Opinión

Os "Cow-boys" da Galiza selvagem

Os costumes ganadeiros e pastoris da Galiza tradicional revelam a importância que tivo o comunal e a democracia paroquial. Inseparáveis dos montes e pastos comunais, as cabanas ganadeiras –de gado miúdo os vacuno e cavalar- nom só constituiam um dos principais recursos económicos da aldeia ou paróquia, senom que também expressavam a sua identidade: poucas imagens representavam melhor a uniom comunitária do que o símbolo vivo da vezeira caminho do monte.



para Isidro e Sino

Os costumes ganadeiros e pastoris da Galiza tradicional revelam a importância que tivo o comunal e a democracia paroquial. Inseparáveis dos montes e pastos comunais, as cabanas ganadeiras –de gado miúdo os vacuno e cavalar- nom só constituiam um dos principais recursos económicos da aldeia ou paróquia, senom que também expressavam a sua identidade: poucas imagens representavam melhor a uniom comunitária do que o símbolo vivo da vezeira caminho do monte. É no marco deste comunitarismo que surgem os sequestros rituais de gado ou as chegas de bois.

A vacada do concelho

Nom eran habituais cabanas ganadeiras de propriedade coletiva, com exceçons como a dos cavalos de Sabucedo. Ali, desde que se lhe atribuiu ao Sam Lourenço a salvaçom dos cavalos da paróquia da peste, há umha greia coletiva cujos beneficios se repartem entre o santo e a igreja paroquial. O que sim se fazia em muitíssimas paróquias e nas aldeias concentradas do Suleste era manter a propriedade privada do gado mas pastoreá-lo em comum, na instituiçom democrática conhecida como ‘vezeira’. Basicamente podia organizar-se de duas maneiras: turnando-se cada casa para encarregar-se do gado, ou contratar em comum um pastor profissional. A primeira era a opçom escolhida em Chandrexa de Queixa ou Qualedro, onde no ano 1963 cada casa tinha que pastorear um dia por cada três cabeças de gado que tivesse na vezeira. Tinham pastor de pago nos Ancares, encarregado da vezeira das vacas; em Quiroga; na Gudinha, a Mesquita e Oimbra, onde lhe chamavam ‘pegureiro’; o unas paróquias do concelho de Aviom, onde cobravam umha cunca de milho por vaca. Raimundo de Mouriscados, um dos últimos pastores do Suído, recorda que baixava um dia cada 8 ou 14 do monte para descansar na aldeia. Devia impressionar ver a ‘vacada do concelho’ de Manzaneda, de mais de mil cabeças atendidas por seis vaqueiros que trabalhavam, de dous em dous, em turnos dumha semana. Permaneciam no monte do 24 de maio ao 24 de setembro, cobrando-lhe a cada casa médio ferrado de centeio (1).

"Devia impressionar ver a ‘vacada do concelho’ de Manzaneda, de mais de mil cabeças atendidas por seis vaqueiros que trabalhavam, de dous em dous, em turnos dumha semana. Permaneciam no monte do 24 de maio ao 24 de setembro"

A vezeira de Viana do Bolo

Conhecemos bem como a vizinhança do Viana do Bolo de começos do s. XX autogeria em comum o seu gado graças a La aldea gallega (2), o monográfico de Nicolás Tenorio. A ‘res da aldeia’ organizava-se em três concelhos abertos convocados nos dias do Sam Marcos, Sam Pedro e Sam Martinho. Neles o alcaide de bairro recontava os animais, apontando-os numha tabuínha chamada ‘tarxa’ com uns guarismos especiais. Pagavam um pastor entre todos, que cuidava a res nos pastos comunais e na serra entre o dia da Santa Isabel e o remate da castanheira. Cada casa tinha, por cada sete cabeças de gado, que manter um dia o pastor e os seus cans. A casa punha um ‘costeiro’, um rapaz que subia a comida ao pastor na serra. Quando a casa à que lhe tocava a rolda se negava a cumprir com as suas obrigas, era rapidamente submetida a umha espécie de julgamento popular, que como máxima sançom podia excluir da vezeira –ali chamada ‘velilha’- o gado dessa casa e prohibir-lhe pacer. No concelho de Sam Pedro tratavam o arranjo do curro do monte e o chouço no que dormia o pastor. Ou bem o arranjavam entre todos, ou bem faziam um leilom, adjudicando o trabalho a um operário que cobrava em centeio e castanhas secas.

