Opinión

Galego: o comum e o particular

Agradeço cordialmente à Profa. Pilar García Negro a referência laudatória que fai ao meu livro O Escándalo do Léxico Galego no seu artigo do ND do passado 29 de novembro e, naturalmente, celebro a nossa concordáncia no reconhecimento de a coordenaçom do galego com o luso-brasileiro constituir recurso fundamental para regenerarmos o nosso idioma, na linha da melhor tradiçom galeguista. Também me apraz coincidirmos os dous na tese —já defendida, com efeito, por Carvalho Calero— de que tal coordenaçom lexical e lingüística galego-portuguesa nom deve acarretar por princípio a postergaçom daqueles traços galegos genuínos ausentes dos padrons lusitano e brasileiro. É preciso termos presente que, de facto, há um reintegracionismo galego subordinacionista que pratica tal desconsideraçom de particularismos galegos no seio da Lusofonia, com a eventual exceçom dos fónicos, em benefício de umha completa integraçom lingüística luso-galaica. Julgamos ser esse reintegracionismo subordinacionista perfeitamente legítimo e nom carente de vantagens práticas, mas, dada a constituiçom do galego, e umha vez que a Galiza apresenta separaçom política e autonomia sociocultural a respeito de Portugal, parece-nos mais natural e operativo um reintegracionismo coordenacionista, que vai decididamente ao encontro do luso-brasileiro, mas que, ao mesmo tempo, incorpora ao padrom do galego-português da Galiza, sobre a base de umha ortografia comum, e como galaicismos, certas peculiaridades fónicas, morfológicas e lexicais genuínas e significativas (num processo similar, p. ex., ao pluricentrismo do alemám, articulado em três padrons, teutónico, austríaco e helvético, substancialmente coincidentes, mas com os respetivos teutonismos, austriacismos e helvetismos).

Há um reintegracionismo galego subordinacionista que pratica tal desconsideraçom de particularismos galegos no seio da Lusofonia

Esta é a estratégia, cabalmente regeneradora do nosso idioma e preservadora da sua "galeguidade", em que, quer-nos parecer, se o nosso país fosse normal, nos reconheceríamos sem problema todos os galaicófonos cultos. Estratégia, por sinal, que, de forma coerente, adota a Comissom Lingüística da AEG, que modestamente integro, a qual, p. ex., na 2.ª ed. de O Modelo Lexical Galego, em preparaçom, inclui carabunha (P[adrom]L[exical de]Pt: caroço), fame (PLPt: fome), jantar (PLPt: almoço), ouvear (PLPt: uivar), sapo-concho (PLPt: cágado) e zichar (PLPt: esguichar) como particularismos incorporáveis, e incorporados, ao padrom lexical galego. No muito documentado livro do Prof. X. M. Sánchez Rei O Portugués Esquecido, justamente louvado pola Profa. García Negro no artigo citado, explica-se que particularismos galegos como esses, e doutros tipos, estám presentes também nos falares populares do norte de Portugal, o que sublinha a essencial unidade lingüística galego-portuguesa. Também, ao invés, devemos constatar —e isto é da máxima transcendência para o nosso idioma— que a grande maioria dos elementos basilares pertencentes ao padrom lexical de Portugal estám representados, de forma nom marginal, nos falares galegos contemporáneos.

Neste contexto, em prejuízo da funcionalidade e do prestígio do galego, o oficialismo ainda hoje nom reconhece o superior valor comunicativo das variantes áureas do nosso léxico, as presentes (nom marginalmente) na Galiza e comuns com os padrons lusitano e brasileiro: em inúmeras ocasions, nom as destaca como supradialetais entre diversas variantes geográficas galegas, ou mesmo as posterga frente a outras alheias aos padrons lusitano e brasileiro. Como exemplo, atentemos, na esteira da peça anterior, na forma áurea galega vaca-loura: o DRAG regista com o mesmo peso normativo (!) os geossinónimos cornetám, escorna-bois e vaca-loura. A RAG=ILG, assim, nom tem em conta que num dicionário bilingue só podamos encontrar ingl. stag-beetle a partir de gal-port. vaca-loura, e nom a partir de cornetão nem de escorna-bois, e parece nom dar importáncia a que, p. ex., todas as enciclopédias divulgadoras da fauna mundial editadas hoje em galego-português (em Portugal e no Brasil, é claro) só utilizem a forma galega vaca-loura, e nom cornetão nem escorna-bois, como a Grande Enciclopédia Animal (ed. Civilização, Porto), em cuja p. 564 podemos ler "A chamada vaca-loura vive em matas de carvalhos". Vaca-loura, matas, carvalhos: galego nacional, galego internacional!

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