Opinión

Desgraça e vergonha: o tratamento oficialista da variaçom geográfica do léxico galego (1)

Todos os idiomas assentes sobre um terrritório um pouco extenso apresentam na fala variaçom geográfica do seu léxico, e o galego nom é exceçom. Essa variaçom determina que, para designar um dado conceito, no território concorram, ocupando áreas definidas, duas ou mais variantes (nalguns casos, até c. 80!), surgidas de um étimo comum (ex.: ameneiro ~ amieiro...) ou de étimos distintos (ex.: doninha ~ garridinha ~ salta-paredes...), as quais som sinónimas perfeitas entre si. No galego contemporáneo, o número de casos de tal variaçom e o número global de variantes geográficas som muito elevados, porquanto a falta de cultivo escrito e de umha padronizaçom efetiva se tenhem prolongado durante vários séculos, até ao momento presente, o que hoje em dia determina no nosso léxico umha notável dispersom designativa que lhe detrai coesom e eficácia comunicativas. Além disso, essa disfuncionalidade contrasta rechamantemente, para desdouro da imagem do nosso idioma, com a coesom e a eficácia designativas do castelhano difundido na Galiza, o qual, por nom ter raízes naturais no nosso país, entre nós apenas surge como língua-padrom, livre da variaçom geográfica que ele apresenta, na fala popular, no seu domínio originário.

Nos idiomas normalizados, como o galego-português de Portugal, o cultivo escrito e as intervençons padronizadoras tenhem cristalizado historicamente um padrom lexical, em que a variaçom geográfica é superada, sobretodo, mediante a consagraçom, em cada caso, de umha das variantes como supradialetal, variante que é reconhecida por todos os utentes cultos da língua e usada de modo constante nas situaçons formais. No nosso idioma, apesar da grande dispersom do léxico tradicional, selecionarmos agora em cada caso de variaçom geográfica umha das variantes como supradialetal, para estabelecermos o léxico-padrom, é muito fácil, porque, como mostramos na monografia Léxico Galego: Degradaçom e Regeneraçom (2011), em cerca de 95 % dos casos, algumha das variantes galegas (ex.: amieiro, doninha) coincide com a forma supradialetal luso-brasileira. Estas palavras galegas já consagradas como supradialetais no ámbito luso-brasileiro, por serem usadas por cerca de 250 milhons de pessoas em todo o mundo, representam em cada caso as variantes galegas de maior peso demográfico (ecuménico) e constituem verdadeiras formas áureas do nosso léxico. Para suscitar um efeito projetivo da Galiza nos países da Lusofonia e um efeito injetivo da Lusofonia na Galiza (que permita regenerar a expressom galega), a significaçom cultural e económica destas variantes áureas do léxico galego é tal que, exceto em raros casos em que tais formas forem marginais no galego, se revela claramente vantajoso priorizá-las, mesmo que na atual Galiza nom sejam as mais freqüentes entre os falantes iniciais. Precisamente, em O Modelo Lexical Galego (2012), a Comissom Lingüística da Agal (desde 2016, da AEG) acometeu a tarefa de definir de maneira cuidadosa um padrom lexical baseado, para superar a variaçom geográfica, na seleçom das variantes áureas galegas como formas supradialetais, com as poucas exceçons que certas particularidades espaciais e metodológicas tornavam indispensáveis.

Em triste contraste, a RAG ainda nom se inteirou do problema da variaçom geográfica do léxico galego ou, em qualquer caso, nom lhe sabe dar soluçom, de modo que, a esse respeito, a sua praxe codificadora, como veremos, está inçada de inibiçons e de intervençons despropositadas. De facto, os máximos responsáveis da codificaçom oficialista reconhecem tal ineptidom nas seguintes palavras, indecentes, da introduçom ao Vocabulario da Lingua Galega (2004:45): «Recoñecemos que entre os sinónimos prohibidos, os tolerados e os admitidos non hai unha fronteira clara; fóra dos casos en que se poden aplicar razóns obxectivas moi claras, a maioría dos casos teñen unha fronteira borrosa e meter unha voz dentro dunha das tres categorías depende bastante da intuición (ou, se se quere, da teima) persoal. A dos dous responsables deste dicionario [Manuel González e Antón Santamarina] non coincidían sempre, así que unhas veces ía a dun por riba e outras a doutro (oída a opinión dos axudantes). Hai daquela moita materia para discutir e discrepar, á parte das incoherencias e erros e disparates que puidesémos [sic] cometer, que non serán poucos.». De envergonhar!

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