Opinión

Neologia instável, bipolar e insuficiente

Na realidade, para o capricho neológico dos aprendizes de feiticeiro do ILG, o trio de opçons descrito na peça anterior, *gocamaio, arara e *papagaio rabilongo, nom implica, necessariamente, umha única soluçom oficialista, pois, como o dicionário da RAG mostra com freqüência, aí seria possível um doblete neológico, em que, tipicamente, umha soluçom harmónica com o luso-br. é acompanhada (e tutelada) pola correspondente soluçom castelhana. Assim, p. ex., esse dicionário, junto com a soluçom regeneradora aspas, também inclui a castelhanizante *comiñas; junto com bacía hidrográfica, tb. *cunca hidrográfica; junto com canil, tb. *canceira; junto com cartón, tb. *tarxeta; junto com computador, tb. *ordenador (e *computadora!); junto com lámpada, tb. *bombilla (!); junto com orzamento, tb. *presuposto; junto com trazo ‘hífen’, tb. *guión. Mesmo no caso de os codificadores oficialistas terem optado pola neologia de invençom, às vezes, o DRAG também incorpora o correspondente castelhanismo, como acontece com a invençom *quenlla ‘tubarom’, acompanhada por *tiburón. Esta prática bipolar, que também se verifica na restauraçom de vocábulos galegos medievais que sofrêrom erosom (p. ex., no DRAG figura enteado junto com *fillastro), e que incrementa a arbitrariedade da codificaçom oficialista (porque, embora estendida, nom se aplica a todos os casos), tem por conseqüências a ineficácia comunicativa (por dispersom designativa) e a perniciosa classificaçom dos utentes da língua em dous grupos: o minúsculo dos objetores à castelhanizaçom, que utilizam de forma constante as soluçons oficialistas harmónicas com o luso-br., e a grande massa, integrada, infelizmente, polos meios da comunicaçom social e pola maior parte das pessoas, carentes de critério filológico, que usam as soluçons castelhanizantes de forma exclusiva ou alternante.

Nesta linha, caraterística da resposta da RAG=ILG à estagnaçom pós-medieval do léxico galego é a instabilidade: antes de 2012, com o sentido de ‘cabeleireiro’, o oficialismo propunha o invento *perruquería, mas, já a partir desse ano, o invento *salón de peiteado; de sentido positivo, porém, som as mudanças entretanto operadas em favor de umha soluçom harmónica com o luso-br., como em *o epígrafe > a epígrafe, *o glande > a glande, *monolito > monólito e *petroglifo > petróglifo, mas, em qualquer caso, também aqui surge umha berrante arbitrariedade: por que agora monólito e petróglifo, e ainda nom cérebro e sintoma, p. ex.?!

Berrante também é a incompletude da neologia oficialista, que evidencia o desleixo dos codificadores e o escasso desenvolvimento social do galego autonómico. Nom é só que, como vimos antes, o oficialismo, até agora, nom tenha proposto nome galego para as araras, ou que só em 2020, após quarenta anos de cooficialidade da língua, e no quadro da pandemia coronaviral, tenha argalhado, para denotar ‘surto’, o decalque *gromo, pois, de facto, contam-se aos centos os conceitos da vida quotidiana, cultural e profissional que a RAG=ILG ainda tem por nomear. Todos os galegos cultos conhecem, p. ex., as expressons cast. aguafiestas, a rajatabla, buena/mala racha, cajón de sastre, callejón sin salida, catear, chivato, colarse, dulzón, gafotas, gajes del oficio, hortera, librería de viejo, oleaje, parpadear [lámpada], potito, retoño ‘filho’, taquilla ‘armarinho’, tirita e tumbona, mas para nengumha delas o DRAG fornece equivalente galego! As pessoas orientadas polo reintegracionismo já dispomos das correspondências galegas, obtidas por coordenaçom com o luso-br. (respet., desmancha-prazeres, à risca, maré de sorte/azar, gaveta de sapateiro, beco (sem saída), chumbar, bufo, furar a fila, adocicado, caixa de óculos, ossos do ofício, piroso, alfarrabista, ondulaçom, piscar, boiom, rebento, cacifo, penso rápido e  espreguiçadeira), mas o que farám os galegos tutelados polo oficialismo? Vejamos o que o Dic. Cast.-Gal. da RAG oferece: cast. aguafiestas = gal. persoa que estraga ou interrompe unha diversión (!), cast. taquilla = gal. armario (!). Quer dizer, quando um reintegracionista di «Escrevêrom-lhe no cacifo “desmancha-prazeres”», as pessoas tuteladas pola RAG=ILG dirám: «Escribíronlle no armario “persoa que estraga ou interrompe unha diversión”». Coitadas!

Comentarios