Opinión

Resposta ao Sr. Blanco Valdés, na língua própria da Galiza

Lamenta Roberto Blanco Valdés, no seu artigo do La Voz de Galicia de 6.3.2022, que o vigente Estatuto de Autonomia qualifique o galego como a (única) língua própria da Galiza. Argumenta o mediático professor compostelano que o facto de o galego ser (desde o século IX) a língua autóctone da Galiza nom justifica a concessom de tal privilégio designativo no texto estatutário, umha vez que um número maioritário de galegos (por rápido e recente declínio do galego) tem hoje o castelhano como (única) língua materna e habitual, de modo que o ideário galeguista de tornar o galego língua socialmente hegemónica na Galiza, e as medidas sociolingüísticas e os programas políticos para tal conducentes, seriam ilegítimos. Conclui Blanco Valdés que, nom existindo (pretensamente) conflito lingüístico na Galiza, a única posiçom sensata do galeguismo seria vindicar o uso das duas línguas, galego e castelhano, por parte dos galegos, como "ya practicamos, con toda naturalidad, cientos de miles de gallegos".

No entanto, todas aquelas pessoas que desejamos que o galego nom morra em breve prazo, deslocado polo castelhano e dissolvido nele, devemos avaliar como adequada, em justo desacordo com Blanco Valdés, a redaçom do artigo estatutário em foco, já que o mero reconhecimento de o galego ser a língua autóctone da Galiza —obviedade de caráter histórico-filológico—, num texto político e legal como o Estatuto de Autonomia, se revelaria inane. Em contraste, a identificaçom do galego que aí se efetua como língua própria da Galiza, como língua propriamente galega, projeta para esta, a partir da constataçom da sua exclusiva autoctonia, da sua menorizaçom colonial desde o século XVI e da sua ampla vigência na sociedade galega do século XX(I), umha clara potencialidade de hegemonizaçom social e de regeneraçom formal e funcional, as quais, num país minimamente normal(izado), deveriam considerar-se naturais e necessárias.

A sociolingüística e a nossa triste experiência atual ensinam que duas línguas nom podem conviver como veiculares durante longo tempo numha sociedade coesa. É evidente que o galego está, nesta altura, a caminho da extinçom, por falta de transmissom intrafamiliar e por dissoluçom no castelhano, fenómenos, exacerbados nos fins do século passado e nos princípios do atual, que, durante os últimos quarenta anos, a fictícia promoçom do galego efetuada polos partidos governantes e a inadequada codificaçom lingüística oficialista (RAG=ILG) nom tenhem refreado. Nestas condiçons, o galego, apesar das suas enormes potencialidades comunicativas, nom se tem prestigiado de forma efetiva no seio da nossa sociedade, continua socialmente atrofiado (infrautilizado) e, dos pontos de vista formal e funcional, subordinado ao castelhano, de modo que a expressom do conflito lingüístico entre galego e castelhano, bem real, fica abafada no quadro do acelerado esmorecimento do galego e da censura exercida polo sistema político (assim, este artigo nunca teria sido publicado polo jornal que publicou a peça de Blanco Valdés). Em relaçom ao conflito e ao seu abafamento, pense-se, p. ex., nos casos, assaz eloqüentes, do Hyundai Kona, comercializado na Galiza com esse nome, inócuo em castelhano, mas indecente em galego-português, e, em sentido inverso, na Feira do Polvo do Carvalhinho, oficialmente designada por esse concelho como «do Pulpo», para nom colidir com o castelhano.

Nom se preocupe, Sr. Blanco Valdés, porque, apesar da natural e promissora redaçom do artigo estatutário que você impugna, o seu cívico desenvolvimento tem ficado até agora em águas de bacalhau (como quase todas as disposiçons legislativas em prol da normalizaçom do galego). Para concluirmos, apenas lhe rogaria que nom desoriente os seus leitores, já que a «prática natural» de galego e castelhano que você laudatoriamente atribui a centos de milhares de galegos hoje nom se produz, em geral, senom a custo de umha brutal menorizaçom e desnaturaçom da língua autóctone da Galiza (v. ex. supra), prenunciadoras, se nom houver pronta retificaçom política, da sua definitiva extinçom: diga-nos, se nom, como é que 80 % dos meus alunos universitários, num inquérito recente, demonstrárom desconhecer a palavra galega cobra (em benefício da castelhana culebra), e como é que você —que, por sinal, nunca escreve em galego os seus artigos do La Voz— também nom demonstra, decerto, bom domínio do galego (formal) nas suas freqüentes intervençons orais na rádio e na televisom da Galiza (como, de resto, acontece com quase todos os tertulianos desses meios).

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