Opinión

O ‘pueblo gallego’ do Sr. López Carreira

Nestas páginas, o Sr. L. Carreira difunde a falácia de Galicia ser forma genuína galega para designar o nosso país. Ainda que a contumácia com que ele o fai nom pressagie disposiçom da sua parte para escuitar e ponderar os convincentes argumentos que contradim a sua tese, em benefício do público geral, alinhavo aqui umhas poucas ideias fundamentais que patenteiam que a única forma genuína em galego do nosso topónimo maior é Galiza, representando Galicia, nesse sentido, um evidente castelhanismo substitutório. Para chegarmos a essa conclusom, precisamos, como ponto de partida, de dados objetivos, e, em segundo lugar, de realizarmos umha inferência guiada polo senso comum.

Dados objetivos, e determinantes, sobre esta questom oferecem-no-los os estudos de historiografia lingüística disponíveis e, especialmente, os do conceituado filólogo M. Monteiro Santalha, que tem publicado vários trabalhos importantes sobre a questom (como o elucidativo folheto divulgador Proposta Galiza, descarregável na internet). Estes dados, em essência, som os que se resenham a seguir. A partir da forma latina Gallaecia, o galego, na Idade Média, instaura a forma vernácula Galiza, com pequenas variantes secundárias, enquanto o castelhano origina, num primeiro momento, a forma Gallizia, posteriormente transformada, no fim da Idade Média, em Galicia. É possível que a passagem de -ll- para -l- na forma castelhana se tenha produzido sob a influência do galego, mas essa influência só se terá verificado sobre esse detalhe concreto, porque a forma castelhana sempre retivo o iode (o i final de caráter semivocálico) que lhe é peculiar e que é alheio à forma genuína galega.

Nom cabe dúvida que, durante a Idade Média, única época em que a nossa língua se desenvolve na Galiza com normalidade, a forma galega é sempre sem iode, e a forma castelhana é com iode. Som testemunhos definitivos nesse sentido, além do registo exaustivo das ocorrências das formas toponímicas nos documentos conservados, os factos eloqüentes de o Rei Sábio escrever Galiza em galego e Gallizia em castelhano, e de os tradutores para galego da Crónica General sempre utilizarem na nossa língua a forma Galiza como equivalente da castelhana Gallizia. Já no século XV, e em documentos notariais galegos, fortemente influídos polo castelhano, começa a predominar a forma foránea Galicia, um prenúncio daquilo que, a partir do século XVI, e até ao momento presente, virá a acontecer: a usurpaçom na fala espontánea da forma genuína Galiza pola foránea *Galicia, substituiçom castelhanizante que foi paralela à do gentílico genuíno galego por *gallego (mas, olho, Sr. L. Carreira, porque Valadares, no seu dicionário de 1884, ainda regista Galiza!).

O Sr. L. Carreira afirma que é normal e aceitável que a forma Galiza fosse substituída por Galicia, o que, ele admite, pode ter-se produzido por influência castelhana. É tam normal, e admissível, e provável, como a transformaçom castelhanizante de povo galego em *pueblo gallego, também operada, a partir do século XVI, no galego popular. Se nom formos fatalistas e nom nos resignarmos à definitiva diluiçom do galego no castelhano, é claro que temos de retificar a história clínica do galego (Carvalho dixit), e restaurar todos os elementos lexicais originários hoje abastardados. Que hoje pronunciemos em galego Galiza de modo tetacista (mas também sigmatista!) nada obsta a recuperarmos essa forma genuína, ou, entom, também nom poderíamos utilizar hoje palavras similares de raízes medievais como avareza ou crueza!

            De resto, Sr. L. Carreira, também o grafema ñ, como o nh, é em galego de origem foránea (a seqüência nn que o suscita nom dá em galego o correspondente fonema palatal: canna > cast. caña, mas galego cana). E, nom sendo autóctones o ñ nem o nh, melhor, claro, o nh, porque este condi com o dígrafo occitano ch e, sobretodo, porque nos permite escrever as nossas palavras como as escrevem c. 250 milhons de pessoas no mundo: nom xoaniña (que os castelhanos, apesar do ñ, nom entendem!), mas joaninha!

Em conclusom, Sr. L. Carreira, ou «o pueblo gallego de Galicia» ou «o povo galego da Galiza». Definitiva diluiçom no castelhano ou regeneraçom plena. Nom lhe há umha terceira opçom coerente!

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