Opinión

A exógena e anóxica tabela periódica da RAG

 

Levando em conta as atuais condiçons sociopolíticas do galego, a encenaçom que vejo desenrolar-se numha gravaçom de vídeo recentemente disponibilizada na internet afigura-se bem ridícula (e triste), à maneira da «montanha que pariu um rato»: na sede do Consello da Cultura Galega, atrás de umha mesa alongada, surgem apertadas, flanco contra flanco, perante um público que nom se mostra, seis pessoas: ocupando umha posiçom central, a Presidente da entidade anfitrioa, Rosario Álvares Branco (aqui referida em onomástica galega coerente que ela nom utiliza!); à sua direita, o Presidente da Real Academia Galega, Vítor Fernandes Freixáns (aqui referido em onomástica galega coerente que ele nom utiliza!); à esquerda da Presidente do CCG, o Diretor Geral de Política Lingüística do Governo Galego, Valentín García (quem, num gesto assaz deselegante e significativo, abandona prematuramente o ato, logo após as intervençons introdutórias das autoridades), e, finalmente, distribuídos nos extremos esquerdo e direito da mesa —em indevida posiçom periférica e subordinada—, os três professores de Química que impulsionárom aquilo que, neste ato, realizado no passado 14 de março, se estava a lançar, e cujos nomes nom será preciso referir porque, nas deficiências que aqui vamos criticar, eles nom tivérom qualquer participaçom.

 

A montanha oficialista-isolacionista, bem representada na mesa deste ato —e ainda faltava o delegado de umha quarta entidade corresponsável, a Real Academia Galega de Ciencias!— pariu um rato, um rato serôdio, desajeitado e autista, que, neste caso, é a ediçom, nos formatos de cartom grande e de cartaz, da tabela periódica dos elementos químicos em galego isolacionista [1].

 

A tabela periódica em galego, que com tantos e tam importantes padrinhos nasce agora, sofre lamentáveis taras de corpus e de status

 

Nom que a ediçom e difusom da tabela periódica em galego nom seja útil e necessária (ao contrário!), mas esta, que com tantos e tam importantes padrinhos nasce agora, sofre lamentáveis taras de corpus e de status, que, infelizmente, lhe conferem escassa viabilidade e credibilidade: por um lado, quanto ao status, um instrumento elementar de tanto interesse para a normalizaçom do galego (no ensino, na divulgaçom, na investigaçom) como este vem a lume nada menos que 36 anos depois da aprovaçom da lei de normalizaçom lingüística (!) e numha altura em que a administraçom autonómica proibe a docência em galego da Química (e da Física e da Matemática) no ensino secundário (!); por outro lado, quanto ao corpus, o galego utilizado na designaçom dos elementos químicos que integram esta tabela periódica, na esteira da tradiçom castelhanista-isolacionista do oficialismo lingüístico, apresenta, como verificaremos neste artigo, alguns notáveis défices de vernaculidade e, sobretodo, de coerência, o que se traduz numha irracional e injustificada renúncia —muito lesiva para os interesses das pessoas cultas que queremos viver de forma plena em galego— a usufruir as importantes vantagens comunicativas que naturalmente correspondem à língua autóctone da Galiza, enquanto variedade da pluricontinental língua galego-portuguesa, a qual nunca tem deixado de servir ao longo da história de veículo expressivo da ciência e da técnica.

 

Poucos acervos vocabulares testemunham tam claramente as vicissitudes políticas polas quais a sociedade galega e a sua língua autóctone, o galego ou galego-português da Galiza, tenhem atravessado ao longo da história como o integrado polas denominaçons dos elementos químicos que a tabela periódica hoje agrupa e sistematiza. Com efeito, os elementos químicos que hoje conhecemos tenhem sido descobertos (e isolados ou sintetizados) a muito diversas alturas, desde a época pré-histórica até aos fins do século XX, e, em conseqüência, a sua nomeaçom nas línguas modernas da Europa tem-se produzido em diferentes períodos, ou seja, durante a Idade Média (antes do século XVI), durante a Idade Moderna ou durante a época contemporánea, até aos nossos dias do século XXI. Assim sendo, e dada a história clínica por que tem atravessado o galego, ou seja, dado que, a partir do século XVI e até aos nossos dias do século XXI, o galego tem persistido, nom unicamente, mas si fundamentalmente, como língua coloquial e rural, socioculturalmente subordinada ao castelhano e largamente afastada da escrita e dos usos formais, pode dizer-se que a designaçom dos elementos químicos só se verificou entre nós em condiçons de normalidade (na altura certa, com a intervençom dos peritos concernidos e com autonomia designativa a respeito do castelhano) durante a Idade Média, único período da história em que, até agora, o galego tem mostrado significativa neologia autónoma, sem subordinaçom à língua de Castela.

