Opinión

Luita de massas e luita eleitoral

Há 13 anos era domingo e chovia a mares.

Há 13 anos era domingo e chovia a mares. A Galiza estava comocionada pola catástrofe ecológica provocada polo Prestige e a resposta espanhola de desprezo e negligência que tingiu de toneladas de petróleo as nossas costas. 

Recupero da hemeroteca virtual de Primeira Linha um trecho da crónica da histórica manifestaçom que percorreu as ruas de Compostela:

"Mais de 250 mil pessoas colapsárom domingo 1 de dezembro no que sem lugar a dúvidas foi a maior manifestaçom celebrada na Galiza. As portagens das autoestradas tivérom que ser abertas para suavizar os engarrafamentos quilométricos provocados nas entradas de Compostela polas dezenas de milhares de automóveis que pretendiam aceder à capital da Galiza". 

Nom pretendo cair na nostalgia de umha etapa de grandes expetativas sobre as indiscutíveis capacidades do movimento popular e onde umha nova esquerda independentista emanada do Processo Espiral [apresentado em 30 de novembro de 2000] acumulava forças e ganhava referencialidade à volta de NÓS-UP. Hoje quero refletir sobre a dialética entre luita de massas e luita institucional.

As condiçons de vida da imensa maioria do povo trabalhador galego e da Galiza de dezembro de 2015 tenhem experimentado um evidente retrocesso constatável nos dados estatísticos do nosso inimigo de classe e nacional, que neste caso nom enganam. Bem ao contrário, a sua maquilhagem suaviza a realidade.

Somos um País mais pobre, mais dependente e mais periférico. Portanto, o nosso povo é mais pobre, padece maiores taxas de desemprego, de precariedade laboral e emigraçom, inferiores salários e pensons, mais acidentes laborais. Mais da metade da força de trabalho –as mulheres trabalhadoras– padecem um grau de exploraçom, marginalizaçom e dominaçom superior ao de início de século pola aplicaçom de políticas ultra-liberais que as relegam ao ámbito do trabalho doméstico.

A viabilidade económica da Naçom é menor que em 2000 a causa do incremento dos múltiplos mecanismos de sobre-exploraçom que padece Galiza pola açom combinada das políticas de Espanha e da UE.

A viabilidade económica da Naçom é menor que em 2000 a causa do incremento dos múltiplos mecanismos de sobre-exploraçom que padece Galiza

A nossa língua e cultura nacional acham-se numha situaçom de emergência. Por primeira vez o número de galego-falantes está por baixo do 50% da populaçom e é alarmante a espanholizaçom da juventude.

As liberdades individuais e coletivas tenhem sofrido grandes retrocessos com as contínuas reformas do Código Penal e as diversas leis de exceçom aprovadas polos partidos do regime, com destaque na "Lei Mordaça" e nas mudanças legislativas emanadas do "Pacto antiyihadista".

Neste quadro tam adverso, a esquerda independentista galega -único projeto genuinamente transformador e ruturista pola sua estratégica revolucionária- está organicamente enfraquecida pola crise provocada pola implosom de NÓS-UP na primavera deste ano e a ilegalizaçom de facto de Causa Galiza há umhas semanas. Porém, paradoxalmente o independentismo sociológico atinge as taxas mais altas da nossa história, mas organicamente voltamos a umha etapa similar à da segunda metade da década de noventa. Este é o quadro para iniciarmos a imprescindível reconstruçom do movimento de libertaçom nacional, sabendo que boa parte das duas geraçons que participárom na sua reconstruçom se instalarom na resignaçom, no desencanto e no derrotismo.

A esquerda independentista galega está organicamente enfraquecida pola crise provocada pola implosom de NÓS-UP na primavera deste ano e a ilegalizaçom de facto de Causa Galiza há umhas semanas

A esquerda nacionalista galega segue umha tendência semelhante. Incapaz de superar a crise política e de identidade derivada dessa hemorragia eleitoral que se iniciava na mesma altura em que o Prestige derramava milhares de toneladas de cru nas nossas praias, continua aferrada ao imediatismo eleitoral.

