Opinión

O feminismo encoraja as mulheres

...a deixarem os seus homens, matarem as suas crianças, praticarem brujaria, destruirem o capitalismo e devir lésbicas

E dançar em sentido anti-horário ao redor das fogueiras. Rir e gastar os sapatos de tanto tacom-ponta-tacom. Voar alto.

...a deixarem os seus homens, matarem as suas crianças, praticarem brujaria, destruirem o capitalismo e devir lésbicas

E dançar em sentido anti-horário ao redor das fogueiras. Rir e gastar os sapatos de tanto tacom-ponta-tacom. Voar alto.

E ter bem regada a horta, cheia de cicuta, estramónio e verças. Quem sabe fazer um biscoito vegano de tres sabores, sabe fazer umha bomba.

"Às vezes duvido sobre até onde temos que ser pedagógicas. Sinto com respeito a essa exigência dos dominadores, de correcçom, mesura e pacifismo, um particular nojo". 

Às vezes duvido sobre até onde temos que ser pedagógicas. Sinto com respeito a essa exigência dos dominadores, de correcçom, mesura e pacifismo, um particular nojo. 

Como dizia Beauvoir, os dominadores nom som ninguém sem a cumplicidade das dominadas. Por isso, tantas vezes, as galegas aceitamos procedimentos legais espanhóis de duvidoso ou contraproducente benefício. Por isso os restos da classe trabalhadora entendem antes a violência estatal capitalista contra nós, do que a acçom direta e a autodefesa armada. E por isso parece normal que num feminicídio lento e silencioso a atitude exigida às mulheres seja aportarmos o nosso grau de areia na educaçom da sociedade, e paciência. Sempre fomos tam adoráveis como as índias servís, como os criados negros, como as sorrintes e doces amas de casa.

Que entendemos por luita feminista? 

Se me sai a veia submiso-pedagógica às vezes entro a falar com interlocutores que nom merescem a pena. Porque há determinados debates que obrigariam a rebaixar a conversa por debaixo dos direitos fundamentais. O diálogo implica escuitar com respeito e empatia a interlocutora. Por-me, para entende-la, no lugar da outra; mas há lugares a onde nom quero ir. Nom vou debater sobre a honorabilidade das minhas irmás. Nom vou debater sobre a inferioridade das negras. Nom vou debater sobre se a homosexualidade é doença.

Poderiamos também, entrar numha batalha dialética, sem empatia nem interesse em achegar posturas. Na que claramente levamos as de ganhar, porque a realidade é tozuda, e a razom está do nosso lado. Do nosso doloroso lado, que com todo, como diz a Maria Mercè Marçal, é melhor que qualquer outro: “A l'atzar agraeixo tres dons: haver nascut dona, de classe baixa i nació oprimida. I el tèrbol atzur de ser tres voltes rebel.” Amem.

Mas quem tem o poder, só fala de falar quando acha que tem as de ganhar, e fala desde o seu supremacismo, com mentiras e demagogia, com grandiloquência e legalidade. Também os unionistas espanhóis dizem que Galiza nom é umha naçom, e têm a lei para darem-se a razom a sim próprios. Eles marcam as regras e eles ganham: Os imigrantes som perigosos. Os árabes som terroristas. As feministas som exageradas. Eis, mais uma vez, a velha fórmula: categorizar a alteridade, o inimigo, as nom-pessoas. E se nom têm as de ganhar, nom fala. Invisibilizaçom. Silêncio. E impom-se a força. Sempre gostarom os poderosos, de, por se as moscas, manter o monopólio da violência.

"Quando somos tidas em conta como sujeitos, podemos jogar forte. Ser agarradas. Agarrar. Pendurar-nos das lâmpadas. Mas antes sempre media um acordo. Quando nom é assim, quando acontece o despreço, é a mulher -e só ela- quem sabe se foi ou nom violentada".

Por isso, nom quero gastar muito esforço em responder a quem queira ser juiz, e debater quando é que uma mulher é agredida. Parte médico com hematomas. Insultos “graves”. Violaçom com desgarro. Os assassinos de mulheres nom som doentes, som perfeitos filhos do patriarcado. As gentes de bem sabem que invadir o espaço ou ridicularizar umha mulher é umha banalidade; e a violência hardcore sempre é umha surpresa -por semana-. Invasom do espaço? Convite a dançar? Risas frente o desconforto? Umha vez um homem seguiu-me de perto durante mais de meia hora pola rua, nem umha palavra, nem um roce. E eu -tam sensível e delicada- sentim-me agredida. Outra mulher que conheço, pediu a palavra numha assembleia, e durante a sua intervençom tres homens levantarom-se em simultáneo, entre risas, e sairom do local. Nem um mísero contacto visual, e ela sentiu-se agredida. Em outros contextos, quando somos tidas em conta como sujeitos, podemos jogar forte. Ser agarradas. Agarrar. Pendurar-nos das lâmpadas. Mas antes sempre media um acordo. Quando nom é assim, quando acontece o despreço, é a mulher -e só ela- quem sabe se foi ou nom violentada.