 

Nestas circunstáncias, é muito importante constatarmos o facto gozoso de todos os elementos químicos conhecidos na Europa antes do início do século XVI terem umha denominaçom no galego contemporáneo, surgida ao longo da Idade Média, que coincide plenamente com a que hoje se utiliza nas variedades lusitana e brasileira da língua, ou seja, em português (o que, de resto, também se verifica, em geral, para todas as palavras originadas na primeira fase da nossa língua e sugere umha orientaçom de transcendental importáncia para a plena regeneraçom formal e funcional do léxico galego). Assim acontece, portanto, com os oito elementos, precocemente conhecidos, chumbo (símbolo: Pb), cobre (Cu), enxofre (S), estanho (Sn), ferro (Fe), mercúrio (Hg) [2], ouro (Au) e prata (Ag). Ora bem, no galego contemporáneo tal comunidade designativa galego-luso-brasileira surge um tanto obscurecida pola incidência sobre o atual léxico galego dos processos degradativos da variaçom geográfica sem padronizaçom e da substituiçom castelhanizante. O primeiro processo degradativo, originado na prolongada falta de modelos unificadores no galego-português da Galiza, tem feito aparecer na fala espontánea contemporánea, para designar o elemento de número atómico 16 e símbolo S, diversas variantes, além de enxofre (a comum com o luso-brasileiro culto), distribuídas pola geografia galega, sem que nengumha delas aí se tenha imposto de forma efetiva como supradialetal: axofre ~ arxofre ~ enxofre ~ xofre; o segundo processo degradativo referido tem feito surgir as formas espúrias *plomo, a suplantar em maior ou menor medida chumbo; *azufre, a suplantar em maior ou menor medida enxofre e as suas variantes genuínas, e *plata, a usurpar em maior ou menor medida o lugar de prata.

 

Como é que procede a RAG na tabela periódica agora lançada em relaçom à designaçom destes oito elementos químicos precocemente conhecidos e autonomamente nomeados em galego durante a Idade Média?

 

Como é que procede a RAG na tabela periódica agora lançada em relaçom à designaçom destes oito elementos químicos precocemente conhecidos e autonomamente nomeados em galego durante a Idade Média? Se, por um lado, com critério regeneracionista, a RAG opta por restaurar cabalmente as denominaçons galego-portuguesas genuínas de todos os elementos deste grupo, no caso da designaçom do elemento de número atómico 16 e símbolo S, aquela, na tabela periódica (como nos seus dicionários!), numha atitude irracional, internamente injustificada e gratuitamente antieconómica, opta por declarar como forma supradialetal (única), nom enxofre, a variante galega coincidente com a forma supradialetal luso-brasileira, mas a divergente xofre! Já explicamos em vários artigos anteriores como, nos casos de variaçom geográfica do léxico galego, o peso demográfico, cultural e económico incomensuravelmente superior que se associa às variantes geográficas galegas que já fôrom selecionadas como supradialetais no ámbito luso-brasileiro torna extremamente desejável para os interesses comunicativos dos galegos a declaraçom como supradialetais também na Galiza dessas variantes vocabulares comuns galego-portuguesas, sempre que elas nom forem puramente marginais na Galiza (variantes áureas do léxico galego) [3]. Por isso, nom podemos compreender a cegueira da RAG ao incluir na tabela periódica como forma supradialetal galega a variante divergente xofre, e tanto mais quanto que estamos a trabalhar, aqui, no ámbito científico, naturalmente proclive à internacionalizaçom, e que a variante galego-portuguesa enxofre nom tem, no galego contemporáneo, umha presença significativamente menor que a de xofre, como de forma eloqüente testemunha o Dicionario de Dicionarios compilado polo ILG, no qual se pode observar, entre outros aspetos, um profuso desdobramento morfológico e funcional de enxofre, de longe desconhecido nas outras variantes concorrentes: enxofre, enxofrar, enxofra, enxofradura, enxofradela, enxofradeira, enxofrador. Verdadeiramente incompreensível!