A sua direçom teima em negar as evidências. Após um período convulso de cisons e ruturas que enfraquecerom o seu corpo organizado, após tentar implementar umha viragem soberanista e de esquerda na sua linha política, nom consegue superar contradiçons sangrantes que só provocam que nom logre arrancar. As inercias do passado, o conformismo da sua casta e a miopia generalizada da sua direçom determinam que continue a apostar primordialmente pola via eleitoral como estrategia para nom se sabe mui bem o que, pois os seus resultados som claros. Nem se avança eleitoramente, nem se alarga a base social patriótica e de esquerdas, e o retrocesso na orientaçom e peso nos movimentos sociais e populares é cada vez maior.

Após um arriscado jogo ao longo do verao sobre a necessidade de umha "candidatura galega" para enfraquecer o pólo estatalista -onde o beirismo conduziu um setor mui importante da base social que até esse momento estava articulada à volta do nacionalismo de esquerda-, o BNG aposta todo nos resultados das eleiçons de 20 de dezembro. Manter representaçom nas Cortes espanholas tornou-se no objetivo, sem definir qual é a estratégia para reverter o processo de espanholizaçom do movimento popular e a desmobilizaçom social, as necessárias medidas para alterar o avanço da ideologia dominante entre a militáncia e base social. 

A esquerda nacionalista galega segue umha tendência semelhante. Incapaz de superar a crise política e de identidade derivada dessa hemorragia eleitoral

O fetichismo eleitoral impossibilita adotar decisons audazes, mas imprescindíveis para corrigir um rumo errado que inevitavelmente provocará, mais cedo que tarde, o naufrágio. 

Como comunista e como patriota galego desejo o melhor para o meu País, para o meu povo e para a classe trabalhadora galega. Sei que a soluçom nom passa polas fraudes do cidadanismo que só alimentam o ilusionismo eleitoral que tem desmobilizado o movimento popular, e a meio prazo provocarám umha enorme frustraçom; dessa frustraçom há de alimentar-se o neofascismo que hoje um setor da oligarquia espanhola promove à volta de C´s.

Nom é possível atingir a República Galega, de caráter socialista e superadora do patriarcado, empregando as enganosas normas do jogo eleitoral burguês. Porém, devemos empregar tal procedimento sempre que numha concreta conjuntura facilite e permita a acumulaçom de forças. Porém, todos os indicadores atuais coincidem em apontar que nesta concreta conjuntura do processo de libertaçom nacional da Galiza nom é prioritário.

O conjunto da esquerda patriótica galega tem o dever histórico de corrigirmos o "programa" depredador face à nossa plena assimilaçom e escravidom que tenhem desenhado Madrid, Bruxelas e Washington. Sem umha recomposiçom integral do campo que representamos, nom há possibilidades de reverter umha situaçom que paulatinamente virá a enfraquecer-nos mais e mais.

É necessária umha revoluçom política e ideológica no interior da esquerda patriótica galega: quebrarmos estereótipos, paradigmas e conceçons obsoletas. Há que avançar face espaços unitários de mestiçagem sem renunciarmos aos nossos particulares perfis, portanto alicerçados no pluralismo político-ideológico. 

Temos de assinar um Pacto Por Galiza, como primeiro passo para articular um Pólo Patriótico ruturista

Temos de assinar um Pacto Por Galiza, como primeiro passo para articular um Pólo Patriótico ruturista que altere as tendências em curso de avanço do espanholismo nas suas duas variantes: a reacionária, representada polo PP, PSOE e C´s, e a progressista, representada por Podemos, IU e as Marés.

Sem Pátria nom há mudança social; sem Galiza como sujeito soberano e tangível, nom haverá Revoluçom Galega. Eis o axioma.

A reorganizaçom da esquerda nacionalista e independentista é condiçom sine qua non para nom perecermos, para evitarmos a derrota estratégica face à que nos dirigimos. Que as árvores nos deixem ver o bosque!

Este processo deve ir inserido e acompanhado da reativaçom da luita de massas, sem a qual nom lograremos incrementar a auto-organizaçom do nosso povo, nem promover o imprescindível combate ideológico, elementos essenciais para passarmos à ofensiva.

Sem lugar a dúvidas a partir do dia 21 de dezembro teremos umha nova conjuntura que favorecerá avançarmos nesta direçom. Pois nada devemos esperar da ditadura burguesa espanhola que transita do monopartidarismo bicéfalo ao monopartidarismo “quadricéfalo”.

Comentarios