Opinión

Dilma Rousseff e Marina Silva como reflexo de um povo brasileiro pobremente rico

Não é à toa que o Brasil é um país multicultural, multiétnico, multilíngue, multidão, multiroubo, multicontraditório...multitudo. Peço perdão pelos neologismos, mas eu não poderia perder a piada.

Não é à toa que o Brasil é um país multicultural, multiétnico, multilíngue, multidão, multiroubo, multicontraditório...multitudo. Peço perdão pelos neologismos, mas eu não poderia perder a piada.

"As eleições de 2014 refletem o atual estado brasileiro: sem roupa e de cara lavada"

As eleições de 2014 refletem o atual estado brasileiro: sem roupa e de cara lavada. Precisou uma desgraça (a morte do ex-candidato à Presidência Eduardo Campos, 49 anos, num acidente aéreo em 13 de agosto de 2014) para termos a presença da menina pobre Marina Silva (PSB) finalmente se impondo sobre a general Dilma Rousseff (PT). 

Estamos diante de tantas diferenças entre as duas candidatas que me cansa só de pensar em ter que escrevê-las neste artigo. Mas esta é a minha tarefa. Vamos lá.

Mais uma vez temos um candidato à Presidência da República nos moldes “Lulinha, pobre e trabalhador - uma história de luta e dor”, embora de partidos políticos diferentes.

Marina Silva, que também tem origem pobre, filha de uma dona de casa e de um seringueiro, viveu com sua família em uma palafita, no seringal Bagaço (70km de Rio Branco). Analfabeta, estudou no Mobral (projeto de alfabetização do regime militar) e se alfabetizou somente aos 16 anos. Seu primeiro emprego foi de empregada doméstica. Queria ser freira, mas abandonou a ideia. Foi educada no catolicismo, mas professa o cristianismo evangélico, sendo membro da Igreja Assembleia de Deus. Formou-se em História pela Universidade Federal do Acre.

Pelo mais recente levantamento do Ibope, Marina Silva tem 33% das intenções de voto. Quem são os seus prováveis eleitores? Evangélicos e outros religiosos (excluindo os católicos). Pessoas que ganham mais de cinco salários mínimos e que possuem o ensino médio e superior. Na região Sul e Sudeste do Brasil, Marina Silva tem a preferência, assim como entre os eleitores mais jovens (dos 16 aos 34 anos).

"Marina Silva, desperta o interesse de uma parcela da população que em nada se assemelha ao seu passado".

Curiosamente, Marina Silva, desperta o interesse de uma parcela da população que em nada se assemelha ao seu passado.

Já Dilma Rousseff (que não tem em sua origem nada de pobre) nasceu numa família de classe média alta. Filha de uma dona de casa e de um advogado e empreendedor búlgaro, viveu em Belo Horizonte (Minas Gerais) e estudou no Colégio Nossa Senhora de Sion. Aos 17 anos ingressou na Politica Operária, uma organização oriunda do Partido Socialista Brasileiro. Formou-se em Economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Recorrendo novamente à pesquisa recente do Ibope, Dilma Rousseff tem 37% das intenções de voto. Quem são os seus prováveis eleitores? Católicos. Pessoas que ganham de um a dois salários mínimos e que possuem o ensino fundamental. Na região Nordeste, Norte/Centro-Oeste, Dilma tem a preferência, assim como entre os eleitores mais velhos (acima dos 35 anos).

Dilma Rousseff, é mais popular com a parcela da população que não tem o mesmo histórico de vida que ela.

Com um país das dimensões do Brasil, com pensamentos e cultura tão diversificados, poderíamos pensar que é comum as pessoas se atraírem pelos seus opostos. Errado.

"Dilma Rousseff, é mais popular com a parcela da população que não tem o mesmo histórico de vida que ela".

Os “ricos”, jovens e mais estudados, querem a menina de infância pobre e batalhadora (conforme fizeram com Lula), porque não suportam a ideia de ter novamente Dilma por mais 4 anos. Não é porque Marina desperta o interesse dessa parcela da população. É que, dentre as opções apresentadas, ela é a menos pior, já que a reeleição de Dilma representa mais 4 anos de clausura num trem fantasma. Essas pessoas que teoricamente têm discernimento para a tomada de decisões, percebe que mais 4 anos com Dilma é continuar secando gelo. Preferem arriscar numa nova presidente e, sobretudo, tirar o PT do poder.

Os “pobres”, velhos e menos estudados, querem a general (conforme fizeram com Collor), porque ela é aquilo que muitos nunca poderão ser. “Dilma tem ‘cara’ de presidente. Marina parece uma faxineira” – ouvi uma vez de uma senhora. Depois Dilma tem um trunfo que atrai os pobres: Bolsa Família (principal programa social do governo federal). O brasileiro, que tem menor potencial de discernimento, tem medo de um novo presidente acabar com os programas de Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida e por aí vai. Acreditam que “time que está ganhando, não se mexe”. Estas pessoas não têm noção do rumo da eleição. Desde que elas continuem com seus benefícios, ganhando o seu dinheirinho e a geladeira cheia, o resto não importa.

Com essa pesquisa, fica claramente demonstrada a ignorância política do povo. As pessoas não sabem em quem votar, porque não conhecem o processo eleitoral. Não estudaram, não se interessam e não participam ativamente da história política do país. Falta discernimento. Falta estudo. Falta critério. Falta tudo. O Brasil é daqueles países que mesmo que um dia não haja pobreza financeira, haverá a eterna pobreza da mente e do espírito. Falta muito para nos preparamos como cidadãos. No momento somos apenas habitantes de uma nação governada por incógnitas que fazemos o favor de eleger a cada 4 anos.

"Deixamos de ser uma colônia na teoria, mas na prática voltamos à estaca zer"o.

A mesma população tão crente e temente a Deus, curiosamente se divide quando o assunto é pena de morte. Na pesquisa, 46% do povo brasileiro é a favor da pena de morte.

Paradoxalmente, o mesmo povo que mata, é contra a legalização da maconha (79%), contra a legalização do aborto (79%) e rejeita o casamento entre pessoas do mesmo sexo (53%).

Com este triste panorama é que podemos perceber que o Brasil está longe de alcançar o status de país desenvolvido. Ainda que atualmente estejamos num patamar de “país em desenvolvimento”, o nível básico da educação permanece no de “país em subdesenvolvimento”, de onde ninguém faz o menor esforço para sair. Deixamos de ser uma colônia na teoria, mas na prática voltamos à estaca zero.

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