminada por um fedor râncido, tão intenso que custa muito respirar.

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