A vida dos vaqueiros

No caso das vezeiras de ovelhas e cabras o usual era levá-las ao monte e trazê-las a diário. À primeira hora o pastor tocava ‘a vezeira’ com um corno ou umha buguina para reunir o rabanho; em Búrbia, nos Ancares, juntavam a vezeira tocando o sino até 1995. Com o gado que pacia mais longe da aldeia, o pastor ou pastora passava com ele vários dias sem baixar à aldeia. Dispunham de curros no monte com chouços ou cabanas para passar a noite. As das serras do Suído, Monte Maior ou Faro de Aviom –algumhas do s. XVII- estám bem estudadas por numerosos etnógrafos.

O pastoreio podia ser trabalho de meninhos e meninhas. Quando iam às vacas “às vezes durmiam no monte; quando era assim buscavam “habitaçons” herdadas de pastores antigos e baptizadas com nomes tam evocadores como “guritas dos mouros”, “casinha do rei”, ou o mais medonhento de “tapadas dos mouros” (3). Destes jovencíssimos vaqueiros escreveu Pergerto Saavedra que “a sua socializaçom cultural” ou “educaçom sentimental” escapava ao controlo da família para ir parar à comunidade, ou melhor, aos “royaumes de la jeunesse”, que ofereciam aos seus membros umha espécie de fogar de identidade coletiva. Raparigos de oito ou nove anos já tinham as suas “sociedades”, o que nom era impedimento para que tratassem com outros que estavam entrando na mocidade; a diário presenciavam o acoplamento dos animais, dormiam em casas nas que (…) se desconhecia o conceito ou moda da intimidade. Neste contexto, os pequenos de um e outro sexo aginha mostravam umha desenvoltura que escandalizava os moralistas rigorosos, e o refrám ja dizia que “quando ao homem lhe aponta o boço, e à nena a teta, cascaralheta”” (4).

Inseparável do pastor era o ‘cam da vezeira’, geralmente um mastim forte e grande mantido em mao comum pola aldeia e orgulho da mesma. Alguns como os de Castro Laboreiro tinham muita zona pola sua beleza. Precisamente desse concelho arraiano temos a magnífica história de vida das suas pegureiras por Manuel Domingues (5). Lamentavelmente, e em contraste com a abondosa etnografia material, na Galiza temos pouco conservadas as histórias de vida duns vaqueiros que pouco a pouco vam morrendo. Histórias apaixonantes, como a dos vaqueiros da parte de Lourençá, autênticas etno-personagens –como os gaiteiros ou os sacristáns- que iam a cavalo, durmiam no monte, tinham fama de bravos e gabavam-se se todo tipo de fazanhas eróticas (6).

"O pastoreio podia ser trabalho de meninhos e meninhas. Quando iam às vacas “às vezes durmiam no monte; quando era assim buscavam “habitaçons” herdadas de pastores antigos e baptizadas com nomes tam evocadores como “guritas dos mouros”, “casinha do rei”, ou o mais medonhento de “tapadas dos mouros”

A chega de bois

Dispor dum touro em comum na aldeia reportava muitos beneficios: para além da reproduçom do gado próprio a baixo custo, podia gerar beneficios quando solicitavam os seus serviços gente de outras paróquias que nom tivessem ‘touro de concelho’, como lhe chamavam em Calvos de Randim (7). Mas o boi nom era só umha instituiçom comunitária, também era um símbolo da identidade vizinhal, um campeom do “patriotismo de paróquia” (8) que se enfrontava com o doutras nas chegas de bois. Manuel Mandianes descreve a instituiçom polo miúdo, pondo-a, acertadamente, em relaçom com outros rituais de territorialidade como as pelejas nas festas: “Hai tensións entre as aldeas da mesma parroquia, pero sobre todo entre as aldeas de parroquias diferentes e próximas a causa dos límites dos montes en man común.