 

Quanto à designaçom dos (muitos) elementos químicos que só a partir do século XVI —início dos Séculos Obscuros na Galiza— vinhérom a ser conhecidos (isolados, sintetizados) e nomeados polos químicos, devemos constatar que, infelizmente, a RAG, na tabela periódica agora lançada (e nos seus dicionários!), de forma lesiva para os interesses comunicativos dos galegos cultos e para o prestigiamento social do galego, opta quase sempre por decalcar os correspondentes nomes castelhanos. Devemos ter em conta que a designaçom no galego espontáneo desses elementos químicos modernos, como a de todos os conceitos que entre nós surgem com posterioridade à Idade Média, se vê absolutamente afetada pola estagnaçom e suplência castelhanizante. Assim, por exemplo, o oxigénio foi isolado e nomeado só no fim do século XVIII, quando o galego já nom tinha capacidade para criar novos termos (estagnaçom neológica), de modo que, na fala espontánea galega, a sua designaçom só se pudo verificar (suplência castelhanizante) lançando mao da correspondente denominaçom do castelhano (mais ou menos deturpada: *osígheno), o qual, a partir do século XVI (e até agora!) tem funcionado na Galiza, de forma absoluta ou quase absoluta, como única língua de cultura.

 

Essa aceitaçom resignada, quase geral, da suplência castelhanizante por parte da RAG na tabela periódica [4] acarreta umha renúncia a restaurar a coerência do sistema lexical galego, o que, por sua vez, se repercute numha daninha renúncia a tirar proveito das enormes vantagens expressivas (e económicas, e de prestigiamento social!) que derivam de colocarmos em sintonia comunicativa o galego culto com as variedades lusitana e brasileira da nossa língua (c. 250 milhons de utentes). Dado que, como antes vimos a respeito da designaçom dos elementos químicos precocemente conhecidos, todas —ou quase todas— as unidades lexicais presentes no galego espontáneo contemporáneo que surgírom na época medieval som comuns a galego, lusitano e brasileiro, a restauraçom da coerência do sistema lexical galego produz-se quando a habilitaçom no galego culto de unidades lexicais que devem denotar conceitos de surgimento posterior ao início do século XVI (como as referentes a muitos elementos químicos!) se efetua de forma harmónica com o luso-brasileiro. Para patentearmos esta circunstáncia, propomos a seguir um enunciado galego representantivo da configuraçom lingüística geral e que, para efeitos argumentativos, se transcreve na norma RAG-ILG (ex. 1b), acompanhado dos enunciados equivalentes em «português» (ex. 1a) e em castelhano (ex. 1c):

 

[Ex. 1a] Pt.: «Para respirarem oxigénio, as minhocas e algumas lesmas sobem à superfície da terra quando chove muito.»

[Ex. 1b] Gz.: «Para respiraren osígheno [soluçom castelhana do galego espontáneo] / osíxeno [soluçom castelhana da tabela periódica da RAG], as miñocas e algunhas lesmas soben á superficie da terra cando chove moito.»

[Ex. 1c] Cast.: «Para respirar oxígeno, las lombrices y algunas babosas suben a la superficie de la tierra cuando llueve mucho.»

 

Observa-se neste enunciado que, deixando de parte as divergências ortográficas (sempre «artificiais», e que podem ser superadas com relativa facilidade) e as eventuais divergências fónicas (naturais em línguas muito estendidas, e que nom delimitam comunidades lingüísticas diferentes no seio de idiomas extensos), todas as palavras (e traços gramaticais!) som comuns a «galego» e a «português» [5], exceto polo que di respeito à denominaçom do elemento químico gasoso, a qual, no enunciado «galego», por se referir a um conceito posterior ao início do século XVI, consiste na correspondente palavra castelhana suplente (oxígeno), mais ou menos alterada (osígheno/osíxeno), enquanto no enunciado «português» tal denominaçom consiste numha soluçom habilitada autonomamente no seio da língua (oxigénio). Por conseguinte, expurgarmos neste enunciado galego a forma osígheno ou osíxeno e incorporarmos, no seu lugar, a soluçom oxigénio (ou, na norma ortográfica RAG-ILG, oxixenio) contribui para tornar, de umha maneira racional e respeitosa com a natureza do galego, o vocabulário deste enunciado coerente (e plenamente internacional!), pois ele, assim, passa a ter todas as palavras anteriores ao início do século XVI galego-portuguesas (coincidentes com o luso-brasileiro) e todas as palavras posteriores ao início do século XVI também galego-portuguesas (coincidentes com o luso-brasileiro), operaçom (coordenaçom neológica galego-portuguesa) e resultado (coerência sistémica e internacionalizaçom expressiva), estes, que a RAG, em benefício dos utentes de galego, deveria fazer extensivos a todo o léxico galego.

