Opinión

Escandalosa neologia de invençom

Mais um traço essencial da resposta da RAG=ILG perante a estagnaçom pós-medieval e a conseqüente suplência castelhanizante padecidas polo léxico galego é que, num número nom desprezável de casos, aquela instituiçom recorre, de forma caprichosa, à chamada neologia de invençom, em vez de pôr em prática o expediente neológico regenerador, a coordenaçom lexical com o luso-brasileiro. Esta neologia de invençom consiste em que o «laboratório» da RAG=ILG, comandado por Manuel González e Antón Santamarina, para designar um dado conceito do ámbito da estagnaçom —arbitrariamente selecionado—, engenha e decreta umha denominaçom que nom coincide com a correspondente castelhana nem com a do luso-brasileiro, quando esta última se revelaria perfeitamente idiomática e funcional em galego. A criaçom de neologismos de invençom pode efetuar-se mediante a cunhagem de um novo significante, como a RAG=ILG fai com *beirarrúa 'faixa lateral da rua para os peons' (cast. acera; Pt+Br passeio), ou mediante a atribuiçom de um valor semántico novo a um significante já disponível, como aquela fai com *quenlla 'peixe cartilagíneo pleurotremado' (cast. tiburón; Pt+Br tubarão), pois que(n)lha designa tradicionalmente em galego, de modo exclusivo, o tubarom da espécie Prionace glauca. Deve ter-se em conta que, em bastantes casos, a invençom oficialista de neologismos é feita através de umha imitaçom estreita do castelhano: *canceira (< cast. perrera; Pt+Br canil), *codia terrestre (< cast. corteza; Pt+Br. crusta), *gromo (epidémico) (< cast. brote; Pt+Br. surto), etc.

É deplorável que a RAG=ILG recorra à neologia de invençom, porque, além de nom restituir a coerência ao sistema lexical galego (v. peça anterior), e de nom apresentar vantagem sociolingüística significativa, ela constitui umha estratégia vincadamente antieconómica, pois a sua execuçom exige investir economias e esforços para cunhar, difundir e aprender e usar as soluçons, sendo nula a retribuiçom comunicativa suscitada por tal investimento, em agudo contraste com a coordenaçom com o luso-brasileiro, que capacita o galego para a comunicaçom internacional. Umha «pedra» de escándalo adicional é que, com bastante freqüência, os neologismos de invençom da RAG=ILG nom se revelam idiomáticos ou funcionais em galego, o que patenteia a falta de competência desses codificadores. Mesmo o neologismo de invençom emblemático do oficialismo, *beirarrúa 'passeio de rua', nom deixa de apresentar certo perfil defeituoso. Com efeito, se Santamarina tem explicado que o modelo aproveitado para cunharem *beirarrúa foi o vocábulo beira-mar, na realidade tal nom é exato, porque, evidentemente, a beira-mar nom fai parte do mar, enquanto que a *beirarrúa si tem de fazer parte da rua. Por isso, o neologismo de invençom que pro¬priamente seguiria o modelo de beira-mar teria de ter sido, para o oficialismo, *beiracalzada (!).

Assim, neologismos de invençom oficialistas que acusam défice de idiomaticidade som, p. ex., *Múnic, pois este exónimo apresenta um fonema final insólito e inarticulável em galego (cf. palique; correto: Munique), *salón de peiteado (cast. peluquería; Pt+Br cabeleireiro), dado que só o castelhano habilita hoje particípios como substantivos denotativos de açom (o correto teria sido penteaçom) e *a (emot)icona (!!), que representa o cúmulo da inépcia dos codificadores oficialistas, umha vez que o seu efeito cacofónico, similar ao de uti¬lizar em castelhano o hipotético neologismo *el (emot)icoño, é devastador (correto: o (emot)ícone).
Exemplo de neologismo de invençom oficialista que se revela disfuncional é *flocos de millo 'graos de milho estalados polo calor' (galego correto: pipocas), já que flocos de milho, logicamen¬te, ham de ser o que em inglês se denomina corn flakes, quer dizer, flocos de milho que se tomam com leite no almorço (como, de facto, a minha caixa de corn flakes do Eroski, rotulada em galego, indica!). Também chamar aos tubarons, em geral, *quenllas nom funciona porque tal soluçom é ambígua, de modo que se a zoóloga subordina a palestra que vai proferir ao título «Adaptacións evolutivas das quenllas», o público fica sem saber se vai ouvir falar sobre os tubarons, em geral, ou só sobre a espécie Prionace glauca (que(n)lha, tintureira), em particular. Enfim, se calzóns (< cast. calzoncillos) som cuecas de cavalheiro, como a RAG=ILG pretende, entom, nos comentários dos locutores da TVG/RG, os (e as) desportistas vestem no campo de jogo trajes menores!

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