Opinión

Exclusom na Galiza da 'inteligência da língua' (2/2)

Se, como vimos na anterior entrega, o uso na nossa língua do aberrante exónimo *Múnic (em vez do correto Munique) é indicativo de como o marcado défice de inteligência lingüística do oficialismo prejudica a idiomaticidade do galego e a sua autonomia a respeito do castelhano, a manifestaçom de indigência expressiva oficialista que a seguir expomos, além de contribuir para a subordinaçom (e dissoluçom) castelhanista do galego, também compromete a sua funcionalidade.

Nas verdadeiras línguas de cultura, em muitos casos, os sinónimos diferenciam-se entre si, de forma nítida, polas respetivas freqüências de uso, bem conhecidas polos utentes cultos da língua, de modo que, assim, estes sabem qual dos sinónimos devem priorizar e qual outro podem reservar para introduzirem ocasionalmente variaçom expressiva. Tal é o caso, em castelhano, de enfermedad e dolencia, palavras que, embora coincidentes em denotarem o fenómeno mórbido, se diferenciam claramente entre si polo facto de enfermedad ser, dos dous sinónimos, o «nom marcado», o de uso freqüente, enquanto dolencia representa um vocábulo de uso mais raro, o qual, por exemplo, o redator de um texto divulgador utilizará algumha vez como variante estilística, para nom repetir em excesso o termo enfermedad. De resto, de forma lógica, dos dous sinónimos, o castelhano reserva o menos freqüente, mais «rebuscado», como base de um uso verbal culto e elegante que significa ‘sofrer defeito’, ou seja, adolecer de (ex.: «el informe adolece de imprecisión», mas enfermedad de Alzheimer, enfermedad del coronavirus de 2019 e «el chico ha enfermado»).

Por sua vez, em galego, os vocábulos homólogos, enfermidade e doença, nom tenhem chegado a nós, na fala espontánea, incólumes, antes tenhem sofrido, por culpa da histórica castelhanizaçom, obliteraçom ou, no mínimo, deturpaçom da sua forma legítima (*a enfermedá), de modo que hoje é preciso, para já, restituir-lhes a feiçom genuína, mas isso nom chega, porque, para umha plena regeneraçom funcional da língua, também se revela indispensável atribuir-lhes, como vimos, freqüências de uso relativas. É claro que, para tal, a estratégia natural e vantajosa do ponto de vista sociolingüístico consiste na coordenaçom com as variedades lusitana e brasileira, nas quais, de facto, circulam hoje com normalidade as formas galegas genuínas doença e enfermidade, e aquela com freqüência nitidamente superior a esta, que, assim, em contraste com o que acontece em castelhano, constitui a variante estilística «rebuscada» e, portanto, também a base da fórmula verbal culta e elegante enfermar de ‘sofrer defeito’ (ex.: «o relatório enferma de imprecisom», mas doença de Alzheimer, doença coronaviral de 2019 e «o rapaz adoeceu»).

Agora a questom é: a respeito das freqüências de uso relativas em galego dos sinónimos doença e enfermidade, e a respeito da fórmula verbal conexa que significa ‘sofrer defeito’, que orientaçom oferece a RAG? A resposta, escandalosa, é nengumha, ou nengumha de préstimo, porque o oficialismo nom enxergou ainda este problema! Nestas circunstáncias, os utentes (des)orientados pola RAG ficam condenados à indefiniçom, insegurança e ineficácia expressivas e, tendencialmente, a umha dura subordinaçom ao castelhano. Veja, assim, o título de umha notícia publicada no Nós Diario de 22.2.2020 (pág. 7), em cuja redaçom avulta a imposiçom do esquema vocabular castelhano (para maior desgraça, aqui mal usado!): «A atención á saúde mental adoece de solucións efectivas [sic] no hospital de Conxo» (redaçom correta: «O atendemento aos doentes mentais enferma de ineficacia ...»).

Afirmávamos, na anterior entrega, que a face ruim da política, através da atroz marginalizaçom oficialista do reintegracionismo, tem determinado na Galiza um significativo défice de inteligência lingüística, o qual hoje empece a homologaçom do galego como verdadeira língua de cultura e prejudica, de forma dramática, a sua valorizaçom e sobrevivência social. Quando a política usurpa o papel da ciência e lhe impinge o seu particular programa, os resultados costumam ser desastrosos. A imposiçom das doutrinas disparatadas do genético estalinista T. D. Lysenko (1898-1976) obstaculizou durante largos anos o progresso da investigaçom biológica na Uniom Soviética. Quanto mais tempo a indecente exclusom social do reintegracionismo continuará a comprometer a emancipaçom e o futuro do galego?

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