 

Infelizmente, a castelhanizaçom neológica é tam acusada na tabela periódica da RAG que ela mesmo determina o surgimento de umha denominaçom que nom se ajeita às caraterísticas estruturais do galego: *cinc

 

Infelizmente, a castelhanizaçom neológica é tam acusada na tabela periódica da RAG que ela mesmo determina o surgimento de umha denominaçom que, de modo injustificado, nom se ajeita às caraterísticas estruturais do galego. Referimo-nos, nomeadamente, a *cinc, decalcada do castelhano cinc (ou zinc), e que, evidentemente, nom apresenta umha forma bem adaptada aos usos prosódicos da nossa língua, a qual, em geral, evita as palavras terminadas na consoante [k]. É claro que, neste caso, como acontece na generalidade dos casos, a correspondente soluçom luso-brasileira, zinco, encaixa mais bem em galego, poupando-nos, aliás, a eventuais vulgarismos prosódicos do tipo *cin (e por mais que essa soluçom zinco em galego se revele homófona do numeral cinco: como no caso de rebelar/revelar, o contexto de uso facilita em cada caso a interpretaçom pertinente!) [6].

 

E, por se ainda o despropósito nom fosse suficiente, no caso de osíxeno, a RAG, além de aceitar a suplência castelhanizante, procede de umha maneira totalmente desastrada, ao introduzir umha forma vulgar, própria da coloquialidade descuidada, na tabela periódica e na linguagem especializada, a qual, aliás, se revela internamente incoerente e desvirtua por completo a análise etimológica, tam importante na terminologia científica. Com efeito, dado o caráter culto, é até científico, do conceito ‘oxigénio’, e dada a tardia incorporaçom da sua designaçom à língua, o que se espera em galego é que o radical inicial (grego) do vocábulo, oxi-, nom perda, polo menos na língua cuidada, o seu valor fónico original [ks] (cf. oxímoro no dicionário da RAG) [7]; ora, se se alegasse a naturalidade de que, em galego, a denominaçom do oxigénio, pola sua freqüência de uso relativamente elevada no discurso nom especializado, apresente umha «relaxaçom fónica» trasladada à grafia (cf. italiano ossigeno) —o que parece pouco convincente (cf. complexo no dicionário da RAG)—, entom, a RAG ainda teria de explicar a crassa incoerência de propor, junto com osíxeno, as soluçons da mesma série óxido, oxidar e oxidación (e nom ósido, osidar e osidación), as quais (sobretodo, óxido!), nom apresentam na linguagem corrente umha freqüência de uso e umha realizaçom fónica claramente diferentes da designaçom do oxigénio (cf. italiano ossido, ossidare, ossidazione)! [8]. E umha vez que o radical oxi- fica travestido em osi- no osíxeno da RAG, a análise etimológica já fica totalmente baralhada: se já polo peregrino banimento nas normas isolacionistas da letra jota e das seqüências ge e gi (etimológicas e internacionalizantes!), o formante grego -gen(i)o, que significa ‘originar’, há de passar para o que parece o formante -xeno, que significa ‘estrangeiro’ (!), a caprichosa transmutaçom do formante grego oxi- ‘ácido’ naquilo que aparenta ser o elemento latino os(s)i-, passa a evocar o sentido de... ‘osso’, como em ossículo e ossificaçom!

 

Em (triste) conclusom, a RAG, na tabela periódica dos elementos químicos recentemente apresentada ao público —exógena e anóxica!—, como na mais recente versom do seu dicionário, despreza a idiomática, coerente, económica e emancipadora coordenaçom lexical e neológica com as variedades lusitana e brasileira da nossa língua, o que acarreta daninhas conseqüências para a regeneraçom formal e funcional do galego e lesa os interesses de todas as pessoas cultas que queremos viver plenamente na língua autóctone da Galiza. Para pormos o ramo a este artigo, queremos salientar a irracionalidade e incoerência de tal atitude transcrevendo a seguir o princípio quarto da «Introdución» às Normas Ortográficas e Morfolóxicas do Idioma Galego, da própria RAG:

 

4. As escollas normativas deben ser harmónicas coas das outras linguas, especialmente coas romances en xeral e coa portuguesa en particular, evitando que o galego adopte solucións insolidárias e unilaterais naqueles aspectos comúns a todas elas. Para o arrequecemento do léxico culto, nomeadamente no referido aos ámbitos científico e técnico, o portugués será considerado recurso fundamental, sempre que esta adopción non for contraria ás características estruturais do galego. As escollas deben decidirse de acordo cun criterio de coherencia interna, a fin de que o galego común non resulte arbitrario e incongruente. («Introdución» das NOMIGa, 2003: 12)