Nas aldeas de preto de Loureses existe a “louta dos bois”; cada aldea ten un boi e prepárao para o día da loita, a comenzos de maio. Ese día a xente de cada casa están xuntos. Os bois comenzan a loitar, a xente berra. Hai xente que vén de lonxe. É unha festa, unha espécie de desorde. Serve para reforza-la cohesión da aldea, a xente séntese unida en torno ó seu boi e, ó mesmo tempo, é a ocasión de encontros coa xente doutras aldeas” (9).

O sequestro de gado

Dada a importância económica dos pastos comunais, estes eran estreitamente vigilados e defendidos, por exemplo, da intrusom de gado de outras paróquias. Nesses casos os moços sequestravam o gado forasteiro, e exigiam aos seus donos um resgate simbólico, ocasiom de chanças e divertimento. O impressionável Pedro González de Ulloa, administrador das propiedades da casa de Monte Rei no s. XVIII, descreve assim estes sequestros rituais: “… uno de los asuntos en los que suelen ocupar los días festivos estas gentes del bronce, es en multar a su arbitrio los ganados mayores y menores del contorno que pasan fuera de los límites respectivos. Esto se hace por entre semana; deposítase lo que se exige, y en llegando el día festivo el juez pedáneo junta al concejo, vanse a la taberna, y allí (…) llegan los dueños del ganado a desempeñar las prendas que se dieron antes para libertar las reses encorraladas; encuentran a los congregantes como convidados a las bodas de Peritoo; empiezan a trabarse la lengua y luego de las manos”; continua Pedro González carregando contra o “costoso alboroto” destes “corsarios terrestres” que transformam o resgate “en embriaguez y borrachera, matándose para esta función castrones, carneros y vacas” (10).

Ocaso e resistência

As instituiçons vaqueiras, e toda a sociedade camponesa, entram em grave crise com a progressiva penetraçom estatal, cercamento dos comunais planos de florestaçom. É um processo mui dilatado no tempo, e que se corresponde com a mais prolongada guerra da resistência indígena: derribo de muros, incendios, arrancado de árvores, sabotagem, dessobediência civil… Defender o monte era defender a vida, e quando se perdia, toda a comunidade entrava em crise. A repovoaçom florestal de Návia de Suarna, e Cervantes em 1955, por exemplo, supugeram a ruína: em menos de dez anos perderam quase 25% da populaçom, a guarda civil patrulhava o monte e impunha severíssimas multas aos pastores, etc. (11). Mas os episódios desta resistência som já outra história.

NOTAS: 

1. Veja-se a entrada “Pastoreo” em X. R. Mariño Ferro e X. M. González Reboredo, Diccionario de Etnografía e Antropoloxía de Galiza, Vigo, Nigratrea, 2010, pp. 344-347.
2. Tenorio, N. La aldea gallega, Cádis, Imp. Manuel Álvarez, 1914.
3. Allegue, G. Galicia: o oficio de vivir, Vigo, Nigratrea, 1998, p. 191.
4. Saavedra, P. La vida cotidiana en la Galicia del Antiguo Régimen, Barcelona, Crítica, 1994, p. 200. Sobre a vezeira como trabalho dos nenos, num dos relatos de Ánxel Fole incluídos em Terra brava intenta-se convencer assim a um neno das ventagens de morar na vila: “Eiquí non tes que leva-la facenda ó pasto, nin axudar a saca-lo esterco, nin fague-la veceira, nin escorbella-las fabas…”.
5. Domingues, M. O pegureiro e o lobo. Estórias de Castro Laboreiro. Núcleo de Estudos e Pesquisa dos Montes Laboreiro, 2005.
6. Nom mui longe de ali, na Fonsagrada, criou-se Frank Braña, companheiro de Clint Eastwood em vários westerns.
7. Risco, V. “Servicios comús. O gando”, em Etnografia. Cultura espiritual (em Historia de Galicia, Buenos Aires, Nós, 1962).
8. Fariña Jamardo recorda na Baixa Limia o significativo noome dun destes touros: “Sansom”.
9. Mandianes Castro, M. Loureses. Vigo. Galaxia, 1984, p. 98.
10. González de Ulloa, P. Descripción de los estudios de la casa de Monterrey en Galicia, Madrid, CSIC, 1950, pp. 29-30.
11. González Reboredo, J. M. e J. Rodríguez Campos. Antropología y etnografía de las proximidades de Ancares (vol. 1). Deputación de Lugo, 1990, p. 132.

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