Opinión

Exclusom na Galiza da inteligência da língua (1/2)

Em 1983, um conselheiro da cultura que fora ativo colaborador do regime franquista (Filgueira Valverde) e fazia parte de um governo autonómico que estava nas mãos de um partido político chefiado por um ex-ministro de Franco (Fraga Iribarne) decretava a oficialidade para o galego de umhas normas de sinal isolacionista elaboradas polo ILG e pola RAG, outorgava potestade (nom confundir com autoridade!) a esta última instituiçom para realizar umha codificaçom do galego que havia de ser seguida pola administraçom autonómica, e deixava sem efeito as normas, de vocaçom conciliadora das tendências isolacionista e reintegracionista, que em 1980 arquitetara umha comissom de técnicos presidida por Carvalho Calero, reprimido polo franquismo. Com esse início da exclusom oficialista do reintegracionismo, da marginalizaçom dos intelectuais reintegracionistas, começava, também, de facto, e em larga medida, umha exclusom da inteligência lingüística do galego que se prolonga até ao momento presente e que tem causado efeitos enormemente nocivos para o corpus e para o status da língua autóctone da Galiza, para a sua regeneraçom formal e funcional e para o seu prestigiamento social.

Tal exclusom da inteligência da língua determina no modelo de galego difundido pola oficialidade umha fortíssima castelhanizaçom e marcadas pobreza e incoerência expressivas, variando as correspondentes manifestaçons entre o subtil e o verdadeiramente obsceno. Neste artigo e no seguinte, analisamos duas interessantes manifestaçons desse défice, as quais detetamos num número recente do Nós Diario (22.2.2020) e que, embora enquadradas no setor subtil da escala, som índice claro de disfuncionalidade e de berrante subordinaçom ao castelhano.

Reparemos no seguinte título da colaboraçom publicada na página 23 do jornal acima referido: «Múnic 2020». Aqui, o autor da peça, (des)orientado polo oficialismo, utiliza o exónimo galego que a RAG habilitou (DRAG, s.v. “muniqués”) para denotar a capital da Baviera, cidade que, em alemám, se chama München. Um exónimo é o nome próprio que designa umha entidade (lugar, obra, personagem, etc.) numha língua diferente da original, polo que, de forma lógica, tal denominaçom deve ajustar-se às caraterísticas do sistema lingüístico recetor, nele encaixando com plena naturalidade. Dado que o elenco de exónimos disponíveis numha modalidade lingüística corresponde ao setor culto e, em larga medida, moderno do seu léxico, em galego arrastamos desde o século XVI (início da postergaçom sociocultural) um enorme défice de exónimos, o qual, hoje, devemos colmatar mediante umha habilitaçom maciça e criteriosa. De que modo o faremos? Como acontece, em geral, com todos os neologismos pós-medievais, a estratégia habilitadora mais natural (a que garante soluçons idiomáticas e coerentes), mais económica e mais vantajosa do ponto de vista sociolingüístico consiste na coordenaçom constante com o léxico luso-brasileiro. Assim, p. ex., em correspondência com Brussel, usaremos o exónimo galego-português Bruxelas; com Antwerpen, Antuérpia (diferente do cast. Amberes!); com Köln, Colónia, e com München… Munique!

Foi assim que procedeu a RAG com München? Tristemente, nom! O que fijo neste caso, como em milhentos outros, foi decalcar servilmente a aberrante soluçom castelhana Múnich (mal adaptada do francês!), com um leve retoque insubstancial, Múnic, e isso apesar de, nas suas NOMIG, a RAG declarar como princípio codificador a harmonia neológica com o português e, sobretodo, apesar de a soluçom decalcada *Múnic colidir berrantemente com o génio do galego, que nom admite no seu seio palavras vernáculas findas no fonema /k/: assim, da mesma maneira que, em galego, choque nom poderia ser *choc, nem alambique, *alámbic, também nom é possível, sem abastardar a língua, acomodarmos um castelhanizante *Múnic em prejuízo do congenial Munique!

Esse, pois, é caso pertencente ao setor subtil da escala de indigência expressiva suscitada polo défice de inteligência lingüística do oficialismo; o extremo obsceno dessa escala é integrado polo facto de a RAG, de 1982 a 2003, durante 21 anos (!), ter chamado *«o cu» (= cast. «el culo»; ingl. «the arse») à letra quê, e polo escándalo de ela ter inventado, para dizer «o ícone», o indecente neologismo *«a icona», «a i-cona» (= cast. «el icoño»; ingl. «the icunt»)! Como é que tem sido possível todo isto?! É claro: por causa da política, da face ruim da política!

Comentarios