 

 

Notas

[1] A RAG, dobrando-se perante o castelhano, chama tábua (= táboa) periódica àquilo que, com um critério plenamente regenerador, e de harmonia com o lusitano e com o brasileiro, em galego devemos denominar tabela periódica (a voz tabela abona-se pola primeira vez em galego-português em 1690, durante os Séculos Obscuros padecidos polo galego, e provém do latim tabella -ae ‘tabuínha, quadro de madeira ou tabuleiro de jogo’). Em lusitano e em brasileiro, variedades geográficas (nacionais) socialmente estabilizadas do galego, existe, naturalmente, a palavra tábua (1.ª abonaçom: séc. XIII), mas esta voz, além de designar umha peça de madeira, em sentido figurado e especializado (e deixando de parte raros usos com o significado geral de ‘quadro de dados’, como em tábua de matérias [de um livro]), só se emprega, na prática, com o sentido restrito de ‘quadro de números para achar resultado de operaçons’, como acontece em tábua de logaritmos, tábua trigonométrica ou tábua de marés.      

[2] Além da voz mercúrio, de origem latina, também existe em galego-português, como arcaísmo, azougue, de proveniência árabe.

[3] Veja, entre outros artigos internéticos, «As variantes áureas do léxico galego» (https://www.sermosgaliza.gal/opinion/carlos-garrido/variantes-aureas-do-lexico-galego/20150601170142037883.html) e «Os gastrópodes marinhos deflagradores de incêndios da rádio e televisom galegas» (https://www.aeg.gal/opiniom/item/141-os-gastropodes-marinhos-deflagradores-de-incendios-da-radio-e-televisom-galegas).

[4] Umha feliz exceçom é constituída polas denominaçons que a RAG atribui aos gases nobres, pois, de harmonia com a etimologia (e com o luso-brasileiro), as formas propostas som de acentuaçom grave (néon [= neon], árgon [= argon], etc.), e nom aguda, como prefere o castelhano. Ora bem, o que, entom, cabe perguntarmos à RAG é como é que ela ainda regista no seu dicionário neologismos científicos pós-medievais de acentuaçom antietimológica e castelhanizante (e discordantes com o luso-brasileiro), como *cerebro (correto: cérebro), *eritrocito (correto: eritrócito), *píloro (correto: piloro), etc.?

[5] Salvo pola existência de pequenas variantes geográficas, que estám presentes tanto em Portugal como na Galiza (p. ex., ocorrência de quando e de muito em território galego).

[6] Por isso, também é inconcebível que na atual ediçom do dicionário da RAG se proponha, no artigo “muniqués”, *Múnic como exónimo galego correspondente ao al. München, em vez da soluçom luso-brasileira Munique, perfeitamente idiomática em galego. Os exónimos surgem como adaptaçom da forma original às caraterísticas da língua recetora, e que palavras (patrimoniais) galegas findam em -ic? Observe-se que, se a língua aplicasse o mesmo critério que a RAG para engendrar as formas *cinc e *Múnic, em vez de choque, teríamos *choc; em vez de Henrique, *Hénric; em vez de dique, *dic; em vez de pique, *pic; em vez de alambique, *alámbic; em vez de tabique, *tábic; em vez de bolxevique, *bolxévic, e, em vez de menxevique, *menxévic!

[7] Na realidade, a RAG, na mais recente versom do seu dicionário, e como fruto da última reforma das suas normas (largamente desaproveitada), junto com osíxeno, também resenha a forma oxíxeno. No entanto, embora a forma oxíxeno seja mais correta que osíxeno (v. infra), para a RAG, infelizmente, osíxeno é claramente a forma preferente, e oxíxeno a secundária, umha vez que ela unicamente incluiu osíxeno na tabela periódica agora lançada e só s.v. “osíxeno” o seu dicionário oferece a correspondente definiçom (s.v. “oxíxeno”, o consulente é remetido para o verbete “osíxeno”).

[8] Na realidade, a estranha forma osíxeno parece ter sido originalmente promovida no padrom isolacionista da RAG e do ILG polo desejo de se evitarem grafias como exixir ou oxíxeno, em que a duplicaçom do xis seria exigida polo aberrante banimento nas normas isolacionistas da letra jota e das seqüências ge e gi. Deste modo, poderia dizer-se que os codificadores isolacionistas resolvêrom sacrificar a natural realizaçom fónica culta destas palavras (cf. Pt.+Br. exigir, oxigénio; cast. exigir, oxígeno) em benefício de um abuso «menos rechamante» do grafema xis.

Comentarios