Mas, isso sim, temos que ter conta de nom resultarmos punitivas com a nossa reacçom. Sermos proporcionais e mesuradas. Nom fazer como as brigadas das Black Panters, armadas metendo medo à populaçom branca nos EEUU.

Ou a ETA, intimidando polícias e carcereiros. É importante nom cairmos no abuso.

Qual é a dificuldade engadida nesta guerra? (Ou alguém acha que nom é umha guerra? Sem kalashnikovs e com tantos crimes románticos, certamente dá para ter dúvidas...).

A dificuldade engadida neste filme é que estamos apaixonadas dos nossos agressores. Som os nossos irmaos, pais, filhos, parelhas, camaradas. E quem denuncia um pai? Estariamos tolas! -Mas, como diz a Lupe Gomez, “Tolear nom é perder o sentido. É atopar outros”.- Quem denuncia um filho? Quem denúncia um camarada? Imaginades-vos umha mulher denunciando por violaçom à sua parelha?

Parvas nom somos. As vítimas nom temos vocaçom de re-vítimas. Por isso ninguém organizaria o derrocamento dum régime opressor passando-lhe o plano e os seus dados ao inimigo. Polo mesmo, umha mulher que denúncia umha agressom nom pretende por-se na praça, e já de passo, enterrar os pés e preparar as pedras ao seu redor. Mas para isso está a solidariedade. 

"Qual é a dificuldade engadida nesta guerra? (Ou alguém acha que nom é umha guerra? Sem kalashnikovs e com tantos crimes románticos, certamente dá para ter dúvidas...)".

E a sororidade. Que é umha mágia maravilhosa. É lume e oxitocina. Reconhecermo-nos nas outras, nosoutras. Amar as amantes das nossas amantes. Darmo-nos as maos entre nós, fazer um muro humano cheio de amor e raiva. E umha a umha, com dificuldade e valentia fomos abraçando-nos. Nom queriamos explicaçons. Nom as precisamos. Todas fomos agredidas. 

Mas nom por sermos agredidas somos fracas. Desde o momento em que plantamos cara à agressom, passamos de vítimas a combatentes. E aqui, já mudamos de categoria; de fieis companheiras a putas de interesses irracionais: perjudicadoras exageradas perigosas. De pacíficas galegas a inconscientes terroristas. Há níveis. Há matizes. 

Pobre homem! à imagem e semelhança do seu deus antropomorfo e ter que aturar isto. Pobres homens! Bem sabemos que poderia ser qualquer um. 

E retorçamos de volta o assunto, desviemos a atençom sobre o quotidiano e banal do machismo, nom interessa empatizar com a agredida e o corajoso do seu passo à frente. Pensemos onde fica o bom nome desse companheiro, todo lixado de cuspe feminino. No pobre maltratador apaixonado, sufrindo por cornos. Nom fazia falha tanto guiriguai. Airear trapos sujos. 

Que entendemos por luita feminista?

Miudezas banais. Pôr em questom todo o sistema de miudezas que constroem o mundo, relaçons e poderes, agora que estamos a conseguir focar a revoluçom? Nom nos despistemos. Ou é que nom vemos as prioridades? 

É mais, umha cousa assim, sem juizo, e sem legalidade (nom como Suso, que acudiu raudo e veloz aos julgados), deixa numa situaçom de clara indefensom ao raposo, sinalado por todas as galinhas. 

A correcçom política tivo que passar a segundo plano ante um caso tam perigoso. Também algumas bruxas, ao serem queimadas, sinalavam com o dedo os seus verdugos, e eles ficavam enfurecidos, por se lhes caia umha praga. Sinalar com o dedo. Isso está feio. É de sentido comum -esse sentido da moral hegemónica que tam fácil nos julga e castiga-.

"Parece mentira, que, caminhando em solitário por um sendeiro cheio de francotiradores, nom conseguiramos luzir elegância e diplomacia como uma rainha cara a guilhotina"

Porque, observemos, a quem se está a continuar julgando. 

Por outra parte, nom pretendemos centrar-nos na cabeça do camarada Suso -muito menos nos coletivos dos que faz parte-, ainda que ele soubo colher protagonismo bastante em um caso no que umhas desculpas teriam-o desbancado a um segundo plano. Poderiamos, também, acrescentar uns quantos nomes mais, todas temos vários. Mas antes disso, cumpre celebrar um senlheiro aquelarre à volta do verao, nom é, minhas irmás? A guerra contra o patriarcado tem que ser necessariamente algo festiva, para nom aborrecer-nos, dado os séculos que está a durar. Dançaram também as nossas mortas, que por certo, gozam de boa saúde. 

PS: Ah! E sobre o mal que se geriu o processo, que? Parece mentira, que, caminhando em solitário por um sendeiro cheio de francotiradores, nom conseguiramos luzir elegância e diplomacia como uma rainha cara a guilhotina. Mas e que nós caminhamos, coxeando, encorcovadas, arrastando-nos se faz falta. Mas o estilo sempre foi umha questom de primeira ordem; quanto perturva ver avançar umha tolheita. 

Escolhiu mui mala erva, quem nos queira desbravar.

Se tocam a umha, tocam-me a mim também.

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